Após subirem por quatro sessões consecutivas, os juros futuros fecharam em queda nesta terça-feira, 24, com o mercado se apegando aos sinais de desaceleração da atividade global e perspectiva de redução no ritmo de aperto monetário pelo Federal Reserve, além do bom comportamento do câmbio, para corrigir parte do movimento dos últimos dias. Internamente, houve leitura positiva da abertura do IPCA-15 de janeiro, contra um índice cheio que veio acima da mediana das estimativas. No mais, o quadro local se mantém adverso para tomadores de risco, mantidas as preocupações fiscais e com relação ao futuro do Banco Central.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,49% (mínima), de 13,56% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,85% para 12,69%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,73%, de 12,91% ontem. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 12,94%, de 13,14%.
As taxas já oscilavam com viés de baixa pela manhã, a despeito do IPCA-15 de 0,55% em janeiro, de 0,52% em dezembro e acima do consenso, também de 0,52%. Mas o sinal de queda se firmou mesmo durante à tarde, na medida em que os ativos internacionais passaram a refletir com mais firmeza as preocupações com o ritmo da economia global.
Os receios com a economia global pressionaram os preços do petróleo para baixo, assim como os yields tanto dos Treasuries quanto dos bônus europeus. Desse modo, o exterior e o câmbio acabaram servindo de pretexto para aparar excessos nos últimos dias. "Só as curvas fechando lá fora e o real valorizado é que explicam esse movimento do DI. Porque, internamente, nada ajuda", resume a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira.
Por aqui, o que poderia servir de alívio é a leitura dos preços de abertura do IPCA-15, com por exemplo, os serviços subjacentes avançando menos do que o esperado. Para a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, o qualitativo do índice é mais positivo do que a magnitude do indicador sugere, citando por exemplo movimento de Alimentação e Bebidas (0,69% para 0,55%), cuja desaceleração acontece em um período sazonalmente crítico e sugere a inexistência de pressões atípicas no curto prazo.
Pereira, da MAG, menciona como vetores de tensão doméstica não só os sinais de internalização do risco Argentina, a partir dos acordos fechados ontem com o governo brasileiro, mas também a percepção de que, por suas declarações, o presidente Lula pode estar começando o mais populista dos seus mandatos. "Ele está com uma fala muito agressiva, com muita convicção e zero moderação, sem indicação de que pretende ouvir outras opiniões", disse. Ontem, a declaração de Lula, de que o BNDES vai voltar a financiar projetos para ajudar empresas brasileiras no exterior e "países vizinhos a crescer", estressou os mercados. Hoje, o banco negou que haja demanda para financiar "serviços de infraestrutura" no exterior.