Os juros futuros se firmaram em baixa no período da tarde desta segunda, 24, puxados pela aceleração da queda das taxas dos Treasuries e declarações do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, buscando tranquilizar o mercado com relação ao andamento da pauta econômica no Congresso. O alívio nos prêmios de risco, porém, não teve respaldo de liquidez. A agenda do dia esvaziada aqui e lá fora e o pesado calendário de indicadores e eventos na semana inibiram a montagem de grandes posições.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,20%, de 13,22% no ajuste de quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2025, em 11,86%, de 11,96%. A taxa do DI para janeiro de 2027 caiu de 11,94% para 11,86%. A do DI para janeiro de 2029, de 12,32%, para 12,21%.
Apesar de fechado na sexta-feira quando o exterior operava normalmente, o mercado doméstico não precisou hoje fazer ajustes, na medida em que o pregão das bolsas lá fora esteve relativamente tranquilo. A segunda-feira também foi de poucos destaques e, como os próximos dias têm agenda carregada, o investidor preferiu aguardar para se posicionar.
O comportamento dos Treasuries acabou servindo de referência, principalmente a partir do começo da tarde, quando os yields aprofundaram o recuo. "A agenda aqui é fraca e lá fora chamou a atenção o índice de atividade do Fed de Dallas com queda inesperada", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. O índice geral de atividade comercial do Federal Reserve Bank de Dallas para manufatura desabou a -23,4 em abril, o piso em nove meses. O consenso de mercado era de que melhorasse a -14,6, vindo de -15,7 em março.
O dado ajudou a aliviar a curva dos Treasuries, embora não tenha alterado a aposta quase unânime de que o Federal Reserve vai elevar os juros em 25 pontos-base na reunião da próxima semana. O dólar também mostrou queda tanto ante divisas fortes quanto emergentes, fechando a R$ 5,0409 (-0,35%) no segmento à vista.
O exterior já ajudava quando as taxas tocaram mínimas à tarde, atribuídas a declarações do ministro Padilha, que, embora longe de serem bombásticas, acabaram fazendo preço num dia mais esvaziado. Segundo ele, a eventual instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos de 8 de janeiro não deve atrapalhar o andamento dos trabalhos no Legislativo. "Não vai atrapalhar duas questões fundamentais", disse, referindo-se ao calendário de votação do marco fiscal – dia 10 deve ser apresentado o relatório na Câmara – e o relatório da reforma tributária esperado para 19 de maio.
O grande temor do mercado, e que pressionou a inclinação da curva na semana passada, era justamente que CPMI tirasse o foco da regra fiscal. "O medo agora é que o arcabouço deixe de ser prioridade no Congresso. Sinalizações contrárias acabam sendo bem-vindas", disse uma economista. Outra afirmação de Padilha que agradou é a de que o presidente Lula vai definir, juntamente com o ministro Fernando Haddad (Fazenda), a indicação às diretorias do Banco Central quando retornarem da viagem a Portugal. "Tenho certeza absoluta que vindo dessa dupla – Lula e Haddad – só podemos esperar nomes muito qualificados tecnicamente e que tenham o compromisso com a saúde das contas públicas e a responsabilidade social", afirmou Padilha.
Ao longo da semana, o mercado se prepara para uma bateria de indicadores aqui e no exterior, com atenções também voltadas a Brasília. "Os agentes econômicos estão aguardando com expectativa a divulgação de mais detalhes sobre o arcabouço fiscal, bem como uma possível medida de aumento de tributos para melhorar a arrecadação do governo federal", afirma Paulo Silva, economista do Efí Bank. Porém, pondera que há preocupações sobre uso de bancos públicos para subsidiar empréstimos, o que pode afetar prejudicar a transmissão da política monetária, gerando pressão sobre a trajetória futura dos juros.
No Boletim Focus, a mediana das estimativas para o IPCA 2023 subiu de 6,01% para 6,04%, mas ficou estável para 2024 (4,18%), 2025 (4,00%) e 2026 (4,00%).