O novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, não confirmou a permanência de Leandro Daiello no comando da Polícia Federal. Em sua primeira entrevista coletiva, na tarde desta quarta-feira, 31, no Palácio do Planalto, ele evitou responder sobre demarcação de terras indígenas e ironizou uma pergunta sobre a falta de experiência dele na área da segurança pública em meio à grave crise de violência nas cidades e no campo. “Minha experiência com segurança pública foi ter duas tias e eu próprio que fomos assaltados em Brasília e no Rio de Janeiro”, respondeu, em tom de ironia. “A pasta é muito grande. Ninguém chega lá conhecendo tudo.”
Na conversa com os jornalistas, logo após tomar posse, Torquato Jardim disse que iniciará conversas com o diretor-geral da Polícia Federal para tomar uma decisão. A primeira delas ocorrerá durante viagem que fará com Daiello para Porto Alegre, nos próximos dias. “Só daqui a três meses poderei responder a pergunta”, disse ao ser questionado sobre uma possível mudança na cúpula da polícia.
Ele chegou à entrevista com uma folha de papel com cinco “questões” abordadas pela imprensa desde domingo, quando o presidente Michel Temer decidiu transferi-lo da pasta da Transparência para a Justiça. A Lava Jato foi o primeiro item lido por ele. Ao comentar sobre o tema, Jardim rebateu a avaliação de que tem posição contrária à continuidade da Lava Jato e que irá usar a PF para neutralizar os agentes federais que atuam na força-tarefa da operação. “A Lava Jato é uma demanda da sociedade brasileira”, afirmou. “Não deve haver dúvida alguma de que apoio a Lava Jato”, completou. “A Lava Jato é uma vontade de Estado, uma oportunidade única para o Brasil ter um novo momento de ética pública.”
No segundo item, ele disse que deverá fazer mudanças “mínimas” de pessoal no Ministério da Justiça e, em especial na Polícia Federal. A permanência de Daiello dependerá de uma série de avaliações, segundo ele. Questionado se essa dúvida sobre a continuidade do diretor-geral da PF não é uma forma de enfraquecê-lo, Jardim disse que ele próprio, como ministro, depende de avaliações constantes. “Eu também estou sendo avaliado. Posso ir embora a qualquer momento.”
A terceira questão lida por Jardim foi a avaliação de que foi escolhido para o ministério para atuar, na prática, como advogado do presidente da República no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão que vai julgar ação contra a chapa Dilma Rousseff – Michel Temer nas eleições de 2014. O novo ministro disse que, se fosse para atuar na “sombra”, era melhor ir para “advocacia” ou permanecer na Transparência, ministério de menor expressão.
Jardim, ao ler o quarto item, comentou especificamente sobre o processo contra Temer no Supremo Tribunal Federal (STF), a partir da delação do empresário Joesley Batista, dono da empresa JBS. Batista gravou conversa polêmica com Temer no Palácio do Jaburu. O ministro da Justiça afirmou que precisava ler os autos para tomar uma posição. Um jornalista, depois, perguntou se cabia a um ministro atuar nesse caso. Jardim, então, retrucou que precisava conhecer o processo até para “responder” perguntas da imprensa. Por fim, ele descartou a possível extinção do Ministério dos Direitos Humanos e a volta do tema para a Justiça.