Ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira usou supostamente empresas de fachada em paraísos fiscais como Panamá e Ilhas Virgens Britânicas para permitir a lavagem de dinheiro de amistosos da seleção brasileira.
Os dados fazem parte das investigações realizadas pelo Ministério Público da Espanha que, há um ano, prendeu indivíduos implicados em uma suposta rede de corrupção internacional que envolvia a CBF. Desde o ano passado, o inquérito especificamente sobre Teixeira foi transferido da Espanha para o Ministério Público Federal, do Brasil.
Mas o inquérito continua em Madri contra os demais envolvidos, entre eles o ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell. Preso em maio de 2017, ele tem insistido em pedidos para que possa acompanhar seu julgamento em liberdade. Mas a Audiência Nacional, em Madri, tem rejeitado todos seus recursos. Joan Besolí, um de seus parceiros comerciais detido por fazer parte do esquema, também tem tido seus recursos recusados.
Nesta quarta-feira, a Justiça espanhola uma vez mais negou a liberdade aos dois espanhóis implicados no caso. Mas, nos documentos usados para justificar a decisão, os juízes revelam agora parte do esquema criado supostamente com a participação de Teixeira.
A investigação começou na Espanha depois que, em 2013, a reportagem do Estado revelou com exclusividade como Rosell criou uma empresa – a Uptrend – para receber milhões de euros, supostamente por serviços prestados durante mais de uma dezena de amistosos do Brasil a partir de 2006. Os documentos ainda apontam que “Rosell foi o máximo responsável por uma organização dedicada a lavagem de dinheiro.”
“Assim, entre 2007 e 2011, foram realizadas operações financeiras tendentes a ocultar a verdadeira procedência e titularidade de fundos por um importante total de 14,9 milhões de euros (cerca de R$ 64 milhões), que se desviaram em prejuízo da CBF e a favor de seu presidente, o sr. Ricardo Terra Teixeira”, disse o documento da Audiência Nacional datado de 23 de maio de 2018. “Graças a Rosell, se organizou um emaranhado de contas para ocultar os fundos”, denuncia. Ele nega qualquer irregularidade, enquanto seus advogados na Espanha insistem que ele ajudou a CBF a aumentar sua renda.
Para os procuradores espanhóis, porém, o esquema servia para desviar recursos e uma parte substancial iria justamente para Teixeira, na época presidente da CBF.
REDE – Agora, em novos detalhes revelados, a Justiça espanhola aponta como a Polícia de Andorra chegou à constatação de que Teixeira era o principal beneficiário da empresa Arvenel International Limited, criada nas Ilhas Virgens. A empresa recebeu da Fundação Regata US$ 862 mil (R$ 3,1 milhões) entre 2008 e 2010, além de outros 219 mil euros (R$ 945 mil) em 2011.
A Fundação Regata, por sua vez, recebia seus recursos da Uptrend, empresa em nome de Rosell e que mantinha um contrato envolvendo a seleção. Nesse mesmo período, foram transferidos para ela 1,6 milhão de euros (R$ 6,9 milhões) e US$ 310 mil (R$ 1,1 milhão).
A rota desse dinheiro termina nos Estados Unidos. A Arvenel transferiu US$ 2,1 milhões (R$ 7,6 milhões) para a sociedade Silver Sands, na Flórida. O objetivo era o pagamento de um apartamento em Coral Gables, 2516, Ponce de León.
Segundo a Justiça espanhola, esse não era o único caminho do dinheiro. A empresa Itasca, criada no Panamá, recebeu da Fundação Regata diversos depósitos a partir de 2007 (320 mil euros e US$ 335 mil – R$ 1,3 milhão e R$ 1,2 milhão, respectivamente), além de outros 973 mil euros (R$ 4,1 milhões) da Uptrend, a empresa de Rosell.
A Itasca ainda recebeu em 2011 US$ 1 milhão (R$ 3,1 milhões) da Extermine Travel, que por sua vez recebeu o mesmo valor da Klefer, empresa envolvida nas investigações do FBI sobre a corrupção na CBF.
“A Klefer assinou um contrato em 2011 com a CBF, pelos quais os pagamentos estariam relacionados com os pagamentos de supostas comissões ilegais para a obtenção de direitos de transmissão e marketing da Copa do Brasil, de 2013”, disse a Audiência Nacional espanhola. “Essas comissões iriam para Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero”, aponta o documento.
Os investigadores espanhóis apontam que o próprio Teixeira depositou dinheiro na conta da Itasca, com transferências de US$ 3,1 milhões (R$ 11,3 milhões) entre 2006 e 2011 e 1,5 milhão de euros (R$ 6,4 milhões) entre 2006 e 2009. Dessa conta também foram realizadas “transferências a empresas localizadas em paraísos fiscais (Suíça, Panamá), assim como aos EUA”.
Retomando uma informação já publicada em maio de 2017, a Audiência Nacional conta ainda como Teixeira e sua ex-mulher, Ana Rodriguez, chegaram a ter cartões Visa Platinum de contas da empresa BON US, criada por Besoli em Andorra, hoje preso.
Ainda em 2002 e 2003, o brasileiro depositara US$ 7,7 milhões (R$ 28 milhões) nessa conta, além de outros US$ 2,5 milhões (R$ 9,1 milhões) em 2010. De acordo com os espanhóis, parentes de Teixeira também usaram a conta.
Nos últimos meses, Teixeira e seus advogados indicaram em entrevistas no Brasil que o ex-dirigente não cometeu qualquer tipo de irregularidade.