Variedades

Três versões para a genialidade de Amilcar de Castro

O escultor mineiro Amilcar de Castro (1920-2002) não mostrava tudo o que produzia. Muitas obras guardadas há anos em seu ateliê só agora são exibidas pela primeira vez, entre elas uma tela que, apesar das dimensões gigantescas, foi vista por poucos. A pintura – Amilcar teria preferido usar a palavra desenho – é uma das 25 peças selecionadas pelo curador Rodrigo de Castro, filho do artista e também pintor, para a individual de Amilcar de Castro que a Galeria Marília Razuk abre nesta quinta-feira, 30, às 19 horas, para convidados.

Um dos grandes nomes da arte neoconcreta, Amilcar está sendo homenageado com uma outra exposição na Galeria Lemos de Sá, em Nova Lima (MG), também com curadoria de Rodrigo de Castro, que se encerra nesta quinta. Nessa mostra foram agrupadas pinturas em acrílica ainda maiores que as da exposição paulistana – “bandeiras” que pendem do teto com 12 metros de comprimento, produzidas dois anos antes da morte do artista. Além delas e de 17 esculturas em ferro, a exposição na galeria mineira tem 16 desenhos de projetos para suas esculturas de corte.

Produzidas nos anos 1980, essas pequenas esculturas de corte, feitas com chapas espessas de ferro, permitem múltiplas variações compositivas. Elas também podem ser vistas na galeria de Marília Razuk, que trabalha com a obra do artista desde 1998. Além das mostras em Minas e São Paulo, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ)abre no dia 25 de novembro uma retrospectiva do artista com curadoria do crítico Paulo Sérgio Duarte, mostra que vai reunir mais de 50 esculturas de grande formato (algumas com mais de 10 metros) de diversos períodos.

Também diretor do Instituto Amilcar de Castro, Rodrigo de Castro teve sua primeira experiência como curador da obra do pai no começo deste ano, ao organizar a retrospectiva Estudos e Obras para o Instituto de Arte Contemporânea (IAC). Nela já era possível testemunhar o que o visitante da exposição na Marília Razuk vai ver agora: o processo embrionário das esculturas de corte e dobra que Amilcar começou a experimentar ainda nos anos 1960, quando a arte concreta explodiu no Brasil.

Desta vez não são os desenhos preparatórios em grafite sobre papel, mas pequenas pinturas em acrílico que, colocadas em frente às esculturas de corte em aço corten dos anos 1980, mostram como formas bidimensionais são projetadas num plano tridimensional por um gesto ininterrupto da mão do artista. “Isso é fruto do que meu pai aprendeu com Guignard, que obrigava seus alunos a usar lápis duro, cujos traços eram impossíveis de apagar do papel”, comenta o curador.

Para Rodrigo de Castro, existe uma “secura” de adjetivos na obra do pai, que reduziu a escultura à essencialidade – isso numa cultura cuja tradição escultórica vem do barroco e teve de passar por Brecheret para chegar à clareza formal moderna. “Ele não gostava de teorizar e nem aprovava sua inserção em movimentos, muito menos os históricos”, observa o curador, destacando a resistência do pai à vinculação com o construtivismo de matriz europeia. O curador lembra que, ao contrário do que normalmente acontece, são os estrangeiros que reconhecem o pioneirismo de Amilcar na criação de uma sintaxe cujo parentesco com a arte minimalista é frequentemente evocado. “Até mesmo
Richard Serra reconheceu que meu pai dobrou o ferro muito antes dele”.

Avesso ao ornamento, nem por isso Amilcar recusou o monumental, produzindo, a exemplo de Serra, esculturas de dimensões pantagruélicas – mas não épicas -, como aquelas instaladas em locais públicos da Alemanha, Japão, Inglaterra e Venezuela. Em todas elas, a verdade do material reflete a preocupação maior de Amilcar de não camuflar o desgaste da matéria pelo tempo – essas esculturas não resultam da adição ou subtração da matéria, mas de sua transformação em objeto tridimensional a partir do plano, cortado, dobrado e interagindo com o espaço.
Amilcar buscou nos pintores modernos o modelo para a luz que passa através das espessas chapas de ferro. “Ele adorava Monet, Matisse e Volpi, mas tinha identidade de alma com Morandi”, diz o filho. O mundo, agora, começa a descobrir o mineiro, garante a marchande Marília Razuk. “Em 2o13, fizemos uma exposição em Nova York e os museus europeus já mostram interesse nele”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posso ajudar?