O dólar à vista iniciou a semana em forte alta no mercado doméstico de câmbio, acompanhando a onda de valorização da moeda norte-americana no exterior, em meio a uma escalada das taxas dos Treasuries. Dados fortes da indústria dos Estados Unidos divulgados nesta segunda-feira, somados à fala cautelosa do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, na última sexta-feira, 29, lançam dúvidas sobre a magnitude de eventual ciclo de cortes de juros neste ano nos EUA.
Após encerrar o primeiro trimestre com ganhos de 3,34%, já acima da barreira técnica e psicológica de R$ 5,00, o dólar até ensaiou uma queda na abertura dos negócios com dados positivos na China e valorização do minério de ferro. Mas a moeda trocou de sinal rapidamente e, com altas sucessivas, ultrapassou a faixa de R$ 5,05 por volta das 11 horas, em sintonia com o exterior.
Com máxima a R$ 5,0705 no início da tarde, o dólar terminou a sessão desta segunda-feira, 1º, em alta de 0,87%, cotado R$ 5,0591 – maior nível de fechamento desde 13 de outubro do ano passado (R$ 5,0885).
O real amargou o pior desempenho entre seus pares latino-americanos. Na comparação com as divisas emergentes e de exportadores de commodities mais relevantes, a moeda brasileira sofreu menos apenas que a coroa norueguesa e o florim húngaro.
"Saíram números de atividade mais fortes nos EUA e a inflação por lá ainda está resiliente. Aqui, o panorama técnico é ruim já faz algum tempo, com a maioria dos fundos ainda muito vendidos em dólar. O real já tem desempenho pior que o do peso mexicano faz algum tempo e hoje tem essa perda mais forte", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que o México oferece aos investidores taxa de juros similar a do Brasil, mas tem dívida pública bem inferior em relação ao PIB.
Divulgado no fim da manhã, o PMI industrial dos Estados Unidos elaborado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) subiu de 47,8 em fevereiro para 50,3 em março, acima da previsão de analistas (48,5). Com leitura acima de 50, o indicador passou a espelhar expansão da atividade pela primeira vez desde setembro de 2022. As atenções se voltam agora para a divulgação de dados do mercado de trabalho nos EUA nos próximos dias, com destaque para o relatório oficial de emprego (payroll) de março, na sexta-feira, 5.
O sócio e diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, afirma que, em razão da força da atividade nos EUA, as apostas em torno da magnitude de corte de juros pelo Fed neste ano se reduzem, o que leva a abertura da curva de juros nos EUA e ao fortalecimento do dólar.
"Já tem menos de 75 pontos-base de cortes precificados para este ano. Trata-se de um ambiente que começa a apresentar um desvio bem maior do cenário central projetado pelo mercado na virada do ano, quando havia alocação de risco diante da espera de movimento mais forte de cortes pelo Fed", afirma Monoli. "Com a economia dos EUA ainda aquecida, o risco de cauda de não haver cortes neste ano começa a ganhar mais peso. Vai surgindo um ambiente mais desafiador pela frente, principalmente para países emergentes"