A abertura do comércio vai encontrar em breve o consumidor pós-pandemia. Assim, algumas empresas são autênticas representantes de um novo modo de pensar e agir, mais coerente com o presente. O comportamento que guiará essa fase é chamado aqui de tríade do novo varejo e consiste nesses três pilares: consciência, propósito e consumo.
O novo consumidor pós-pandemia, a partir de uma percepção atenta, desperta e, portanto, consciente, entende e deseja a compra como reflexo de um propósito. Consumir pela simples ânsia de ter/possuir/exibir será ressignificado, não porque quisemos, mas por termos feito parte de um movimento acelerado de transformação mundial. A crise emocional gerada ao consumirmos ou ostentarmos produtos sem sentido ganha espaço e força.
A partir de agora será natural a procura por empresas que nos deixem confortáveis emocionalmente ao consumir, seja por ajudarem socialmente ou por não prejudicarem o meio ambiente. Marcas terão de "prestar contas" de suas atitudes e, assim como pessoas, definir valores, escolher suas turmas e contribuir para um mundo mais equilibrado.
"A compra da arte é toda a partir de propósitos", diz Paula Costa, artista plástica que tem em seu trabalho esse pensamento como fio condutor. "A arte abre portas para diversas emoções, além de trazer beleza e inspirar por meio de histórias contadas por imagens. Tudo isso nos faz refletir, nos humaniza e cria conexões." O artista do Recife, Samuel de Saboia, explica a arte como um templo onde ocorre a metamorfose, a vivência e a restauração. Uma vida em telas.
Entender o consumo de arte pelo testemunho de quem a coleciona mostra que o propósito realmente move o mercado. "Um consumidor de arte que compra, por exemplo, a obra da Paula Costa que traz a palavra vida escrita em uma rosa, se sente atraído por essa explícita manifestação da vida contida na própria fotografia", explica Marcos Amaro, artista, colecionador e proprietário da galeria Kogan Amaro, ao lado da esposa Ksenia Kogan Amaro, com sede em São Paulo e em Zurique. "Claro que muitas obras não trazem uma mensagem tão clara, mas, como colecionador, posso afirmar que a arte tem que nos dizer algo pessoalmente para que o desejo de consumo aconteça."
Lissa Carmona, referência no mercado de design e nome à frente da Etel, especializada em mobiliário brasileiro, tem uma visão clara sobre a consciência de quem escolhe consumir design. "O respeito à criação, à autenticidade e ao direito autoral é a missão da Etel", diz Lissa, que tem como prioridade a preservação da memória dos grandes designers e a manutenção de seus legados. "A história do design brasileiro é um movimento de importância mundial. Dediquei os últimos 20 anos a projetar esse reconhecimento no cenário internacional", afirma.
"Consumir mobiliário de design nacional é valorizar a cultura brasileira", completa.
A moda, como roupa propriamente dita, também entra nessa nova fase e o comportamento de consumo trará mudanças ainda mais significativas, já que o mercado tinha na compra por impulso um dos seus pilares.
Rafaella Caniello, jovem empreendedora e diretora criativa por trás da Neriage, diz que a palavra que dá nome à sua marca remete ao propósito da sua vida e do seu trabalho.
"Neriage é usada para definir a técnica de trabalho utilizada na cerâmica japonesa e significa misturar várias argilas de cores diferentes para produzir um efeito marmorizado que, mesmo com a beleza do processo completo, mantém também os aspectos particulares de cada etapa", explica. "Fazendo um paralelo, na minha marca, várias pessoas produzem uma parte e, juntas, produzimos um efeito harmônico em uma cadeia 100% ética. Quem compra Neriage entende e valoriza o processo de criação e construção da peça", diz.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>