Economia

Tempo na ativa pode aumentar com a queda da mortalidade, diz estudo no site do BC

Um dos principais focos atuais de atenção do Banco Central, o mercado de trabalho voltou a ser tema de estudo da instituição. No documento “Expectativa de Vida no Mercado de Trabalho Brasileiro”, o técnico do Departamento de Estudos e Pesquisas da instituição Charles Henrique Correa concluiu que, embora a fecundidade em níveis baixos afete negativamente o número de pessoas na ativa, o tempo médio de vida de cada pessoa no mercado pode aumentar com a queda da mortalidade. “Assim, com a transição demográfica, o tamanho da força de trabalho diminuiria, mas o tempo médio de cada pessoa no mercado de trabalho aumentaria”, avaliou.

Os resultados do estudo mostram que, em média, a expectativa de uma pessoa aos 15 anos de idade permanecer na ativa ao longo da vida aumentou de 32,5 anos, em 2000, para 34,5 anos, em 2010. Nesse intervalo de tempo, segundo o autor, o aumento da expectativa de vida economicamente ativa ocorreu 50% por meio de queda nas taxas de mortalidade e 50% via mudança nas taxas de atividade. Entre os sexos, a mortalidade afetou mais a expectativa masculina, e as taxas de atividade, mais a expectativa feminina.

O estudo faz parte da série “Trabalhos para Discussão” do BC (número 389). A instituição enfatiza, porém, que as opiniões dessa série são exclusivamente dos autores e que não refletem, necessariamente, a visão da instituição. Vale lembrar, porém, que o mercado de trabalho vem ganhando destaque em boxes do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Em março, teve como título “Sinais de Distensão no Mercado de Trabalho”; em dezembro do ano passado foi objeto de dois estudos paralelos: “Dinâmica Recente dos Salários e da Inflação no Setor de Serviços” e “PME e outros indicadores do Mercado de Trabalho”. Em setembro de 2014, houve também duas análises sobre o tema nos boxes “Decomposição da Evolução da Taxa de Desemprego” e “Indicador de Condições de Mercado de Trabalho”.

A análise da perda de fôlego dos empregos também ganhou ênfase no corpo do RTI e nas últimas atas do Comitê de Política Monetária (Copom). A avaliação do BC é a de que já há sinais de distensão desse mercado. O estudo divulgado agora revela que as tábuas de expectativa de vida no mercado de trabalho podem ser um instrumento complementar de avaliação desse segmento. Correa salienta que, com a transição demográfica, o efeito de composição pela estrutura etária das taxas de ocupação e de atividade no mercado de trabalho tornou a comparação entre as taxas no tempo e no espaço mais frágeis.

“Além disso, a maior longevidade brasileira e o envelhecimento populacional têm impactado o tamanho, as características e a estrutura etária da força de trabalho, o que demanda indicadores capazes de mensurar a influência demográfica na dinâmica econômica”, escreveu.

O autor detectou que o Brasil apresentou aumento da expectativa de vida ativa no mercado de trabalho entre 2000 e 2010 e que, embora a queda da fecundidade influencie negativamente o crescimento da população em idade ativa, há indícios de que os jovens atualmente esperam permanecer mais tempo trabalhando em relação ao que ocorria no passado. “Em 2010, havia proporcionalmente menos jovens entrando no mercado de trabalho e maior expectativa de vida economicamente ativa; em 2000, havia proporcionalmente mais jovens entrando no mercado de trabalho e menor expectativa de vida economicamente ativa”, explicou.

Jovens

O estudo apontou também que os grupos etários mais jovens apresentaram contribuição negativa para o crescimento da expectativa de vida economicamente ativa aos 15 anos de idade no período. “Provavelmente, o fenômeno está associado à maior escolarização dos jovens e entrada mais tardia no mercado de trabalho”, analisou Correa. Para ele, apesar de um cenário futuro de força de trabalho proporcionalmente menor na população, o aumento da escolaridade pode ser um fator compensador via aumento da produtividade da mão de obra.

“A maior expectativa de permanência no mercado de trabalho aos 15 anos de idade esteve associada principalmente ao aumento da contribuição dos grupos etários mais velhos, o que reflete o aumento na taxa de atividade entre os mais velhos.”

Em meio a discussões no governo a respeito da sustentabilidade da Previdência Social doméstica, o autor também enfatizou que houve crescimento da expectativa de vida economicamente inativa aos 15 anos de idade. Com isso, segundo ele, as despesas previdenciárias ganham relevância na medida em que pode haver um aumento no tempo de recebimento do benefício da aposentadoria no futuro com o aumento da vida inativa.

“Por outro lado, como o crescimento da expectativa de vida economicamente ativa foi proporcionalmente superior ao crescimento da expectativa de vida inativa no período, houve declínio na expectativa de vida economicamente inativa como proporção da expectativa de vida restante”, escreveu.

De acordo com o trabalho, um jovem em 2010 esperava permanecer, em média, uma proporção menor da sua vida restante fora do mercado de trabalho que um jovem em 2000. Além disso, o estudo captou que a mortalidade consumiu mais a vida economicamente ativa dos homens do que das mulheres e que a mortalidade masculina entre adultos mais jovens por causas externas (violência e acidentes) coincide com as faixas etárias de mais alta participação no mercado de trabalho, o que se traduz em anos ativos perdidos por mortalidade.

“Dessa forma, o comportamento de risco intrínseco ao estereótipo de gênero masculino parece afetar também o mercado de trabalho e responder por parte da diferença entre homens e mulheres quanto ao impacto da mortalidade na expectativa de vida economicamente ativa”, salientou Correa.

Regiões

O autor fez ainda uma análise a respeito das diferenças encontradas no mercado de trabalho de acordo com a região do País. Segundo ele, aos 15 anos de idade, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentaram maior expectativa de vida economicamente ativa que as regiões Norte e Nordeste. Assim, concluiu que, mesmo como proporção da expectativa de vida total, as diferenças regionais permaneceram. “Portanto, a expectativa de vida economicamente ativa difere entre as regiões geográficas mesmo após o controle pelo nível de mortalidade, o que ressalta a existência de diferenças regionais quanto à participação no mercado de trabalho.”

Entre 2000 e 2010, de acordo com o estudo, houve também queda expressiva da expectativa de vida desocupada no País. Em média, homens e mulheres não só permanecem mais tempo no mercado de trabalho como permanecem menos tempo desocupados, o que representa melhores perspectivas econômicas no mercado de trabalho durante o ciclo de vida ativa. Ainda nesse período analisado, a expectativa de vida economicamente ativa entre mulheres e homens de 60 anos de idade aumentou, o que traz à tona, conforme Correa, assuntos como a produtividade e a saúde de uma força de trabalho cada vez mais envelhecida.

“Além disso, a expectativa de vida economicamente inativa também aumentou, o que pode implicar maior dependência econômica frente ao maior tempo de vida em inatividade. Por outro lado, também houve queda na proporção da vida restante em inatividade entre os idosos.”

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