As mudanças não pregam mais sustos nos integrantes dos Titãs. A saída de Arnaldo Antunes, lá em 1992, chegou a impactar a banda. A morte trágica de Marcelo Fromer, em 2001, fez com que eles pensassem em encerrar o grupo. Mas os desligamentos posteriores de Nando Reis, em 2002, Charles Gavin, em 2010, e, mais recentemente, Paulo Miklos, em julho deste ano – os três queriam seguir suas próprias histórias – foram encarados de forma mais leve. A conta disso vai para a maturidade adquirida pela banda ao longo dos anos. “A gente já viveu algumas vezes essas mudanças. Elas são naturais numa banda que vai completar 35 anos de carreira, com o número de pessoas que éramos. Com toda nossa experiência, a gente já aprendeu a lidar com elas. Fazem parte da nossa história”, pondera Branco Mello, baixista e vocalista da banda.
Branco é um dos remanescentes da formação, digamos, clássica dos Titãs, ao lado de Tony Bellotto e Sérgio Britto. Depois de Charles Gavin deixar a banda, Mario Fabre foi recrutado para ocupar a bateria – e participou do recente álbum deles, Nheengatu, de 2014.
Em julho deste ano, foi a vez de Beto Lee ser anunciado como novo membro após a saída de Miklos – segundo Branco, Beto foi uma escolha unânime entre eles. E é com essa nova formação que os Titãs se apresentam em São Paulo, nesta sexta-feira, 14, sábado, 15, e domingo, 16, no Teatro J. Safra. “Estamos fazendo show com o Beto desde agosto. Já estreamos, fizemos algumas modificações, algumas adaptações no show”, comenta ele. “A gente ficou tão animado que achou que devia mostrar logo essa nova formação em São Paulo antes de começar a falar do disco novo.”
O novo álbum ainda é sigiloso, brinca Branco. Mas adianta que está previsto para ser lançado em 2017. “A gente já está trabalhando nesse projeto novo, as músicas, as composições.” Essa ideia de fazer um novo trabalho já os rondava quando Paulo Miklos ainda fazia parte da banda. E após a separação de Titãs e Miklos, a amizade entre eles se manteve? “Sim, como todos, ainda mais agora com a nossa experiência, não tem por que acontecer uma ruptura maior. É vida seguindo”, afirma Branco.
E continua: “Separação é sempre uma coisa complexa, mas a maturidade nos leva a ter calma e inteligência para articular como a gente vai se reestruturar sem aquela peça, sem menosprezar ninguém. A banda é mais forte que os indivíduos, é o que a gente pensa. Então, a gente naturalmente se recompõe. E o que vai levar a gente a continuar fazendo essas coisas são os trabalhos que a gente vai fazer junto daqui para frente. E isso já está acontecendo no palco, trazendo músicas que a gente não tocava há muito tempo. Isso vai dando um frescor, uma vitalidade de continuidade”.
Entre as canções às quais eles se refere – essas que faz tempo que a banda não toca ao vivo -, estão Será Que é Isso Que Eu Necessito? e Nem Sempre se Pode Ser Deus, que fazem a dupla pinçada do álbum Titanomaquia, de 1993. O repertório do show reúne ainda canções de álbuns clássicos da banda, como Cabeça Dinossauro, dividindo espaço com músicas do recente Nheengatu. Mas nada é estagnado. Branco conta que eles estão sempre mexendo no set list e alguma ideia de música pode surgir no camarim, antes do início da apresentação.
Há também uma versão de Pro Dia Nascer Feliz (Cazuza e Frejat), sucesso do Barão Vermelho, que ganhou releitura titânica – e está na abertura da nova temporada de Malhação. “Uma coisa que não fazemos muito é cantar música de outros artistas, porque temos um repertório muito grande. Para recriar esse clássico do Barão, achamos interessante trazer nosso pensamento musical. Apesar de ser contemporânea, é uma banda que tem estilo um pouco diferente do dos Titãs.”
Nessa nova configuração de banda que se vê no palco, as duas guitarras – que são a marca dos Titãs – se sobressaem com as execuções de Bellotto e Beto. Foi necessária ainda uma redistribuição das músicas antes cantadas por Paulo Miklos. E, por causa desse redirecionamento, pela primeira vez, Bellotto está cantando ao vivo – em Pra Dizer Adeus, composição dele e Nando Reis. “Esse show é a celebração do novo momento”, diz Branco Mello. “E é prazeroso estar vivendo nesse momento novo.”
TITÃS
Teatro J. Safra. R. Josef Kryss, 318, Barra Funda, tel. 3611-3042. Hoje (14) e sáb. (15), às 21h30; dom. (16), às 20h. R$ 80/R$ 240.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.