Um deslizamento de terra em uma área de risco em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, destruiu duas casas, matou quatro pessoas e deixou outras três feridas no começo da noite de sábado, dia 26. A última vítima, uma mulher que aparentava ter 20 anos, foi retirada dos escombros pelo Corpo de Bombeiros só na noite de domingo.
Antes de morrer, uma das vítimas chegou a trocar mensagens de texto por três horas com os parentes. Seu corpo foi localizado protegendo a neta, de 1 ano, que sobreviveu e foi resgatada. Outro sobrevivente teria sido socorrido por moradores.
Ao todo, 37 imóveis do bairro Jardim do Mirante, perto do centro da cidade, tiveram de ser evacuados por risco de novos deslizamentos. A Defesa Civil de Itapecerica atribuiu o acidente a uma obra irregular que vinha ocorrendo sobre o morro que desabou.
Uma casa era construída sem autorização. “O local era área de risco 2”, informou o secretário de Defesa Civil de Itapecerica, Maurício da Silva Rocha, considerando uma escala de vai de 1 (risco baixo) a 4 (evacuação imediata).
O deslizamento ocorreu por volta das 19h30 de sábado. Em um dos imóveis atingidos, naquela hora, estava a dona de casa Mariza Aparecida Morchiela, de 47 anos, sua filha Yasmin, de 20 e a neta, Maria Luísa, de 1 ano e 8 meses. Pouco depois do deslizamento, parentes de Mariza começaram a receber mensagens dela.
“Disse que as três estavam em casa e que ela estava (soterrada) do lado da Malu”, conta a professora Ellen Lingoist, nora de Mariza. “Quando os bombeiros a encontraram, ela estava com o corpo protegendo a bebê. Morreu assim e salvou a neta”, disse a nora. Os bombeiros confirmaram que chegaram a manter contato com Mariza antes de seu corpo ser localizado.
Na outra casa atingida, duas pessoas morreram, Sheila e Hillary (cuja identificação completa não foi divulgada) e outras duas foram socorridas.
Drone
A procura por Yasmin Morchiela envolveu neste domingo 35 agentes do Corpo de Bombeiros, que chegaram a usar um drone e dois cães farejadores. “Estamos agindo seguindo a experiência internacional. As primeiras 72 horas são cruciais para encontrar uma pessoa com vida”, disse o coronel Roberto Lago, comandante do 18.º Grupamento do Corpo de Bombeiros, responsável por parte da Grande São Paulo que inclui Itapecerica da Serra.
“Os cães que estão aqui são treinados para farejar sobreviventes. Na sequência, traremos cães treinados para farejar corpos”, informou o militar, antes da descoberta do corpo.
A demora na escavação foi resultado da natureza delicada do trabalho, com a retirada dos escombros feita manualmente pelos bombeiros de resgate. O uso de maquinário poderia ferir ou mesmo ser fatal. Três equipes, com sete bombeiros cada, se revezavam em intervalos de 30 minutos, para que o ritmo do serviço não se reduzisse.
Causas
A construção irregular da casa foi relacionada pela Defesa Civil ao acidente e já vinha trazendo preocupação, segundo conta Maria da Conceição de Macedo, tia de Yasmin e cunhada de Mariza. “Eles estavam fazendo só de noite.”
A reportagem não conseguiu localizar nenhum responsável pela obra ontem. Tanto os imóveis habitados quanto o que estava em construção ficavam em um terreno compartilhado, no meio de uma encosta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.