As mensagens de texto trocadas entre Conrad Roy III e Michelle Carter serviram de base para a condenação da jovem por homicídio culposo, depois de ela ser acusada de encorajá-lo a se suicidar em 2014, em um caso sem precedentes. Agora, as mesmas mensagens são o tema da minissérie The Girl from Plainville, da Starzplay, que tem um novo episódio estreando a cada domingo – o último vai ao ar no dia 28.
"Não tivemos de forçar para dramatizar a história", disse Patrick Macmanus, cocriador da série com Liz Hannah, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, por videoconferência. "Com o acesso às mensagens, tínhamos um caminho claro. É diferente de ver um depoimento, um testemunho, uma entrevista. Nós pudemos acompanhar suas vidas por anos, em suas próprias palavras."
Conrad, conhecido como Coco, e Michelle encontraram-se pouquíssimas vezes durante os anos em que tiveram seu relacionamento.
Segundo Macmanus, há comprovação de apenas três vezes em que se viram cara a cara. Por isso, os showrunners tinham o desafio de tornar essa troca interessante. "Não queríamos olhar para celulares o tempo todo nem usar o método dos balões na tela", disse Macmanus.
<b>Dramatizando</b>
Ele e Hannah chegaram à conclusão de que os jovens sentiram que a relação era tão real quanto se estivessem morando na mesma cidade, andando de bicicleta, indo ao cinema, comendo pizza. Assim, decidiram dramatizar as mensagens de texto colocando os dois no mesmo ambiente, como se estivessem convivendo.
A colaboração dos atores Elle Fanning, no papel de Michelle, e Colton Ryan, como Coco, foi decisiva. "Eles levantaram a ideia de que sempre há problemas de comunicação nas mensagens, pois não sabemos a entonação, a intenção", advertiu Macmanus. "Se você não consegue ler o rosto ou a voz de alguém, tudo fica preto no branco. E isso permitiu a Colton e Elle interpretarem os dois lados das mensagens. Vemos o que ela estava sentindo e pensando e vemos o que ele estava sentindo e pensando."
<b>Procura</b>
Para Colton Ryan, era isso o que podiam fazer. "Tentamos não julgar", disse ele em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. "Não estamos tentando rediscutir o caso. Isso está feito. Não somos advogados nem juízes, somos atores, então nosso papel era examinar as consequências emocionais e mostrar como dá para se identificar com os dois. Sinceramente, foi fácil, porque, ao ler essas mensagens, como eu fiz, você vê que são jovens procurando alguma coisa. Acima de tudo, a si mesmos."
Em painel da Associação de Críticos de Televisão, Elle Fanning contou que se interessou pelo papel justamente por ser uma jovem vivendo com a tecnologia. "O celular nos dá um falso senso de intimidade e de realidade. Achei importante mergulhar na maneira como a tecnologia afetou essas duas pessoas", disse.
Ryan apontou que, por mais que acusemos os jovens de proximidade excessiva com a tecnologia, não é culpa deles. "Eles não pediram isso. Essa é a vida que deram a eles", disse. "Como todos nós, eles estão tentando entender a condição humana e ao mesmo tempo podem pesquisar e conversar com quem quiserem, quando desejarem. Espero que os adultos assistam e pensem por um momento: estamos fazendo a coisa certa?"
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>