Cidades

Tempos de cobertor curto

O primeiro semestre foi de tirar o sono de muito empreendedor. O faturamento das micro e pequenas empresas paulistas caiu 11,9% quando comparado com igual período de 2014. O resultado foi tão ruim que superou até a queda de 10% nas receitas das MPEs no acumulado de janeiro a junho de 2009, época de crise financeira internacional. Para piorar, não há previsão de alívio no cenário no futuro próximo.
 
O desempenho fraco é consequência do atual momento da economia brasileira. Como os pequenos negócios são muito dependentes do mercado interno, o aumento do desemprego, da inflação e dos juros tem inibido o consumo das famílias. Se elas compram menos, o empresário vê seus ganhos despencarem, surgem problemas de caixa com a falta de dinheiro e crescem os riscos para seu negócio.
 
Ninguém que age com boa-fé escolhe não honrar seus compromissos. Ser visto como caloteiro só traz dificuldades e prejudica a imagem da empresa, determinante para o relacionamento com o mercado. Mas quando o cobertor é curto, a saída é estabelecer prioridades e renegociar o possível. Friso que não se trata de deixar de saldar a dívida, mas ajustar o fluxo de desembolsos conforme a capacidade da empresa.
 
Esse processo deve ser feito com critério. Há contas que não oferecem flexibilidade de acerto como água, luz, gás, telefone e funcionários. Esses gastos têm preferência, já que garantem o funcionamento do empreendimento.
 
Impostos e taxas também têm de ser vistos com todo o cuidado pois podem levar à penhora de bens em caso de inadimplência, além de outras complicações. 
 
Entre os itens em que há margem de manobra estão os fornecedores. A ideia é combinar com os principais o adiamento do pagamento dentro de quatro, cinco ou seis meses até a situação estar menos problemática e as pendências se tornarem pontuais.
 
Se há empréstimos com bancos, aqueles com juros mais altos devem ter atenção especial, porque atrasos podem fazer o débito ficar impagável em um segundo momento. É válido tentar rever com a instituição financeira o saldo devedor e propor um parcelamento viável. Fazer um empréstimo com juros menores para quitar um mais caro é uma boa alternativa. É interessante pleitear uma carência até iniciar o pagamento, assim a empresa ganha fôlego para se organizar.
 
Ninguém está imune a crises. O pulo do gato é saber passar por elas de forma menos dolorosa, sanando o desequilíbrio nas finanças e evitando que se transforme numa bola de neve. E nosso insone dono de micro ou pequena empresa pelo menos terá um pouco mais de tranquilidade nas suas noites.
 
 
Bruno Caetano
Diretor-superintendente do Sebrae-SP

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