O vice-presidente Michel Temer escalou para a articulação política do Palácio do Planalto o sociólogo Thiago Gonçalves de Aragão, dono de um escritório que traça estratégias de lobby para bancos e outras grandes empresas do setor privado em Brasília.
Publicada nesta quarta-feira, 6, no Diário Oficial da União, a nomeação de Aragão já suscitou questionamentos no Planalto. Para um auxiliar da presidente Dilma Rousseff ouvido pelo Estado, o caso expõe uma situação “delicada”, que pode levantar questões de conflito de interesse.
Aragão foi diretor e é dono de uma fatia da Arko Advice, que se intitula a “principal empresa brasileira de análise política, estratégia e public affairs (relações públicas)”. Na prática, segundo o próprio assessor, o escritório orienta gigantes do setor privado sobre como exercer o lobby por seus interesses no Congresso e no governo. “Sou um desenhista. Desenho estratégia para que os meus clientes façam o lobby deles mesmos”, define-se o novo auxiliar de Temer.
Na carteira de clientes da Arko, estão empresas como os bancos Santander e BTG Pactual, além da sueca Saab, responsável pela fabricação dos caças Gripen para o governo brasileiro. O escritório, assim como outros do ramo de consultoria, não informa publicamente seus contratantes.
Como diretor da Arko, Aragão era responsável pela “criação de estratégias de comunicação institucional” de multinacionais em operação no Brasil. A empresa é presidida pelo pai dele, Murillo Aragão, que é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão, colegiado de assessoramento da presidente Dilma Rousseff na formulação de políticas públicas.
Embora tenha se afastado do cargo de diretor da Arko, o novo assessor da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) continua como proprietário do escritório de consultoria. Ele é dono da El Paso Doble Administração e Participações, empresa que integra o quadro societário da Arko, conforme certidões da Receita Federal e da Junta Comercial do Distrito Federal.
Antes mesmo de ser oficializado no cargo, Aragão já despachava no quarto andar do Palácio do Planalto. Na SRI, ele vai ser “assessor de estratégia para articulação política na Presidência da República”, conforme descrição divulgada por ele mesmo na rede social de negócios LinkedIn. O salário mensal será de R$ 8.554,70. “Na Arko eu ganhava mais”, afirma.
Conflito
De acordo com a assessoria da Vice-Presidência, que acumulou as funções da SRI, o trabalho de Thiago Aragão será “produzir análises e fornecer subsídios estratégicos para aprimorar a relação do Executivo com o Congresso Nacional”.
“Não há conflito de interesse de nenhum tipo, pois o funcionário afastou-se de suas atividades privadas (…) O servidor buscar contato com seu ambiente de trabalho antes de começar a nova função é apenas uma prova de zelo”, disse a Vice-Presidência, destacando que Aragão trabalha há mais de dez anos com análise política brasileira.
Procurado pela reportagem, o Santander confirmou que mantém contrato com a Arko e que os serviços prestados “compreendem o envio periódico de boletins e informações relacionados ao cenário econômico do País.” O BTG Pactual não comentou. A Saab alegou que “devido a razões comerciais” não poderia entrar em “detalhes específicos nem fornecer informações” sobre seus fornecedores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.