Mundo das Palavras

Todo mundo, hoje, quer escrever

Parece uma ironia: exatamente quando educadores conservadores e apocalípticos trombeteavam o fim dos tempos para a produção escrita, como conseqüência do progresso da tecnologia na área da comunicação entre as pessoas, a criação do texto ressurge como uma prática social extremamente valorizada.


 


Poderia ser diferente? Quem já acompanhou, passo a passo, o aprendizado da escrita, ao longo da criação de um filho, sabe muito bem quantas habilidades diferentes entram em jogo neste complexo processo. Habilidades intelectuais e motoras que se enraízam profundamente em cada um de nós. E, as quais empregamos num número infinito de situações da vida social.


 


Portanto, em vez de supor que novas tecnologias de comunicação pudessem travar e até anular o desempenho alcançado por alguém no uso destas habilidades, o mais razoável não teria sido, desde logo, supor que tais tecnologias iriam ampliar e melhorar aquele desempenho? 


 


Pois é precisamente o que está ocorrendo – demonstrou, baseado em pesquisas, o publicitário Nizan Guanaes, no artigo “Escrevendo pelos cotovelos”.


 


Nizan faz esta revelação: os telefones celulares, entre os adolescentes, já são mais usados para escrever do que para falar. E ele acrescenta: é um fenômeno global.


O mais animador Nizan revelou depois. Os adolescentes estão adquirindo um treinamento de verdadeiros autores profissionais, como os publicitários, já que, através de torpedos enviados pelos celulares, expressam pensamentos em textos curtíssimos. Isto, prosseguiu Nizan, traz vantagens óbvias sobre a conversa. Os microtextos são objetivos, concisos, e, permanentes. Embora menos elaborados que os da literatura tradicional, são, ainda, mais espontâneos e genuínos. E, ultra-funcionais.


 


Nizan admite que os adolescentes possam estar abandonando os grandes textos literários. Em contrapartida – sustentou ele -, estão produzindo, em massa, um tipo de texto capaz de abrir novos caminhos para a Literatura.


 


A valorização da produção textual através da inovação tecnológica, já havia percebido sido percebida, por um escritor, Mário Prata, há quase dez anos. Numa crônica, intitulada “Minhas Letras”, publicada em 2001, Prata disse que, com o uso do computador, pela primeira vez, na História da Humanidade, as pessoas estavam se conhecendo através de seus textos, antes de se verem pessoalmente. “Isso envaidece qualquer escritor”, ele acrescentou. “Jamais, em tempo algum, o brasileiro escreveu tanto. E se comunicou tanto. E leu tanto. E amou tanto”, disse ainda o escritor.


 


Nunca o brasileiro criou tantos relacionamentos afetivos, através da troca de textos, como, agora, na internet, anunciou, há poucos dias, a Folha de São Paulo, numa reportagem. O jornal pareceu confirmar a observação de Mário Prata feita em 2001. Título da sua reportagem: “Amigo virtual vira real para 38% dos jovens, diz estudo”.


 


Um levantamento realizado pelo Portal Educacional, com mais de dez mil adolescentes, em 75 escolas privadas de todo o país – o estudo mencionado pelo jornal – mostrou também que cinqüenta e três por cento destes jovens tem vontade de trazer para a vida real deles pessoas com as quais se comunicam apenas por meio de textos, na internet.


 


Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP


        


 

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