Vejo pelos jornais a retirada dos trailers do CECAP como resultado de uma má condução da política pública assim como aconteceu pouco tempo atrás no Lago dos Patos, vou começar por lá.
Por volta dos anos 2000 haviam diversos traillers em frente ao Coreto e Teatro Nelson Rodrigues servindo lanches e comida de rua aos frequentadores do Lago. A Prefeitura atenta as condições estéticas e de higiene resolveu criar quiosques de alvenaria em outra rua, mas de frente ao Lago, permitindo que os comerciantes ocupassem numa nova configuração e com melhor qualidade do serviço. A ideia foi excelente e logo ajudou a qualificar o lazer naquele espaço. Contudo por erros de continuidade no projeto não regularizaram a ocupação/licitação deste tipo de comércio deixando todos os empresários sem licenças e garantias.
Anos de complacência, e recorrendo a amigos na Câmara e Prefeitura, toda fiscalização feita ali era adiada. Ao longo dos anos essa instabilidade do negócio não permitiu a melhoria dos serviços e a qualidade se estagnou. Numa ordem e denúncia no Ministério Público, aliada a falta de planejamento e diálogo em mais de 15 anos, levou a derrubada de todos os trailler’s deixando todos os empresários na míngua. Alguns eram criticados pelos serviços, mas a população pouco sabia da importância daquele comércio ali: tanto para gerar mais segurança, quanto pela manutenção dos banheiros (eram os comerciantes que se juntavam e cuidavam do banheiro público). Zelosos no espaço diversas vezes eles ajudaram a cuidar do lago e participaram de protesto em prol da melhoria. Eram importantes atores sociais. O que se viu depois da derrubada foi uma jardinagem e a perda de empregos e do encanto de apreciar o entardecer do lago nos charmosos espaços.
Tem muito ‘pano nessa manga’ de discussões só coloquei detalhes para evidenciar que por trás há muita contradição e discussão neste tipo de ocupação do lugar público. A baixa qualificação do serviço serve hoje de argumentação para a saída deste comércio também no CECAP. Lá, a tradição é muito mais antiga, sendo eles os primeiros equipamentos de lazer num bairro que se construiu sem estar completamente pronto. Anos sem regularização e falta de um planejamento público levam hoje ao conflito e a saída com muitos prós e contras.
Do ponto de vista da política pública as ocupações dos espaços devem ser pensadas. A experiência de Guarulhos é muito atrasada. Ao invés de se discutir, formar grupos, buscar soluções para regularização e apontar caminhos para melhoria (uma vez que a gente reconhece a importância do comércio de rua) para-se tudo, destrói-se tudo, manda-se fechar. Comenta-se que haverá uma nova configuração e novos espaços serão criados para remanejar os comerciantes, mas a política já está errada, o novo espaço já devia estar pronto antes da retirada! Se olharmos a experiência do que foi o Lago dos Patos, não surgirá nada. Marcas de um governo sem competência.
O espaço público está sendo discutindo no mundo inteiro e avançam as iniciativas de placemaking, parklet’s e ocupação temporária. A cidade precisa avançar nisso e pensar no Lazer com muito mais técnica e qualificação. Colocar as técnicas da hospitalidade e do Turismo, junto com parcerias com entidades como o SEBRAE e agências de inovação podem ajudar a melhorar dos negócios e ambiente para este problema complexo e fazer com que a população tenha um serviço de melhor qualidade, onde os empresários possam gerar emprego e renda para os espaços. Evidente que essas soluções dão mais trabalho mas é único caminho coerente para se construir uma cidade sustentável e harmônica.
Danilo Ramalho
É professor universitário, escritor e candidato a vereador em 2016 pelo PV