Variedades

Tizuka, do Pará a Santos Dumont

A cabeça da Tizuka Yamasaki já vislumbra novos trabalhos no cinema e na televisão, mas seu coração ainda está muito ligado a seu filme Encantados. O longa já participou de vários festivais, como a 20.ª edição do Brazilian Film Festival of Miami, na abertura do evento, no dia 17, mas ainda não conseguiu entrar em circuito comercial.

E isso causa inquietude à diretora, como se desejasse que um filho seguisse seu caminho com as próprias pernas. Encantados foi rodado entre 2008 e 2009. Entretanto, essa história inspirada na pajé Zeneida Lima, personagem real da Ilha do Marajó, já está na vida de Tizuka há uma década.

A falta de verba acabou atravancando o que poderia ser uma trajetória bem mais fluida para o filme. “Ele tem uma temática muito estranha para o mercado tradicional. Quando eu estava procurando os exibidores, distribuidores, o filme era muito rejeitado, porque a gente viveu um período que era o mercado das comédias cinematográficas”, justifica Tizuka. “Meu filme não é uma comédia, você ri, mas não é uma comédia. Então, ele foi muito rejeitado pelo mercado. Até que, com o Prêmio da Juventude, da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a H2O bancou o filme, mas sinto que eles têm dificuldades também junto aos exibidores. Você mostra um filme de uma menina que quer ser pajé na Amazônia, é tudo muito estranho. Eu compreendia isso, mas, na hora que decidi fazer o filme, decidi comprar essa briga. Não posso desistir.”

E, seguindo essa missão, no festival em Miami, além de exibir Encantados, Tizuka foi tratar de colocá-lo para caminhar. Num almoço de negócios, encontrou representantes de várias empresas que, segundo ela, comentaram a “ótima repercussão” do filme e fez outros contatos importantes.

“A Riofilme confirmou o desejo de participar no lançamento comercial do Encantados. Diante de tudo isso, não tenho dúvida do sucesso do filme. E fico feliz, pois também sinto que o filme poderá ter uma carreira internacional”, comemora a diretora.

Com orçamento previsto em R$ 10 milhões, Encantados acabou custando R$ 6 milhões. Tizuka acabou economizando ao rodar o filme no Rio de Janeiro, já que, no Pará, as distâncias são “amazônicas”, como descreve a própria diretora, e lá chove todos os dias. “Mas, durante mais de uma semana, fizemos (imagens) aéreas, os rios, os animais, tudo o que garantia a paisagem do Pará.”

O elenco traz atores conhecidos, como Letícia Sabatella, Angelo Antônio, José Mayer, Thiago Martins, Anderson Müller. E também a então garota Carolina Oliveira e Dira Paes, que chamam atenção pelas interpretações marcantes.

“Tem muita gente que reclama: a Tizuka pede R$ 10 milhões de captação. Peço, mas eu levo o dobro do tempo de quem pediu R$ 4,5 milhões. Então, são elas por elas. Mas meus filmes, como Gaijin – e isso deve acontecer com Encantados -, são títulos que as escolas usam até hoje como referência, têm uma vida muito longa.”

Pai da aviação. Para Tizuka Yamasaki, a onda das comédias brasileiras no cinema passa. “Todo cinema tem de ter de tudo.” E ela é apaixonada particularmente pelos filmes históricos. Por isso, um dos projetos que planeja desengavetar é sobre o brasileiro Santos Dumont, conhecido como o pai da avião. Esse projeto tinha nascido nos anos 1980, num acordo de França e Brasil.

“Levantei toda a grana na França, mas não levantei a parte brasileira. Quando surgiu a Lei do Audiovisual, achei que teria condições de fazer, mas a lei ainda não era muito conhecida. As empresas estavam meio que tateando, tive de arquivar outra vez”, lembra ela. “Agora, é época de fazer projetos parados. Estou com 67 anos, eu brinco que meu prazo de validade está acabando. Se eu não fizer o Santos Dumont nos próximos anos, depois não vou ter força, energia de batalhar por esse projeto.”

Mas Santos Dumont não é um personagem que tem apelo na hora de atrair patrocinadores? “Sim, é o único herói da área científica do Brasil. A gente não é só um país do futebol e do samba. A gente é um país também da tecnologia, e temos um cara que se criou e morreu no País e as pessoas não o conhecem. Todo mundo acha que ele é aquele velho chato com chapéu enterrado na cabeça e não era. Era um garotão louco para desafiar o mundo, que teve o privilégio de nascer rico e, por isso, ele pôde fazer essas várias experiências”, diz a diretora.

Tizuka prefere não revelar em quem pensa para o papel principal, mas diz já ter um ator em mente. “Tenho de fazer um elenco muito alto para ele parecer mais baixo”, comenta. Nos anos 1980, quando a ideia do filme surgiu, Lauro Corona estava entre suas escolhas. Ela conta também que tinha pensado no ator Domingos Montagner, morto no último dia 15, para viver o pai do aviador, grande incentivador de Santos Dumont. “Falo que faço cinema para conhecer a vida.

Pego um tema que eu desconheço e me aprofundo naquilo”, diz Tizuka. “Cada filme é uma transformação.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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