Em dificuldades financeiras, a Tenda convocou assembleias de credores para negociar uma licença (waiver, no jargão de mercado) que permita à construtora manter um nível de endividamento bem mais alto do que o acertado quando pegou o dinheiro emprestado.
A construtora, uma das maiores operadoras do programa Casa Verde e Amarela, sentiu o peso da disparada nos custos de construção. Só em 2021, houve um estouro de orçamentos de meio bilhão de reais, que levou a companhia a reduzir o ritmo de lançamentos, dilatar prazo de pagamento a fornecedores, cortar funcionários e aumentar preço dos imóveis para recuperar margens.
Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores, Marcos Pinheiro Filho, a expectativa é de que a proposta da empresa seja aprovada. "Eles entenderam que a situação de endividamento mais alto é temporária", afirmou, em entrevista exclusiva ao <b>Estadão/Broadcast</b>.
O executivo disse ainda que conseguiu reunir os 14 maiores credores, que respondem, juntos, por pouco mais de 85% do total da dívida – justamente o porcentual necessário para aprovação das medidas na assembleia. "Vamos atrás dos outros 15% também. Já começamos as conversas." Os credores são principalmente gestores de recursos e fundos de investimento em renda fixa.
Ao longo dos últimos anos, a Tenda captou cerca de R$ 1 bilhão por meio de emissões de cinco séries de debêntures e um certificado de recebíveis imobiliários (CRIs). Nos termos do financiamento, a construtora se comprometia a manter uma alavancagem de até 15%, considerando a relação entre dívida corporativa (sem contar financiamento à produção) e o patrimônio líquido. Mas no balanço do primeiro trimestre, ela bateu em 33%, mais que o dobro do limite.
Se a situação se repetisse por dois trimestres dentro de um período de 12 meses, seria configurada uma quebra de compromisso. Ou seja, a Tenda teria de pagar de uma vez só os vencimentos que estavam previstos para 2024 a 2028.
<b>PROPOSTA</b>
A Tenda propôs aos credores a licença para que a sua alavancagem de 33% possa subir para até 80% em 2022, atingindo o pico de 85% no primeiro semestre de 2023. A partir daí, prevê redução para 80% e 75% no terceiro e quarto trimestres de 2023, respectivamente, recuando para até 50% na primeira metade de 2024 e até 30% no fim do mesmo ano.
Em troca, a construtora se dispõe a pagar um prêmio de 1,75% ao ano. Com isso, a remuneração dos credores, que estava na faixa de CDI + 2,5% ao ano, subirá para o patamar de CDI + 3,75% ao ano, aproximadamente. Esses títulos vinham sendo negociados no mercado secundário a cerca de CDI + 8% a 9% ao ano, refletindo uma percepção de risco maior de investidores em relação à empresa.
A Tenda também se comprometeu a não remunerar os seus acionistas até que a alavancagem volte para o patamar considerado normal para a empresa, de 15%. Outro compromisso será reduzir as operações e preservar o fluxo de caixa. Nos próximos 12 meses, a construtora não poderá lançar mais de 15 mil unidades – isso significa uma redução na ordem de 27% em suas operações, visto que em 2021 lançou 20,5 mil unidades.
A companhia tem também aumentado o preço das suas unidades mesmo que isso implique em perda da velocidade de vendas. Em maio, os apartamentos foram vendidos a R$ 178 mil, ante R$ 162 mil no primeiro trimestre.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>