Variedades

Três livros sobre a arte de edificar são lançados simultaneamente

Três livros que estão sendo lançados simultaneamente por diferentes editoras cobrem todos os períodos de construção do patrimônio arquitetônico da humanidade, desde os assentamentos de caçadores no Oriente Médio neolítico (10.000 a.C) ao Bosco Verticale de Stefano Boeri, floresta vertical plantada em duas torres projetadas em 2014 pelo arquiteto italiano em Milão. O livro que resume essa história chama-se Tudo sobre Arquitetura (Editora Sextante) e foi organizado por uma equipe de especialistas sob a supervisão de Denna Jones. O segundo é um clássico que vai completar 20 anos e ganha agora uma edição em português, A Coluna Dançante (Editora Perspectiva), do historiador de arte britânico de origem polonesa Joseph Rykwert. Nele, o veterano autor explora o contexto antropológico em que as colunas antigas – pilares de toda a arquitetura ocidental – foram criadas.

Finalmente, Arquitetura em Diálogo, publicado pela Cosac Naify, reúne dez entrevistas com arquitetos contemporâneos realizadas pelo especialista Alejandro Zaera-Polo para a revista El Croquis nos anos 1990.

A correspondência entre passado e presente é feita logo no prefácio de Tudo sobre Arquitetura pelo respeitado arquiteto inglês Richard Rogers, parceiro de Renzo Piano no projeto do Centre Georges Pompidou (Beaubourg) de Paris. Rogers, na 13ª. Bienal de Arquitetura de Veneza, destacou a torre Guinigi, em Lucca, Itália, construída no século 16, como a concretização do mandamento vitruviano do bem construir. Detalhe: a torre renascentista tem no topo carvalhos frondosos como as árvores do Bosco Verticale de Boeri e a Flower Tower do francês Edouard François, instalada num parque da zona reurbanizada de Hauts Malesherbes, em Paris. O que era um capricho de uma família rica do Renascimento virou um projeto audacioso para fazer crescer o espaço verde urbano nos dias de hoje.

Sem esse diálogo, a arquitetura corre o perigo de se perder. No livro Arquitetura em Diálogo, Frank Gehry, o ousado criador do Guggenheim de Bilbao, admite que pode estar aprisionado ao presente – e, mais especificamente, à “bagunça do presente”, por se recusar a viver fora dele. No mesmo diapasão, o arquiteto norte-americano Peter Eisenman, teórico do desconstrutivismo, cujos projetos desafiam a gravidade e são desaconselháveis aos portadores de labirintite, acha impossível repetir os ícones do passado no presente, porque o Zeitgeist, o espírito de época, é outro.

É interessante notar que Rykwert, autor de A Coluna Dançante (1996), pensa exatamente o contrário. Para ele, há muito o que aprender com a arquitetura do passado. Ele, aliás, escreveu um livro (The First Moderns, 1980) que não é só uma bela história de como os modernos se apropriaram de projetos passados, mas o esboço de um estudo seu mais recente (The Seduction of Place, 2000), no qual examina a ocupação do espaço urbano pelos contemporâneos.

Entre um retorno à ordem e o caos preconizado pelos arquitetos japoneses – que, como Sejima, sugerem um desmonte do cânone arquitetônico – Rykwert, naturalmente fica com a ordem, com a coluna e a viga que ainda sustentam parte dos edifícios ocidentais. A grande crise financeira de 2008 não acabou com os projetos delirantes e autorreferentes, mas a palavra sustentabilidade passou a ditar as regras – e a leitura de Rykwert, um entusiasta da “ordem” de Alberti, pode ser bastante oportuna quando se mostra um renovado interesse pela arquitetura humanista. Se os japoneses defendem uma arquitetura caótica para tempos caóticos, o livro de Rykwert sugere uma reinterpretação das metáforas que encerram as colunas dos templos antigos (especialmente os gregos).

Para quem não é especialista, Tudo sobre Arquitetura oferece um capítulo inteiro sobre a Grécia antiga, traçando uma linha do tempo que vai do primeiro aqueduto que levou água potável a Samos (c. 580 a.C.) ao Altar de Pérgamo (c. 170 a.C.). O livro é bastante didático ao explicar que as realizações da arquitetura grega não se restringem aos templos, mas se limita a analisar os pátios dóricos e as colunatas jônicas do ponto de vista técnico. Já Rykwert, em A Coluna Dançante, vai além, mostrando as origens dos diversos tipos de colunas e o papel dos templos arquetípicos no projeto de colonização dos gregos.

Obviamente, são duas propostas diferentes. Tudo sobre Arquitetura parte da forma para chegar à essência. Para Rykwert, tudo é essência. Assim, projetos como o de Zaha Hadid, como o Heydar Aliyev Center (2012) em Baku, Azerbaijão, reproduzido na foto maior desta página, é descrito no livro como um “bom e ambicioso exemplo” de edifício paramétrico (que faz uso de modelos digitais considerando fatores variáveis como a luz). Rykwert teria analisado de outra forma as relações do edifício de Zaha Hadid com o espaço circundante, levando em consideração a analogia de suas linhas curvas com a tradição iconográfica islâmica. Mas um complementa o outro.

Encontros com os homens notáveis do mundo do futuro

Embora pequeno no tamanho, Arquitetura em Diálogo é grande no conteúdo. O autor é um arquiteto e teórico espanhol, Alejandro Zaera-Polo, que trabalhou no OMA, o escritório do polêmico holandês Rem Koolhaas, entre 1991 e 1993. Koolhaas, premiado com o Pritzker em 2000, é um dos entrevistados. Critica os modernos, como Le Corbusier, por “terem sido fatalmente atraídos pela ideia de ordem”, assim como outros entrevistados criticam seus contemporâneos – o espanhol Rafael Moneo não poupa os excessos teóricos de Peter Eisenman, por exemplo, embora reconheça sua estatura.

De modo geral, seus colegas não gostam de ser confundidos com designers, especialmente Jacques Herzog, que abomina a descrição de um projeto seu como obra de arte. Duas das melhores entrevistas são as de Frank Gehry e Álvaro Siza, pilares da contemporaneidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posso ajudar?