Os juros futuros fecharam em queda nesta terça-feira, 26. Apesar da volatilidade nos yields e da disparada das commodities, a curva esteve ancorada pelas boas perspectivas para o cenário de inflação e Selic, enquanto o mercado aguarda as novas medidas da Fazenda em compensação ao impacto da derrubada do veto do presidente Lula à desoneração da folha de pagamentos pelo Congresso. A liquidez, já reduzida na semana passada, ficou hoje ainda mais fraca na medida em que se aproxima o fim do ano.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 10,010%, na mínima, de 10,082% no ajuste de sexta-feira; e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 9,64% para 9,57% (mínima). O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 9,68% (de 9,73%) e a do DI para janeiro de 2029, em 10,04%, de 10,09%.
O volume escasso foi uma característica comum a todos os mercados nesta terça-feira, mas não inibiu o bom desempenho do câmbio e da Bolsa, e, de forma mais comedida, do mercado de juros, que já vinha devolvendo bastante prêmio nas últimas semanas e agora precisa de novos gatilhos para andar. De todo modo, o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, afirma que fatores como a queda da mediana da Selic 2024 no Boletim Focus, a redução dos preços do diesel pela Petrobras e a expectativa pelo IPCA-15 na quinta-feira contribuíram para manter as taxas em queda moderada.
"Na quinta-feira, o mercado espera um número bom para o IPCA-15 de dezembro, o que ajuda a explicar o comportamento da curva hoje", afirma. Na Pesquisa do Projeções Broadcast, a mediana é de 0,25%, ante 0,33% em novembro. Para o fechamento de 2023, a mediana aponta 4,56%, variação abaixo do teto da meta de 4,75% e bem inferior aos 5,90% de 2022.
Pela manhã, o anúncio da redução nos preços do diesel, de R$ 0,30 por litro, a partir de amanhã, foi importante para que as taxas se descolassem da pressão de alta da curva americana. O efeito sobre o IPCA, em janeiro, será praticamente nulo, de 0,01 ponto porcentual, dado que o diesel tem peso pequeno no indicador. Mas a notícia animou quanto a uma possível queda nos preços da gasolina, que, aí sim, teria efeito importante na inflação ao consumidor. Além disso, o reajuste em baixa ajudaria a minimizar nos preços o impacto da reoneração do PIS e Cofins no diesel a partir de janeiro.
No exterior, a pressão de alta dos Treasuries trouxe volatilidade à curva pela manhã, mas foi esvaziada depois do anúncio do diesel. À tarde, os yields inverteram o sinal e passaram a cair, reforçando o sinal de baixa das taxas locais.
Na Pesquisa Focus, chamou a atenção redução mediana da Selic em 2024, quebrando uma rigidez mostrada há várias semanas, ao passar de 9,25% para 9,0%. As medianas para 2025 e 2026 permaneceram em 8,50%. "Além da melhora do quadro inflacionário de curto prazo, a crescente perspectiva de redução dos juros nas economias avançadas ao longo dos próximos meses favorece o alívio à política monetária local", assinalou a analista Luiza Benamor, da Tendências, no serviço on line da consultoria.
Na reta final da sessão, as taxas de curto e médio prazos ampliaram o ritmo de queda e a curva voltou a precificar Selic terminal de 9%, com o ciclo de queda se estendendo até a primeira reunião do Copom em 2025, segundo o economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano. Não houve gatilho aparente para o movimento, e profissionais alertavam que a liquidez fraca poderia estar potencializando efeitos de operações às vezes pontuais.
Ainda na Focus, quanto ao IPCA, a mediana para 2024 teve melhora marginal (3,93% para 3,91%), enquanto as de 2025 e 2026 seguiram em 3,50%. "Vale lembrar que a partir da próxima reunião do Copom, nos dias 30 e 31 de janeiro, a inflação de 2025 começa a preponderar no horizonte de atuação da autoridade monetária", afirmam os economistas Étore Sanchez, Guilherme Sousa e Matheus Alexandre, da Ativa Investimentos. Eles explicam que a rolagem do horizonte relevante fará com que o desvio ponderado estimado recue de 35 pontos para 28 pontos.
Nesta semana saem medidas do governo para compensar as perdas de arrecadação resultantes da desoneração da folha de pagamentos até 2027, após o Congresso derrubar o veto de Lula. Cruz, da RB, afirma que é preciso ter cuidado na avaliação. "Várias medidas que foram colocadas tinham inicialmente um potencial de arrecadação bem maior do que o que foi aprovado efetivamente."