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Transporte individual supera coletivo pela primeira vez em 20 anos em SP, aponta pesquisa

Pela primeira vez em duas décadas, moradores de São Paulo passaram a preferir alternativas individuais de transporte, como carros particulares, táxis, motocicletas e aplicativos ao transporte coletivo, conforme dados da Pesquisa Origem e Destino.

Realizado pelo Metrô de São Paulo, o levantamento revela que a escolha por trem, metrô e ônibus diminuiu em todas as sub-regiões metropolitanas e da Grande São Paulo. As quedas mais expressivas ocorreram nas regiões Sudoeste, em Embu das Artes e Itapecerica da Serra (27,5%); Oeste, que engloba Barueri e Osasco (21,9%); e Sudeste, no ABC (33%).

Paralelamente, o estudo aponta o fortalecimento do transporte individual, com um crescimento de 22% na frota de veículos particulares nas regiões, totalizando 5,3 milhões de unidades. 

O comportamento reflete não apenas uma preferência crescente dos usuários, mas também desafios estruturais que afetam a qualidade e a eficiência do transporte público. Essa tendência não se restringe à capital paulista e tem se repetido em diferentes regiões do país.

O aumento do uso do transporte particular individual traz outra mudança para a dinâmica econômica: incentiva mais motoristas a ingressarem na atividade. Até mesmo quem não possui um veículo em condições para a atividade tem como alternativa optar pelo aluguel de carro de aplicativo em São Paulo. Assim, outras formas de geração e circulação de renda são estabelecidas.

Motivos para a queda de uso do transporte coletivo

Outros dados da Pesquisa Origem e Destino ajudam a entender melhor o cenário e os fatores que levaram à redução do uso do transporte coletivo. Desde a pandemia da Covid-19, os moradores de São Paulo passaram a sair menos de casa, utilizando trens, metrôs e ônibus.

O levantamento revela que a quantidade de usuários não foi recuperada após o fim da crise de emergência sanitária. Se, inicialmente, as restrições foram motivadas pelo coronavírus, agora os hábitos adquiridos nesse período – como trabalho e ensino remoto, compras on-line e telemedicina – têm contribuído para a menor demanda pelo transporte público

A pandemia também impulsionou a migração para alternativas individuais devido ao isolamento social. Mesmo após o fim das restrições, muitos continuaram priorizando esse modelo de deslocamento.

A adesão aos aplicativos de transporte também reflete nessa preferência. Segundo informações divulgadas pela empresa Uber, 125 milhões de brasileiros já utilizaram o serviço pelo menos uma vez, o que corresponde a, aproximadamente, 80% da população adulta do país. O número é ainda maior se forem considerados todos os aplicativos de transporte.

Tendência nacional

A queda no uso do transporte coletivo não é exclusiva da Grande São Paulo. Dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) apontam que, em dez anos, os ônibus perderam 44,1% de seus passageiros em todo o Brasil.

A entidade também destaca a pandemia e o crescimento do home office como fatores que explicam a redução. Por outro lado, o cenário abre oportunidades para brasileiros que buscam alternativas de renda. O aluguel de carro de aplicativo em Porto Alegre, por exemplo, tem um custo menor para motoristas, como ocorre em outras regiões do país.

O crescimento do uso desses aplicativos foi tema da Pesquisa CNT de Mobilidade da População Urbana 2024, realizada pela Confederação Nacional do Transporte. O estudo comparou dados colhidos em 2023 com os da pesquisa anterior, de 2017. Enquanto no primeiro levantamento apenas 1% dos entrevistados consideravam Uber e 99 como meios preferidos de locomoção, no segundo esse percentual saltou para 11,1%.

Os principais fatores apontados pelos usuários para essa escolha foram conforto (28,7%), falta de flexibilidade dos serviços coletivos (20,7%) e o tempo de viagem (20,4%). Para muitos, os aplicativos oferecem uma solução eficiente para esses problemas.