Os ciclistas se sentem mais seguros nas faixas exclusivas, mas enfrentam buracos e pistas irregulares e sofrem com falta de sinalização adequada e manutenção. Da meta de 400 quilômetros de ciclovias prometidos até o fim de 2015, a gestão Fernando Haddad (PT) alcançou a marca de 262 km em meio a muitas críticas e, anteontem, dia 27, a Prefeitura conseguiu derrubar a decisão judicial que paralisava todas as obras cicloviárias da cidade. Para o Ministério Público Estadual (MPE), faltou planejamento – argumento negado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Para conferir o que já foi feito, o Estado percorreu 33 km de ciclovias no centro e na zona norte e mais 21 km nas zonas lestes e sul (mais informações nesta página) e criou um infográfico interativo com um mapeamento das vias exclusivas.
Sinalização precária em cruzamentos movimentados, grades de bocas de lobo que podem prender o pneu da bicicleta, tampas de bueiro desniveladas em relação à rua, sujeira, água empoçada e sarjetas intransitáveis: esses foram alguns dos problemas encontrados.
Na região central, o cruzamento do Largo do Arouche com a Avenida São João não tem semáforo para ciclistas. Uma placa orienta a fazer a travessia no sinal verde, mas coloca bicicleta e automóvel em rota de colisão. O mesmo acontece na São João com a Avenida Duque de Caxias.
Pintadas sobre as sarjetas, muitas dessas vias estão tão esburacadas que fica impossível trafegar na faixa da direta, como acontece na Rua Frederico Abranches, em Santa Cecília. “O problema é que a Prefeitura veio e passou uma tinta vermelha por cima do buraco, sem reformar a sarjeta”, diz o proprietário da bicicletaria Drac BMX, José Wilton Oliveira, de 44 anos, conhecido como Drac. “Em um dia colocaram a faixa anunciando a implementação da ciclovia e, no outro, ela já estava pintada”, lembra.
Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a ciclovia do eixo Santa Cecília-Higienópolis, formada por sete ruas, foi feita em 15 dias. A CET informou ainda que os projetos cicloviários contemplam uma série de trabalhos de adequação viária, como tapa-buraco, reconstrução de sarjetas e recapeamento de vias. Sobre os problemas na Rua Frederico Abranches, a empresa municipal diz que avaliará a necessidade de “possíveis ajustes”.
Na ciclovia da Rua Doutor Bráulio Gomes, no centro, a boca de lobo está quebrada. A CET diz que solicita para as subprefeituras o nivelamento e a substituição das bocas de lobo para garantir o fluxo seguro dos usuários, mas não informa quantas ou quais foram trocadas.
Acidente
O analista de sistemas Eduardo Trova, de 32 anos, sofreu um acidente na ciclovia da Avenida Brás Leme, na zona norte, e quebrou o braço em três pontos. No local da queda, o concreto se ergueu e formou uma lombada. “Eu estava acostumado a passar por ali, mas naquele dia me distraí”, contou.
A ciclovia foi entregue ainda na gestão Gilberto Kassab (PSD), em 2012, e fica no canteiro central, isolada do trânsito. A pista está com vários problemas: árvores baixas que podem fazer o ciclista bater a cabeça, terra que forma lama quando chove e rachaduras.
Questionada, a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras informou que a limpeza é feita quando “detectada a necessidade” e o serviço de manutenção seria realizado no local.
A principal reclamação dos ciclistas que usam a via da Avenida Engenheiro Caetano Álvares, na zona norte, é a sujeira e a água empoçada. Há também vários trechos de asfalto irregular, com buracos, e tartarugas estão soltas.
“Eu não me sinto seguro nesta ciclovia, porque, se eu passar por um buraco ou por uma pedra e me desequilibrar, posso cair dentro do rio ou no meio dos carros”, disse o gráfico Fernando de Oliveira, de 22 anos.
Na Casa Verde, a ciclovia acompanha um córrego na lateral esquerda e a velocidade permitida para automóveis é de 60 km/h. Segundo o engenheiro Luis Fernando Di Pierro, critérios internacionais apontam que as ciclovias que acompanham avenidas com velocidade superior a 50 km/h devem ter uma segregação física dos carros, seja por meio de uma mureta ou de uma grade.
Escorregadio
Os ciclistas também reclamam que as ciclovias ficam muito escorregadias quando chove. Segundo a CET, a tinta vermelha obedece às especificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), mas não forneceu detalhes sobre qual o material aplicado no asfalto.
O engenheiro, urbanista e ciclista há 30 anos Ary Rodrigues Perez, de 61 anos, afirma que é preciso usar um material com mais rugosidade para melhorar a aderência da pista. Ele diz acreditar que a Prefeitura está aprendendo com os erros. “Na obra da ciclovia da Avenida Paulista, por exemplo, estão usando um concreto pigmentado em vez da tinta.”
Os mesmos ciclistas que defendem a construção de uma malha viária para bicicletas na cidade tecem críticas à forma como algumas ciclovias foram criadas, mas fazem uma ressalva: “Mesmo uma ciclovia malfeita é mais segura para o ciclista do que pedalar na rua, no meio do trânsito”, diz o cicloativista e editor do site Vá de Bike, William Cruz. Ele avalia que existem erros, mas impedir a implementação é um retrocesso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.