O clarinetista e saxofonista Tito Martino é dos homens que a história parece procurar silenciosamente. Seu nome frequenta guias e roteiros de shows de São Paulo há mais de 50 anos, desde que decidiu atender ao chamamento do jazz. E não o cool ou o free jazz, que dialogariam mais naturalmente com as intenções do instrumental brasileiro, mas talvez a parada mais dura para um não nascido nas terras de Louis Armstrong. Tito escolheu o traditional jazz.
O que ele faz à frente de seu grupo é algo que já tirou exclamações de críticos da revista Downbeat (“gostaria de saber se algum norte-americano tocaria samba tão bem quanto ele toca jazz”), New York Times (“eles tocam o jazz autêntico”) e Washington Post (“é como descobrir que o cozinheiro de uma embarcação francesa é indonésio, e não francês”). O show que ele volta a fazer com sua Tito Martino Jazz Band em São Paulo será nesta quinta, 10, a partir das 20h30, no Teatro São Pedro.
Tito se especializou a ponto de ensinar. Sua apresentação passa por três vertentes das seis que existem no jazz tradicional: o dixieland (de New Orleans), o swing (do clarinetista Benny Goodman) e o mainstream jazz dos anos 1950. Seus músicos são o pistonista Carlos Lima, o pianista Ricardo Daud, o banjoista e guitarrista Ciddy Junior, o contrabaixista Zeca Araujo e o baterista, e tocador de washboard Paulo de Lima. Os convidados são o pistonista croata André Busic, o vibrafonista André Juarez, a cantora paulistana de raro envolvimento com a linguagem do jazz de Bessie Smith, Djane Borba, e o quarteto vocal Jazzy Ladies. O grupo de dançarinos Vintage Dancers vai mostrar a cultura das pistas dos anos 1950, com performances de lindy hop.
Depois de ter um começo no banjo, ainda quando fazia cursinho, antes de passar ao clarinete, Tito fez mergulhos cada vez mais profundos. Foi um dos fundadores da Traditional Jazz Band, grupo com o qual tocou por 20 anos e, em 1975, com a formação original, ganhou o prêmio de melhor banda estrangeira no cultuado Festival de Jazz e Blues de New Orleans. Seguiu por palcos de Portugal, Suécia, Suíça e outros países. Considera o ritmo um “tesouro cultural” e explica: “As pessoas saem enriquecidas depois de um show de jazz”.
Em 1968, foi acordado em uma noite por um telefonema de Allan Fisher, cônsul dos EUA no Brasil. “Vá para a boate de bossa nova que fica em frente ao La Licorne, vou levar o Oscar Peterson para lá.” Peterson, o gigantesco pianista, estava em São Paulo, havia acabado de se apresentar no Teatro Municipal. Tito seguiu para o destino com seu instrumento e logo assumiu a cena para uma canja. Oscar se ouriçou. Comentou algo com o empresário e não se conteve. Subiu ao palco, ao lado de Tito, começou a tocar. Tito, olhando as mãos de Peterson e incrédulo com o que ocorria, não entrou quando deveria. “Play, man!”, gritou o pianista. Foi uma demolição. Só quem estava lá viu a noite que ficou para sempre. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.