Taxas longas de juros sobem com piora do risco fiscal e pressão no câmbio

Os juros futuros de longo prazo subiram nesta terça-feira, enquanto os curtos ficaram estáveis. A curva ganhou inclinação, influenciada por uma série de fatores que passam pela piora do risco fiscal e político, fluxo de saída no câmbio, IGP-M elevado e compasso de espera pelo comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira. Embora nenhum destes isoladamente tenha sido determinante para justificar a alta das taxas de longo prazo, o conjunto justificou uma postura cautelosa do investidor. Na véspera de decisão da política monetária, a aposta quase consensual se mantinha na manutenção da Selic em 2%, com os agentes atribuindo grandes chances de retirada da orientação futura (<i>forward guidance</i>).

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 3,240% (regular) e 3,255% (estendida), de 3,266% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2023 fechou com taxas de 4,995% (regular) e 5,025% (estendida), de 4,986% na segunda-feira. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 6,455% para 6,49% (regular) e 6,54% (estendida) e a do DI para janeiro de 2027, de 7,084% para 7,12% (regular) e 7,19% (estendida).

"O fluxo de saída no câmbio deu uma contaminada nos juros, mas não que não tivesse outros motivos para subir", disse o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepomuceno. O cenário local é cheio de indefinições.

Uma delas é disputa pelo comando da Câmara, cujo vencedor terá o poder de organizar as prioridades na pauta de votação. Caso o deputado Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, vença, a expectativa é de relançamento da CPMF. O imposto, defendido pela Economia, é extremamente impopular e pode dificultar ainda mais a governabilidade.

Nesse contexto, os agentes temem pelo futuro das matérias sobre contas públicas e o retorno do pagamento do auxilio emergencial. Também candidato à presidência da Câmara, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) disse que Paulo Guedes deve fazer uma proposta por nova rodada do benefício neste início do ano.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, vê oportunidade de vendas na ponta curta da curva, que, segundo ele, continua "esticada para cima", para quem aposta em alta moderada da Selic em 2021 inferior à 3,5%. "A elevação dos juros futuros da semana passada já deve ter considerado a retirada do <i>forward guidance</i>", disse. Para a instituição, a Selic deve passar a subir só em maio.

Maio também é a previsão para o início do aperto da taxa básica do economista-chefe do ING para a América Latina, Gustavo Rangel. Para ele, o Copom deve retirar <i>forward guidance</i> na quarta-feira, mas "exigirá habilidades retóricas inteligentes" por parte dos diretores para reduzir o impacto sobre a curva a termo. "As autoridades tentarão introduzir uma inclinação hawkish sem gerar expectativas no mercado de um ciclo de aperto antecipado e estendido", disse.

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