A Toyota apresentou nesta segunda-feira, 19, em São Paulo, o primeiro protótipo do mundo de um carro híbrido flex, que pode ser movido tanto com energia elétrica quanto pelo motor a combustão flexível a gasolina e etanol. A montadora afirma que ainda não sabe quando vai começar a produzir o carro, mas espera que o governo brasileiro dê incentivos para ajudar a tirar do papel o protótipo, desenvolvido por engenheiros brasileiros e japoneses.
Em discurso no evento que apresentou o carro, o presidente da empresa para a região da América Latina e Caribe, Steve St. Angelo, afirmou que, “com os incentivos e apoios certos, o protótipo pode se tornar realidade”. “O Brasil pode ser o primeiro país do mundo a experimentar essa tecnologia”, disse também.
A tecnologia híbrido flex está sendo testada no modelo Prius, um híbrido importado desde 2013 que até o momento não é flex, pois o motor a combustão funciona somente com gasolina. Em seu primeiro teste, um modelo do automóvel sai nesta quarta de São Paulo e vai até Brasília, passando antes pelo interior paulista, Minas Gerais e Goiás.
St. Angelo garantiu que o fato de Brasília ser o destino final do teste nada tem a ver com pedidos ao governo. Segundo ele, é porque a Universidade de Brasília (UnB) é uma das parceiras da montadora nas pesquisas que envolvem a tecnologia.
De qualquer forma, o executivo ressaltou que a ajuda do governo será muito bem-vinda para que um dia o protótipo passe a ser produzido no Brasil. “Você não pode ir adiante sem parcerias e cooperação. Nenhuma empresa consegue fazer tudo sozinha. O governo não pode fazer tudo sozinho, nem a indústria de cana-de-açúcar consegue fazer tudo sozinha. É tudo sobre apoio e parcerias. Essa é a mensagem”, disse.
Ele negou que o Rota 2030, programa do governo para o setor automotivo que está sendo discutido desde o ano passado e cujo anúncio ainda não tem data, seja “essencial” para que o projeto saia do papel, mas admitiu que “ajuda”. O executivo disse que o protótipo começou a ser pensado em 2012 e afirmou que ainda não há previsão para que a produção tenha início.
O principal motivo da demora do governo em anunciar o Rota 2030 é a falta de consenso quanto a incentivos fiscais para investimento pesquisa e desenvolvimento. Por enquanto, a proposta mais avançada é de que a prevê o uso da Lei do Bem, que deduz o investimento na tributação do lucro das empresas.
A Lei do Bem é vista com preocupação pelas montadoras, que alegam que, em razão da crise, ainda vão demorar muitos anos para voltar a lucrar e, portanto, não conseguiriam usar o benefício no curto prazo. O governo rebate o argumento dizendo que o Rota 2030 está sendo elaborado para durar 15 anos e que, em algum momento, com a recuperação da economia brasileira, as empresas vão deixar de dar prejuízo.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, esteve no evento que apresentou o carro e disse que está lutando para que o programa seja anunciado. “Um dos pilares é a questão do apoio à pesquisa e desenvolvimento, só com isso podemos desenvolver tecnologias mais adequadas para o nosso mercado”, afirmou.
As montadoras também têm buscado reforçar a importância do incentivo ao etanol no Brasil, com a justificativa de que a tecnologia é limpa e foi desenvolvida no País. A indústria da cana-de-açúcar, naturalmente, apoia a ideia. “Temos de valorizar aquilo que nós aprendemos, que nós fizemos, que temos experiência”, disse a presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Elizabeth Farina, que também participou do evento.