Opinião

Tiroteio em cemitério da Vila Rio era tragédia anunciada

O tiroteio em pleno Cemitério da Vila Rio, na manhã do último sábado, quando famílias velavam seus mortos ou visitavam os túmulos de entes queridos, nem de longe se tratou de uma fatalidade, algo improvável ou inesperado. Por incrível que possa parecer, o crime – que culminou em duas pessoas inocentes feridas à bala e um foragido da polícia igualmente baleado – poderia ocorrer a qualquer momento. Diante da comoção e repercussão nacional, somente agora, as autoridades competentes (ou seriam incompententes) provavelmente tomarão alguma providência.


 


Mas quem acompanhava o dia a dia do cemitério, moradores da região, visitantes ou mesmo quem já passou uma madrugada no velório municipal ali instalado sabe muito bem o clima de medo que reinava naquele local. E nada a ver com assombrações ou seres do além, que – no imaginário popular – poderiam assustar os pobres mortais. O clima tenso da Vila Rio não é de hoje. Há muitas histórias de pessoas que foram abordadas e tiveram objetos furtados de seus automóveis e até mesmo que foram assaltadas em um momentode extrema dor.


 


Por muito tempo, a área do cemitério foi sendo invadida por moradores que consolidaram a construção de uma favela. Havia falta de muros, túmulos desaparecendo para dar lugar a barracos, por mais tenebroso que essa situação pudesse parecer. E as autoridades municipais pouco fizeram para conter o avanço daquela ocupação. Aliás, um problema secular desta cidade que se prepara para “comemorar” 450 anos. Por questões políticas e partidárias, muitas vezes os governos municipais não exercem o poder como deveria apenas para não se indispor com esses grupos.


 


Formou-se a favela que se mistura ao cemitério em diversos pontos. Por mais que muros tenham sido construídos, o acesso da comunidade ao cemitério é bastante fácil em vários pontos. Não há policiamente que possa conter as invasões a qualquer hora do dia ou da noite. E como pode ocorrer em qualquer favela, onde há pessoas de bem, mas também quadrilhas que se aproveitam das péssimas condições urbanísticas para se instalar, ali há inúmeras notícias sobre tráfico de drogas e crimes dos mais diversos.


 


Bastou para os grupos criminosos saberem da presença de um desafeto no interior do cemitério para buscar a justiça pelas próprias mãos. Aí, diante da falta de ações preventivas, não existe lógica para evitar a tragédia. Um bando entra atirando em um local tomado de pessoas de bem. O foragido da polícia, armado, revida e o estrago está feito. Nestes momentos, não existe lei nem ordem. Mas havia um clima de tensão no ar.


 


Houvesse um policiamento mais frequente – e mesmo no interior do cemitério por agentes da Guarda Civil – a tragédia poderia sim ser evitada. Que, pelo menos, após o leite derramado, as autoridades assumam que existe um problema real, uma fratura exposta para ser curada, e passem a agir. Caso contrário, o cemitério está fadado à morte.

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