Após passar por uma cirurgia de retirada de estilhaços de vidro e alguns resquícios de bomba caseira da panturrilha, o zagueiro Titi deu uma entrevista emocionante ao programa "Seleção SporTV". Com os olhos lacrimejando, o defensor detalhou o atentado sofrido pela delegação do Fortaleza após o duelo com o Sport pela Copa do Nordeste. O atleta trata a situação como "tentativa de homicídio" e afirmou ter sido um milagre ninguém ter morrido. O ataque ocorreu a 7 km da Ilha do Retiro.
"Não queria estar aqui para tratar desse assunto, que ainda me emociona muito. É triste a realidade que o nosso futebol está vivendo. Estamos postergando o que deveríamos ter feito há anos. Sofremos, o que muitos dizem, um caso isolado", abriu a entrevista em tom irônico, antes de tratar o caso com extrema seriedade. "É muito emocionante reviver isso. O sentimento é de gratidão a Deus, pois fomos livres de algo maior. Tememos encontrar algum atleta sem vida. Foi uma tentativa de homicídio. Só quem estava lá dentro consegue dimensionar esses 5, 10 minutos de terror. Os bandidos sabiam o que estavam fazendo e estávamos trabalhando. Fomos para Recife para trabalhar. O Fortaleza foi vítima do que o futebol está se desenhando há muito tempo", afirmou.
O defensor cobra punição das autoridades e não escondeu a insatisfação ao comentar sobre o que um ser humano é capaz de fazer. "A impunidade me deixa muito triste. A minha vida e a de meus companheiros estavam em risco. Foi um milagre. Jogo há mais de 15 anos e nunca passei por lesão. E por uma tentativa de homicídio eu estou afastado daquilo que mais gosto, que é jogar futebol. Nunca tinha entrado em um hospital para fazer procedimento, e tive que passar por isso. A maior dor não está na dor dos ferimentos, pois isso passa. A dor maior é ver a maldade no coração do ser humano. O sentimento de ver o grau de maldade da nossa sociedade é muito triste. Quando cheguei em casa, só quis abraçar meus filhos e dizer o quanto eu os amo. Atrás dos atletas, existe um ser humano, existe uma família", disse.
Sobre a CBF, a cobrança foi firme. "Enquanto os bandidos não forem penalizados, não deveria ter jogo, mas para o nosso país o importante é a bola rolar. Eu fiz um apelo para o Ednaldo Rodrigues (presidente da entidade). A gente espera que ele use o poder para algo maior, mas não obtive resposta. Não recebemos nenhum contato da CBF. Vão esperar alguém morrer? Mas os atletas também têm culpa. A bola rola porque nós jogadores decidimos assim. Se a gente não quiser, não acontece o jogo. Por mais que o atleta tenha poder, a gente não conseguiu entender a nossa grandeza no futebol", afirmou.
Titi ficará ao menos três semanas longe dos gramados até conseguir se recuperar totalmente. O jogador foi visto no Pici de muletas. Além do defensor, outros jogadores sofreram lesões graves, caso de Escobar e Dudu. Brítez, João Ricardo e Sasha também foram feridos, sem contar os traumas emocionais, caso de Lucero. Segundo Cláudio Maurício, médico do clube, foram mais de 1.200 lesões.
O presidente Marcelo Paz afirmou não querer entrar em campo até que ocorra punição à Torcida organizada Força Jovem do Sport. Até o momento, apenas uma pessoa foi identificada e assumiu participação no atentado. O clube estuda também abrir mão de disputar a Copa do Nordeste. A princípio conseguiu adiar o confronto com o Fluminense-PI, pela primeira fase da Copa do Brasil, para domingo, às 20h30, no estádio Lindolfo Monteiro.