Para aumentar o interesse dos investidores estrangeiros pela compra de títulos públicos emitidos em reais, o Tesouro Nacional vai anunciar um conjunto de medidas para melhorar o ambiente de negociação e garantir mais segurança. O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, antecipou ao <i>Estadão</i> que o governo pretende permitir a negociação dos papéis da dívida doméstica na plataforma global Euroclear, com sede na Bélgica.
Com isso, a expectativa é de aumento da concorrência e, por tabela, de redução das taxas de juros pagas pelo governo aos investidores. Com o andamento das medidas de ajuste fiscal, a reforma tributária e o projeto da nova âncora fiscal, Ceron avalia que o juro real (que desconta a inflação) pode cair para 5% no curto prazo. Hoje os juros observados nos papéis de longo prazo do Tesouro rondam os 6,5%.
"A maior plataforma de negociações de títulos mobiliários é a Euroclear, e a gente não está nela. A maior parte dos países está lá", disse Ceron, citando, entre esses países, a China, o México e o Chile. Segundo ele, a plataforma torna mais amigável a transação. Ele reforçou que não se trata de negociar os títulos emitidos em dólar, mas os papéis da dívida do governo em reais.
<b>Participação</b>
Os estrangeiros, tradicionalmente, têm apetite pelos papéis de longo prazo vendidos nos leilões no mercado interno. No passado, quando tiveram uma presença mais forte no Brasil, ajudaram a aumentar a concorrência nos leilões. De acordo com Ceron, os papéis com prazos mais longos são importantes para atrair o investimento. "É uma linha de ação importante, saudável, porque eles (os estrangeiros) têm um apetite para títulos de mais longo prazo e isso força a curva de juros para baixo", explicou.
O Tesouro quer atrair novos investidores e aqueles que deixaram de comprar ou se desfizeram dos títulos da dívida doméstica brasileira nos últimos anos. Em 2015, a participação de estrangeiros no total da dívida em títulos do governo federal chegou a 20,8%. Em 2022, fechou em apenas 9,36%, menos da metade.
Boa parte desses investidores saiu após o Brasil perder o grau de investimento, o selo de bom pagador dado pelas agências de classificação de risco, mas houve vários movimentos que afastaram ainda mais os estrangeiros, como a pandemia da covid-19. "É tentar voltar à normalidade. São algumas ações que estamos fazendo para tentar ajudar a criar esse ambiente para a atração dos não residentes."
De acordo com ele, existe hoje um fluxo de capital externo que está "olhando" para o Brasil. "Precisamos é acertar a comunicação. A negociação nessa plataforma ajuda." Ceron disse que há vantagens do investidor ao transacionar na plataforma. Hoje, ele precisa se cadastrar internamente no Brasil para poder fazer as operações.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>