Variedades

Três romancistas vencem Prêmio SP de Literatura

Ana Luisa Escorel, Veronica Stigger e Marcos Peres, três romancistas estreantes, foram os vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura. O anúncio foi feito na noite desta segunda-feira, 10, em cerimônia no Museu da Língua Portuguesa que contou com apresentação de Antonio Nóbrega – ele buscou em seu repertório músicas ligadas ao universo literário e evocou, entre outros, Ariano Suassuna, Euclides da Cunha e Gregório de Matos.

Anel de Vidro foi considerado o melhor romance de 2013 e rendeu a Ana Luisa Escorel, fundadora da Ouro Sobre Azul, editora da obra, o prêmio de R$ 200 mil. Esta foi a primeira vez que uma mulher ganhou na categoria principal. Foi também a primeira vez que uma editora pequena chegou ao topo da categoria. Ana Luisa foi corajosa. Romancista estreante, ela optou por concorrer com autores veteranos. “Já sou uma senhora, já vivi muito e me sinto mal de concorrer com gente muito mais jovem”, contou após a premiação. Além disso, ela teve receio de que seu livro O Pai, a Mãe e a Filha (2010), sua primeira experiência literária – e que foi finalista do Portugal Telecom como romance autobiográfico -, fosse considerada uma obra de ficção e que isso a tirasse do páreo. “E nada do que está lá foi inventado, mas ele foi organizado como as memórias de uma menina”, disse a filha do crítico Antonio Candido nascida em 1944.

Sobre o fato de sua editora ter sido premiada, ela comentou que acompanha há tempos o Prêmio São Paulo e disse que ele lida bem com o equilíbrio da questão do mercado. “Se o livro foi publicado por uma pequena ou grande editora, se é comercial ou não, me parece secundário. No momento em que sentimos que o mercado brasileiro está crescendo muito e que as grandes editoras estão se associando ao capital internacional, perceber que existe um prêmio que valoriza o texto e não esse sistema que constrói o mercado de livros no Brasil é extremamente prazeroso.” Ela completa: “Sou uma escritora publicada por uma pequena editora e isso, infelizmente, pesa muito no mercado. Se eu esperava ganhar? Não. Porque sou má escritora? Não, porque existe uma tendência que bane a pequena editora mesmo que o texto que ela apresenta seja bom”. De seu livro, foi feita uma pequena edição de mil exemplares, ainda à venda.

O livro de Ana Luisa, que traz quatro pontos de vista diferentes para uma mesma traição conjugal, concorreu com Hanói (Alfaguara), de Adriana Lisboa; Lívia e o Cemitério Africano (Editora 34), de Alberto Martins, vencedor do Prêmios APCA; Reprodução (Companhia das Letras), de Bernardo Carvalho; A Cidade, o Inquisidor e os Ordinários (Companhia das Letras); A Tristeza Extraordinária do Leopardo-das-neves (Companhia das Letras), de Joca Reiners Terron; O Bibliotecário do Imperador (Globo), de Marco Lucchesi; A Maçã Envenenada (Companhia das Letras), de Michel Laub; A República das Abelhas (Companhia das Letras), de Rodrigo Lacerda; e O Drible (Companhia das Letras), de Sérgio Rodrigues.

Estreantes

Veronica Stigger, escritora conhecida especialmente por seus contos, disse que quis escrever um livro sobre a vida, mas que acabou saindo um sobre a morte. Opsanie Swiata (Cosac Naify), melhor romance na categoria autor estreante com mais de 40 anos, é, em suas palavras, um livro sobre a destruição, com início às vésperas da Segunda Guerra Mundial e que termina na Amazônia “que vem sendo invadida não por outros, mas por nós”. Em seu discurso, ela dedicou o prêmio “à memória das vítimas da polícia brasileira e à família dessas vítimas”. Mais tarde, sobre o que fará com os R$ 100 mil, ela não titubeou: “Vou comprar água. O que mais a gente pode fazer em São Paulo?”

Seu livro desbancou as seguintes obras: Barreira (Companhia das Letras), de Amilcar Bettega; Pessoas que Passam Pelos Sonhos (Cosac Naify), de Cadão Volpato; Nossos Ossos (Record), de Marcelino Freire; O Frio Aqui Fora (Cosac Naify), de Flavio Cafiero; Aos 7 e aos 40 (Cosac Naify), de João Anzanello Carrascoza; e Na Escuridão, Amanhã (Cosac Naify), de Rogerio Pereira.

Vencedor da categoria estreante com menos de 40 anos, o advogado Marcos Peres também já sabe o que fazer com os R$ 100 mil que ganhou: um churrasco para os amigos de Maringá, onde vive e trabalha como servidor do Superior Tribunal de Justiça da Paraná. Este é o segundo prêmio que ele ganha por seu O Evangelho Segundo Hitler (Record), obra que tem como personagens Jorge Luís Borges e Adolf Hitler e que foi escolhida pela Prêmio Sesc de Literatura, dedicado a revelar escritores. Havia outros dois finalistas nesta categoria: Ieda Magri, autora de Olhos de Bicho (Rocco), e Laura Erber, de Esquilos de Pavlov (Alfaguara).

No total, foram inscritos 153 romances publicados em primeira edição no Brasil em 2013 (67 de autores veteranos, 45 de estreantes com mais de 40 anos e 41 de autores com menos de 40). O júri final foi composto por Carlo Carrenho, Ivan Marques, Maria Rita Palmeira e Rubens Figueiredo.

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