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Tito Prates revela a sua idolatria em biografia de Agatha Christie

O dentista e administrador de empresas Tito Prates tem uma paixão literária tão forte que o torna incomum. O bom observador que notar o bigode que ele costuma usar entre julho e setembro (período em que se comemora o aniversário de sua autora preferida) poderá descobrir o nome da escritora – bem delineado e com as pontas viradas para cima, no formato de um gancho, é uma das marcas principais do detetive Hercule Poirot, criado há exatos cem anos por Agatha Christie (1890-1976), a romancista mais bem-sucedida da história da literatura popular mundial, com cerca de 4 bilhões de cópias vendidas de todas suas obras.

Tito é mais que um fã, é um profundo conhecedor da carreira artística e pessoal de Agatha, autora de 80 romances policiais e compilações de pequenas histórias, além de 19 peças e seis romances escritos sob o nome de Mary Westmacott. Todos esses livros foram lidos por Tito, e mais de uma vez. Ele também iniciou uma invejável coleção, que inclui raras primeiras edições, fotos, programas de teatro. E seu conhecimento é tamanho que Tito recebeu o cargo de embaixador brasileiro de Agatha Christie, concedido por Mathew Prichard, neto e administrador do legado da escritora.

“Existe apenas um outro embaixador, nos Estados Unidos”, conta ele, que se prepara para lançar o livro Agatha Christie From My Heart – Uma Biografia de Verdades (Editora Illuminare), obra que tem a bênção do espólio da autora. O lançamento será no dia 31 de agosto, às 19 horas, na Bienal Internacional do Livro, em São Paulo. Outra tarde de autógrafos está prevista para o dia 10 de setembro, na Livraria Martins Fontes da avenida Paulista, às 15h30.

Tito se descobriu apaixonado por Agatha Christie quando tinha 9 anos. “Eu tinha uma tia que era excelente contadora de histórias e me contou o enredo do Um Destino Ignorado. Gostei, quis ler mais e ganhei outros 10 livros da escritora de uma amiga da minha tia”, conta ele. “Com 18 anos, eu já tinha lido duas, três vezes cada livro de toda a obra. No início dos anos 2000, participei de um BBB da Agatha Christie no Orkut. Os participantes entravam numa casa, eram feitas perguntas e os que erravam mais eram assassinados até sobrar um: eu. A partir daí, comecei a conhecer melhor a mulher, que é muito mais interessante que a autora. É preciso saber quem ela era para descobrir onde estava escondida na obra. Ela confessou isso para o segundo marido, Max Mallowan.”

A admiração logo se tornou paixão e Tito não apenas passou a conhecer em detalhes a história pessoal e profissional de Agatha Christie como também se tornou um colecionador obsessivo. “Eu pesquisava diariamente nas páginas de livrarias virtuais em busca de novas raridades. Foi assim que consegui, por exemplo, um raríssimo exemplar da primeira edição da tradução brasileira de O Caso dos Dez Negrinhos, de 1943, da editora Globo gaúcha”, conta ele, que também desenvolveu um olhar crítico sobre as versões nacionais. “Agora, melhorou bastante”, ressalva. “Em 1975, saiu Cai o Pano, traduzido por Clarice Lispector, e aqui não há o que mexer. Mas, em geral, não eram tão boas. A primeira edição da autobiografia tinha erros graves. Gosto das versões mais antigas porque Agatha tinha uma linguagem popular, mas não usava termos populares demais. Ela não diria bacana como aparece em algumas traduções.”

Curiosamente, Tito não tem Hercule Poirot como seu personagem preferido, posto ocupado por Miss Marple. “Quem conhece Agatha, sabe que ela tinha Poirot como meio de trabalho – no início da carreira, quando Agatha tentava se afastar de Poirot, os editores pediam que voltasse a ele. Ela se sentiu amarrada ao detetive. Há uma carta curiosa de um editor americano para um colega inglês, escrita durante a 1ª Guerra, em que ele confessava seu temor de Agatha estar deprimida por causa do conflito, o que a teria convencido a escrever uma trama em que descreve a morte do Poirot. A história só seria publicada caso algo acontecesse com ela. Eu, ao contrário, acredito que Agatha se divertiu ao matar Poirot, para, enfim, se livrar dele, sem saber que ainda estaria amarrada ao personagem por mais de 30 anos.”

Tito prefere Miss Marple por sua veracidade. Segundo ele, depois de 1960, Agatha sentiu a necessidade de abandonar a visão vitoriana da própria avó e floresceu como Miss Marple, colocando crítica social em suas histórias. Tanto que seu livro preferido da romancista inglesa é Um Crime Adormecido, justamente com Marple como protagonista.

Não é novidade que o dentista é o principal divulgador da obra da escritora nas redes sociais do Brasil – ele comanda o site Agatha Christie Brasil, que soma 3.800 pessoas no grupo, e também a página Agatha Christie Brasil e Língua Portuguesa, seguida por 4.800 pessoas do mundo inteiro. Curiosamente, hoje há um grande interesse de fãs da Índia.

E por que Agatha Christie ainda é tão admirada por uma legião de fãs? “O grande valor da obra dela é apresentar os 50 anos de evolução de uma sociedade, um período que compreende duas guerras mundiais e o tempo entre elas. Ou seja, as histórias de Agatha vão da 1ª Guerra até os anos 1970”, diz ele, que arremata: “Não bastasse tudo isso, os livros dela me permitiram conhecer e formar amigos no mundo inteiro, pessoas que nutrem a mesma paixão.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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