O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta sexta-feira que a tese de inflação temporária de bens tem ficado para trás. Isso porque, voltou a destacar, houve um deslocamento muito rápido da demanda com as transferências de renda feitas durante a pandemia de covid-19 sem ser acompanhado por aumento de investimentos, como em metais e energia, especialmente por causa da agenda verde, ligada ao custo de carbono.
Ele lembrou que não pode ser um problema só de oferta, pois a produção de semicondutores, por exemplo, só subiu na pandemia de covid-19.
Com o deslocamento grande da demanda de bens, o movimento tem sido mais persistente, disse Campos Neto, o que leva a uma inflação mais persistente também, já que o investimento não está acompanhando.
"Até 1 mês atrás, tese era de que inflação era passageira. Esperava-se que inflação de bens caísse rapidamente", comentou, sobre o momento de reabertura da economia, Campos Neto, em palestra no Meeting News, organizado pelo Grupo Parlatório. "Tese de inflação temporária de bens está cada vez mais obsoleta. Ficou um aumento muito grande na demanda por bens."
O presidente do BC afirmou que o repasse dos preços de produtor para consumir foi muito forte em alguns países. No Brasil, as principais surpresas são em alimentos, energia elétrica e combustíveis, completou. "De 80% a 85% da surpresa de inflação no Brasil em 12 meses é alimento ou energia", afirmou. "Brasil está na média ou abaixo de emergentes na inflação de serviços", acrescentou.
Ele ainda mencionou que o encarecimento de energia e combustíveis tem sido assunto em todo o mundo. "Em Portugal, todo mundo estava reclamando do preço da gasolina também", disse, sobre conversas em viagens de Uber no país em viagem na semana passada.