A ideia era que eles abrissem a Temporada de Dança do Teatro Alfa no ano passado, mas um imprevisto deslocou a apresentação para o fim do evento. Este ano, após participar da abertura do Festival de Dança de Joinville, são eles, novamente, que inauguram a 11.ª Temporada do Alfa. “Eu adoro abrir com o Grupo Corpo, dá a impressão que começou a festa”, diz Elizabeth Machado, diretora superintendente do teatro. Ao lado do gerente de programação Fernando Guimarães e do consultor da dança João Carlos Couto, ela forma a equipe que concebeu o projeto e que segue responsável pela curadoria.
Com o costume de criar novas coreografias bienalmente, o Corpo fez a estreia de Triz em São Paulo no ano passado. É este trabalho que eles apresentam a partir desta quarta-feira, 13, até segunda, 18, em um programa que também mostra Onqotô, que estreou em 2005, em comemoração aos 30 anos da companhia mineira.
“Enquanto Triz aborda o limite, Onqotô é justamente o contrário: fala de infinito, do totalmente sem limites. Foi um programa que casou bem”, avalia Rodrigo Pederneiras, coreógrafo do grupo.
Em seu processo de criação, Pederneiras sempre parte da trilha sonora para conceber o mote central da peça, criar os movimentos. No caso de Onqotô, a encomenda foi feita a Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, que, além da música, entraram com a ideia. “Eles trouxeram a coisa pronta, essa pergunta de onde é que eu estou? e a influência do Nelson Rodrigues”, explica Pederneiras.
Foi diferente de Triz, em que o pernambucano Lenine entregou a trilha para que Pederneiras pudesse criar o espetáculo. A coreografia reflete o momento pelo qual o coreógrafo passava: após se recuperar de uma cirurgia no ombro, ele machucou o joelho. Acostumado a dançar para ensinar os movimentos aos bailarinos, teve de fazer tudo de forma oral. “Foi tudo por um triz. Eu não sabia se conseguiria trabalhar dessa maneira nova, eu não sabia qual era o meu limite.” Foi este, aliás, o motivo que o fez adiar a apresentação dentro da Temporada de Dança do Alfa no ano passado.
Segundo Pederneiras, o próximo trabalho do grupo terá trilha de Marco Antônio Guimarães, que já havia criado outras peças para o Corpo. A convite de Paulo Pederneiras, diretor geral e artístico da companhia, Guimarães deve compor para a Filarmônica de Minas Gerais. “A orquestra é muito boa, está no nível de uma Osesp”, diz o coreógrafo. “Em outubro, eles começam as gravações. Quando estiver tudo pronto, vou ver o que faço.”
Até novembro, outras seis companhias vão ao palco do Alfa. De acordo com a curadora Elizabeth, as características levadas em conta para a seleção dos espetáculos continuam as mesmas. “Contemplamos uma produção atual, sempre observando a diversidade de linguagens e de técnicas”, diz Elizabeth. “Temos um foco maior na dança contemporânea.” Ela explica, no entanto, que este foco não é muito rígido – o que explica a presença do russo Ballet Mariinski, que encerra a Temporada com o clássico O Corsário.
Após o Grupo Corpo, é a São Paulo Companhia de Dança que se apresenta no Alfa com três coreografias – entre elas, a estreia de Workwithinwork, obra do americano Willian Forsythe. Completam o programa Petite Mort, do tcheco Jirí Kylián, e Le Spectre de la Rose, do russo Michel Fokine. “É muito difícil dançar Le Spectre…, é uma obra de extrema dificuldade técnica. Há o frisson da estreia”, diz Elizabeth.
A companhia de dança Deborah Colker encerra as participações brasileiras na Temporada. Colker traz a São Paulo a coreografia Belle, que teve pré-estreia na Feira do Livro de Ribeirão Preto, em maio, e estreou no mês seguinte no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O espetáculo é uma adaptação do romance A Bela da Tarde, do francês Joseph Kessel – o mesmo que inspirou Luis Buñuel a rodar o longa homônimo, de 1967. A coreografia tem um forte viés sensual e faz uma discussão sobre a plenitude.
Nas atrações internacionais, além do Mariinski, se apresentam a americana Alonzo King Lines Ballet e a companhia espanhola Antonio Gades. O grupo de Akram Khan, que dançou no Brasil neste ano pelo festival O Boticário na Dança, volta para se apresentar no Alfa. Desta vez, o próprio Khan apresenta o solo Desh, que, segundo a curadora, é considerado pelo coreógrafo o seu melhor trabalho até agora. Com influências de Bangladesh e do Reino Unido, ele mescla dança contemporâneo e o estilo indiano kathak. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.