Avôs do britpop, bandas britânicas dos anos 1960 como Gerry & The Pacemakers, Hermans Hermits, The Yardbirds, Dave Clark Five e The Swinging Blue Jeans, hoje pouco lembradas pelo público, tinham presença garantida nas rádios, nas paradas de sucesso e nos corações dos fãs tanto quanto Beatles e Rolling Stones. Algumas até mais. Entre esses pioneiros, brilhava a estrela do grupo The Hollies, um time de hitmakers como o mundo viu poucos, franco-atiradores da chamada Invasão Britânica que varreu o planeta.
Festejando 50 anos de carreira (o grupo surgiu em Londres, em 1964), The Hollies está em turnê pelo Reino Unido, passou recentemente pela Austrália e Nova Zelândia e segue adiante festejando sua longeva carreira. E pode vir ao Brasil, contou o guitarrista e vocalista Tony Hicks, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo (foram convidados, mas ainda não fecharam; a única vez que vieram à América do Sul foi em 1971, à Venezuela). O grupo também está lançando um álbum triplo, 50 at Fifty (que já está à venda, em versão digital, pela Warner Music).
Há muitas histórias sobre The Hollies que vão parecer surrealistas aos fãs de música da atualidade. Por exemplo: em 1967, eles precisavam de alguém para tocar teclados em algumas gravações. “Apareceu um rapaz magricela que o estúdio indicara, chamado Reg Dwight, e que contratamos por 15 libras (hoje, R$ 54) para o serviço”, recorda-se Tony Hicks. Ocorre que aquele magricela breve gravaria uma canção, chamada Your Song, que o projetaria como um dos maiores astros da música em todos os tempos com um codinome: Elton John.
Elton John ainda ajudaria os Hollies com os teclados algum tempo depois, quando um dos seus integrantes, Graham Nash, abandonou a banda para ir viver nos Estados Unidos – onde formaria a banda Nash, Stills, Crosby and Young, que provavelmente o leitor conhece bem.
Com seu toque levemente psicodélico, The Hollies são até hoje muito influentes. Liam Gallagher os adora, assim como Mayer Hawthorne e o grupo sueco Peter, Bjorn and John. Sua música pode ser encontrada desde em trilhas de filmes, como Amores Brutos, de Alejandro González Iñárritu, e Stardust, de Michael Apted, até comerciais e citações em canções de terceiros.
Baladas de vocalização precisa como He Aint Heavy, Hes My Brother, The Air that I Breathe, Long Cool Woman In A Black Dress e Tell Me How cimentaram o caminho para uma legião de grupos no mundo todo. Gestaram ainda algum rock psicodélico mais viajandão, com canções memoráveis como Hey, Willy.
Seus integrantes também fizeram história na música britânica, e seus filhos também seguem seus passos – Tony Hicks, por exemplo, é pai de Paul Hicks, um dos compositores de TV e cinema americanos mais bem-sucedidos, que vive em Los Angeles e é parceiro de Dhani Harrison (filho de George Harrison).
Hoje com 68 anos, Tony Hicks, nas fotos antigas, é aquele garoto com cara de basset hound que cantava I Was Born a Man, e foi um dos que resistiram a entrar no grupo, em 1963. “Eles me ouviram nos Dolphins (a banda Ricky Shaw and the Dolphins) e me convidaram para entrar na banda. No começo, eu disse não. Não estava interessado. Mas aí um dia eu fui a um clube que não conhecia, um lugar desses que cabem umas 250 pessoas, um porão. Os Hollies estavam lá e o manager insistiu para que eu ficasse e ouvisse. Quando escutei, pensei: É legal!, e não briguei mais com o convite para me juntar a eles. Nós tocávamos até duas vezes por dia em clubes, até que um produtor da EMI nos convidou para uma audição e gravamos nosso primeiro hit”, recorda hoje Hicks.
O primeiro hit era (Aint That) Just Like Me, que está sendo relançado na coletânea 50 at Fifty, juntamente com a inédita Skylarks, que fecha o álbum. Também inclui diversas covers, como Boulder to Birmingham, interpretada por Emmylou Harris, e 4th of July Asbury Park (Sandy), com Bruce Springsteen.
O guitarrista revelou o motivo pelo qual The Hollies nunca foram separados pelas tentações de drogas e pelas groupies, como outras bandas de sua geração. “Nós somos do Norte de Londres, somos mais inclinados ao álcool do que às drogas. Claro que sempre havia muita mulher, as garotas estavam interessadas, acontecia de tudo. Mas nada terrivelmente perverso. Nós não frequentávamos os escândalos dos jornais populares. Éramos felizes, e ainda somos, apenas com a música”, contou o guitarrista.
Tony Hicks refuta a alegação de que foi por sua causa que Graham Nash deixou The Hollies. Acontece que Hicks teve a ideia de gravar um disco somente com versões de músicas de Bob Dylan, e Nash não concordava.
“Quando Graham deixou a banda, ele estava indo morar na América. Tinha largado a mulher e a Inglaterra e em seguida deixou os Hollies. Foi uma consequência natural. Há 6 meses, Graham esteve aqui na minha casa, somos grandes amigos. E talvez toque com a gente na Austrália, assim como já fez em outras ocasiões. Nunca houve isso que dizem”, afirmou Hicks.
Pioneiros do pop com grande originalidade em seu nicho “three-part harmonies”, The Hollies também fizeram história em colaborações diversas com bandas de outras esferas. Em 1966, Graham Nash, Alan Clarke e Tony Hicks juntaram-se a Jimmy Page (do Led Zeppelin) e gravaram guitarras para o disco Two Yanks in England, dos Everly Brothers.
Ainda assim, apesar de ter solos muito elogiados e originais, Hicks não se considera referência no seu instrumento, a guitarra. “O mais importante aspecto dos Hollies são os vocais. É o que tive de fazer toda minha vida, trabalhar com a guitarra em torno dos vocais. Construíamos nossas harmonias em estúdio e as levávamos aos palcos. Não sei dizer se há guitarristas que me julgam influente”, diz, modesto.
Quanto às grandes bandas com as quais The Hollies rivalizaram, em sua época áurea, ele também mostra pés no chão. “Viajamos muito com os Stones, gravamos em Abbey Road, abrimos shows para os Beatles. Mas é preciso que se diga: ninguém podia competir em talento composicional com John e Paul. Isso que chamam de rivalidade na verdade não existia para a gente”, afirmou.
A banda segue excursionando pelo mundo como um sexteto, com Hicks, Bobby Elliott, Ian Parker, Steve Lauri, Peter Howarth e Ray Stiles. Em 2010, The Hollies foram homenageados com um lugar no Hall da Fama do RocknRoll dos Estados Unidos. “Qual o nosso propósito? Diversão. Observar a reação de plateias tão diferentes, muitas que ainda nem tinham nascido quando começamos. Na internet, as pessoas entram em contato com a música e acabam tendo a curiosidade. Nós temos prazer em poder ainda mostrar para os mais jovens como era, como fizemos nosso caminho.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.