Depois de um discurso considerado desastroso durante a conferência do Partido Conservador na semana passada, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse há pouco no Parlamento que a oferta do Reino Unido para a Europa é de uma “parceria nova, profunda e especial”. Ela afirmou, no entanto, que a “bola” das negociações sobre o Brexit agora está com a União Europeia. “Mas eu sou otimista, receberemos uma resposta positiva”, disse, em meio a uma sessão tumultuada no Parlamento, em que o presidente teve que interromper discursos dos dois lados pedindo que os deputados se acalmassem para que o debate pudesse prosseguir.
O desgaste da premiê se intensificou depois que ela decidiu antecipar as eleições de 2020 para o início de junho. Com a ação, Theresa May queria se fortalecer para continuar as negociações do Brexit, mas acabou ocorrendo exatamente o oposto, já que o governo perdeu a maioria no Parlamento. Pelo cronograma, o Brexit terá início em março de 2019, mas a primeira-ministra solicitou, em um discurso em Florença (Itália), no mês passado, que fosse dado um prazo extra de dois anos com o Reino Unido permanecendo na união aduaneira da União Europeia e no mercado único para que empresas e famílias pudessem se adaptar às mudanças.
Agora, no Parlamento, ela voltou a reforçar essa posição e toda vez que citou a União Europeia, chamou os membros de “amigos”. A premiê insistiu sobre as negociações terem uma abordagem pragmática, mas criativa, e salientou que haverá um novo relacionamento econômico e na área de segurança entre as partes. O objetivo, enfatizou, é levar a prosperidade para todos os povos. “Uma parceria nova, profunda e especial entre um Reino Unido soberano e uma União Europeia forte e bem-sucedida é nossa ambição e nossa oferta aos nossos amigos europeus”, disse.
Sobre a transição de dois anos, ela explicou que, nesse período, o Reino Unido terá pouca influência sobre as decisões do bloco comum e nenhum direito a votos. “Atingir essa parceria exigirá liderança e flexibilidade, não apenas de nós, mas de nossos amigos, os 27 países da UE.”
Objetivos. Theresa May ressaltou que há objetivos comuns entre as partes e outros que são diferentes e, mais uma vez, disse que direitos e deveres devem ser colocados em equilíbrio, pois essa nova parceria que existirá no futuro não tem precedentes. Ela se comprometeu, como já fez outras vezes, a continuar a oferecer assistência ao bloco comum em casos que envolvam segurança, desastres e terrorismo, entre outros e disse que a saída do país da UE está marcada para 29 de março de 2019.
Apesar disso, a primeira-ministra defendeu que é preciso de um tempo extra de adaptação, por isso defendeu o período de transição no discurso de Florença no mês passado. “Há preocupações que justificam esse período e que fazem com que sua existência tenha sentido”, argumentou, acrescentando que prevê um Brexit que siga de forma “suave e ordenada”. Nesse período, de acordo com ela, as pessoas vão e virão da e para a União Europeia, mas haverá um sistema de registro de imigração. Várias vezes, durante sua participação no Parlamento, a premiê enfatizou que os britânicos querem que os europeus permaneçam no país.
May explicou que esse tempo extra será necessário para criar estruturas para a transição, para que as empresas e pessoas possam estar preparadas para as mudanças definitivas. Sobre a Irlanda do Norte, ela disse que já se começou a discutir sobre a área comum de viagem e que há um consenso de que não voltem fronteiras físicas entre a Irlanda e a Irlanda do Norte – único trecho em que há uma separação terrestre entre as partes. Ela também voltou a dizer que os vizinhos não precisam se preocupar com a colaboração dos britânicos para o Orçamento da UE, porque o Reino Unido honrará seus compromissos financeiros com o bloco.
A premiê ressaltou que dois projetos de lei estão sendo entregues: um sobre comércio e outro sobre a questão alfandegária e ressaltou que o governo precisa se preparar para “eventualidades”. Esses projetos, de acordo com ela, darão suporte para minimizar uma interrupção das negociações em relação aos parceiros britânicos. “Estou determinada a entregar o que as pessoas votaram e é isso o que eu vou fazer”, disse em relação ao plebiscito realizado no ano passado em que os eleitores decidiram pela saída do bloco comum.
São cada vez mais crescentes os rumores de que Theresa May não tem condições de se sustentar no cargo. O grande pivô do racha dentro do governo seria o ministro de Relações Exteriores, Boris Johnson, que tem outra visão sobre como as tratativas do Brexit deveriam ser encaminhadas. Esta semana é marcada pelo início da quinta rodada de negociações entre as partes, em pouco mais de seis meses de oficialização do início do processo. A avaliação geral é a de que, até agora, as tratativas praticamente não avançaram. Durante sua fala, a premiê esteve acompanhada de seu principal aliado, o ministro das Finanças, Philip Hammond, e do ministro de Relações Exteriores, Boris Johnson.