A famosa "dança das cadeiras" entre os pilotos da Fórmula 1 alcançou a cúpula das equipes neste ano. A temporada 2023 começará neste fim de semana, no Bahrein, com quatro times sob nova liderança: Ferrari, McLaren, Alfa Romeo e Williams. Em comum, os novos chefes têm a larga experiência no automobilismo, porém com um foco maior na gestão. Eles representam um novo momento da categoria, mais preocupada com eficiência, em vez da gastança, que tanto marcou a história recente da F-1.
Os novos dirigentes são o francês Frédéric Vasseur (Ferrari), os italianos Andrea Stella (McLaren) e Alessandro Alunni Bravi (Alfa Romeo) e o britânico James Vowles (Williams). Os quatro são engenheiros de formação, mas têm uma visão ampla sobre como funciona uma equipe de F-1, não se restringindo ao conhecimento técnico das pistas.
Na prática, a "dança das cadeiras" deste ano segue um movimento iniciado em 2022, quando a Alpine e a Aston Martin buscaram chefes mais hábeis em gestão, em detrimento de lideranças mais tecnocratas. Foi assim, por exemplo, que Otmar Szafnauer desembarcou na Alpine, com seu currículo de engenheiro eletricista, com especialização em negócios e finanças. Com o mesmo objetivo, a Aston Martin passou a contar com Mike Krack.
As quatro mudanças deste ano, algo raro na história da F-1, não são coincidência. Todas têm a mesma causa: a busca pela eficiência na gestão das equipes. Nos últimos anos, os bons gestores se tornaram peças fundamentais porque ganharam maior responsabilidade e mais trabalho, principalmente por causa do teto de gastos – deve chegar a US$ 140 milhões neste ano (cerca de R$ 723 milhões).
Diante de uma limitação no orçamento, para tentar nivelar o campeonato, as habilidades de gestão nunca foram tão necessárias. Os dirigentes precisam saber fazer muito com pouco. Em outras palavras, a era do amadorismo na liderança das equipes chegou definitivamente ao fim.
Não há mais espaço para chefes que apenas "passam o pires" diante de patrocinadores e proprietários, ou aqueles conhecidos pelas malandragens e irresponsabilidades, que se tornaram famosas em figuras quase folclóricas como o italiano Flavio Briatore, ex-chefe da Benetton e da Renault. Já haviam perdido espaço os chamados garagistas, os grandes fundadores de equipes, como Frank Williams, Peter Sauber e Eddie Jordan, todos reconhecidos pelo conhecimento técnico no automobilismo.
Para a F-1 atual, são necessários novos atributos, relacionados à gestão de recursos, planejamento, eficiência nos gastos, metas e busca por resultados. Foi justamente pela falta de eficiência que chefes como Mattia Binotto e Jost Capito, da Ferrari e da Williams, respectivamente, perderam seus empregos no fim de 2022.
No caso da tradicional equipe italiana, a ineficiência foi flagrante, entre erros mecânicos, de estratégia e dos próprios pilotos. Para encerrar o jejum de títulos, que vem desde 2008, a Ferrari tirou Vasseur da Alfa Romeo para que ele busque em Maranello a mesma eficiência que exibiu no time rival nos últimos anos.
O francês de 54 anos já passou também por Renault e Sauber, que atualmente comanda a Alfa Romeo, equipe que ele colocou numa honrosa sexta colocação no último Mundial de Construtores. "É intenso, como todos podem imaginar", disse Vasseur ao definir a sua nova missão. "Dá para sentir a responsabilidade pelo time. É uma grande honra, mas, no fim do dia, o mais importante é ter sucesso. Temos que entregar resultados", avisou.
INOVANDO NA GESTÃO
Para o lugar do francês, a Alfa Romeo resolveu inovar. Tirou o alemão Andreas Seidl da McLaren para virar o CEO do time. E promoveu o advogado italiano Alessandro Alunni Bravi para ser o novo chefe de equipe, dividindo o comando com dois profissionais mais técnicos: Xevi Pujolar, chefe de engenharia de pista, e Beat Zehnder, diretor esportivo.
A estrutura incomum tem um motivo: a busca pela eficiência. "É simplesmente uma estrutura diferente e acho que todos os times estão desenvolvendo seus modelos de gestão para poderem se tornar mais eficientes", disse o advogado de 48 anos. "Eficiência é a palavra-chave. Não é apenas uma questão de ser eficiente na fábrica, mas também na pista. Estamos trabalhando com processos internos diferentes. Chefe de equipe é apenas um nome. O que temos é essa função dividida entre três pessoas."
Sem Andreas Seidl, a McLaren resolveu promover um funcionário de carreira com um currículo mais risco. O italiano Andrea Stella é formado em engenharia aeroespacial pela Universidade de Roma La Sapienza e tem Ph.D. em engenharia mecânica. Ele já trabalhou na Ferrari, onde participou da conquista de três títulos e foi o engenheiro mais próximo de Fernando Alonso.
O chefe de 52 anos terá a missão de resgatar o status da equipe na F-1. A McLaren vem em queda nos últimos anos: caiu do terceiro para o quarto lugar em 2021, e do quarto para o quinto, no ano passado. "O desafio será seguir melhorando a equipe, nos direcionando até a dianteira do grid. Nós podemos fazer isso se entregarmos nossos projetos de um ponto de vista da infraestrutura. Vamos fortalecer o time e elevar nossos padrões, como foco na performance", declarou.
Outro novo chefe de equipe será o inglês James Vowles, dono de currículo dos mais brilhantes no paddock da F-1. Agora na Williams, o engenheiro de 43 anos foi chefe de estratégia da Mercedes entre 2010 e 2022. Tem na bagagem, portanto, nove títulos do Mundial de Construtores, um deles pela Brawn GP, além de 120 vitórias em corridas.
Vowles, que vai substituir Jost Capito, tem passagens pela BAR e pela Honda, na F-1. Ele também terá dura missão em 2023: resgatar a Williams do fundo do grid. Para tanto, tem a seu favor a formação em ciências da computação, com especialização em engenharia automotiva e gestão. A contratação do britânico foi elogiada até mesmo por Toto Wolff, que perdeu Vowles na Mercedes. "Pude trabalhar com James desde que entrei para a Mercedes, em 2013. E sei como ele é diligente, capaz e talentoso", comentou Wolff.