As autoridades públicas de saúde e infectologistas discordaram da recomendação dada por colégios particulares de São Paulo para que alunos que tenham viajado ao exterior fiquem em quarentena por 14 dias ainda que não apresentem sintomas. Para os especialistas a orientação não segue as recomendações dos órgãos de saúde ou por evidência científica para combater a circulação do coronavírus.
"Escolas, sejam públicas ou particulares, devem seguir as normativas da Organização Mundial da Saúde OMS e do Ministério da Saúde. Esse tipo de orientação traz confusão e pânico a todos, sem qualquer sustentação na literatura", disse o infectologista Jean Gorinchteyn. Para ele, a conduta só deve ser tomada caso as crianças apresentem sintomas da doença, não antes disso. O isolamento de pessoas com sintomas também deve ocorrer caso elas tenham entrado em contato com alguém que tenha viajado.
Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, 2, Wanderson de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, pediu "bom senso" e reforçou que o governo "em nenhum momento" orientou pessoas a não irem à escola ou ao trabalho. Na semana passada, David Uips, coordenador do Centro de Contingência para o Coronavírus em São Paulo, também já havia alertado que não há, por enquanto, nenhuma recomendação nesse sentido.
"Decisões como essa são de política pública e a responsabilidade por elas é do Ministério da Saúde. Se cada um começar a fazer o que quer, isso vai acabar mal", disse. Segundo os infectologistas, a decisão individual é "inócua" para conter a circulação do vírus, causando apenas pânico sem ser efetiva.
"Faz sentido, do ponto de vista epidemiológico, a quarentena de países com grande incidência de casos, mas não vai conter o avanço do vírus. Daqui duas ou três semanas, não vai mais fazer sentido dizer de onde a pessoa veio ou não, vai haver transmissão local no Brasil. É inexorável", disse Francisco de Oliveira Junior, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.