Entre as 15 maiores seguradoras do País, três obtiveram mais de 10% de sua arrecadação com as principais linhas de seguro de vida e danos no Estado do Rio Grande do Sul nos três primeiros meses deste ano, de acordo com levantamento do <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) a partir dos dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Os números levam em conta linhas como seguro automotivo, de vida, rural, habitacional e residencial, que estão entre os mais impactados pelas enchentes no Estado.
As empresas mantêm o regime reforçado de operações no Estado, que foi palco de enchentes no mês de maio e que segue em estado de calamidade pública. O setor de seguros recebeu R$ 3,9 bilhões em pedidos de indenização até o dia 18 de junho, de acordo com os dados mais recentes compilados pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
A Icatu foi a empresa em que o Rio Grande do Sul teve o maior peso na arrecadação entre janeiro e março. A seguradora, uma das maiores do País entre as que não são controladas por bancos, é sócia do Banrisul na venda de produtos de seguro na rede do banco estadual gaúcho. Além disso, também vende apólices através de cooperativas de crédito que têm forte presença no Estado.
"A Icatu tem distribuição por mais de um ponto em 100% dos 497 municípios do Rio Grande do Sul", afirma o vice-presidente corporativo da seguradora, César Sault. Nos seguros de pessoas, classificação em que está o seguro de vida, a empresa detém cerca de 30% do mercado gaúcho, de acordo com ele.
Terceira empresa entre as 15 maiores em que o Estado teve o maior peso, a HDI tem buscado diversificar-se regionalmente, o que levou às aquisições de operações da Sompo e da Liberty no País nos últimos dois anos. Ainda assim, tem no Sul do País, um de seus primeiros mercados, boa parte da carteira de clientes.
"O maior impacto para a empresa Sem dúvida será na linha de automóvel", afirma por escrito o diretor de Claims (Sinistros) e Operações do Grupo HDI, Marcio Probst. "No entanto, com base na nossa experiência, outras frentes também serão afetadas."
Os dados da CNseg apontam que o maior volume de pedidos de indenização foi nos seguros de grandes riscos, como os que protegem grandes estruturas públicas, com R$ 1,3 bilhão até meados de junho. A maior quantidade de avisos foi nos seguros residencial e habitacional, com 22,7 mil, seguidos pelo de automóvel, com 19,1 mil.
A Mapfre, que foi a segunda empresa com a maior exposição ao Rio Grande do Sul no período, manifestou-se por nota. "Embora haja uma demanda significativa por informações detalhadas, a consolidação de valores de indenizações para clientes do Rio Grande do Sul ainda é prematura, pois, passado o momento de resgates e busca por abrigos, os cidadãos afetados estão começando a relatar os sinistros", disse a empresa.
<b>Consequências</b>
As empresas afirmam ter balanços robustos o suficiente para absorver os impactos das perdas no Rio Grande do Sul. Por regra, as seguradoras precisam constituir provisões equivalentes ao risco que assumem ao aceitar fazer um seguro para o cliente, para garantir que haverá capital suficiente para indenizá-lo se necessário.
"Nós temos monitorado os efeitos junto aos associados, e não verificamos uma concentração (do impacto) em nenhuma seguradora", disse o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, em coletiva de imprensa no mês passado.
A Icatu estima que terá de pagar cerca de R$ 100 milhões em indenizações nos seguros de danos a imóveis, de um capital segurado total de R$ 9,5 bilhões. A HDI não traça estimativas, mas até o mês passado, havia pago aproximadamente R$ 260 milhões em indenizações no seguro automotivo e R$ 10 milhões nas linhas de condomínio e empresarial.
O próximo debate no setor é sobre as consequências de longo prazo para o mercado. Especialistas acreditam que a tragédia no Rio Grande do Sul se tornará a maior perda segurada causada pelo clima na história do País, superando os cerca de R$ 10 bilhões em prejuízos causados pelo La Niña em 2022.
"Este com certeza será o maior evento catastrófico do País. Por outro lado, acreditamos que não seja possível mensurar as perdas nem compará-las com qualquer outro evento que já aconteceu no Brasil", diz Probst, da HDI.
Sault, da Icatu, afirma que o impacto inicial sobre o setor tende a ser de desaceleração da arrecadação em consequência do baque que a economia do Estado sofreu. Em um segundo momento, ele acredita que haverá uma conscientização sobre as ferramentas que os seguros oferecem. Fenômeno similar aconteceu após a pandemia da covid-19, o que impulsionou as contratações de seguros de vida e de planos de previdência no País.
"Eu não olho o volume de indenizações como algo negativo, mas como as seguradoras cumprindo o seu papel", diz ele. "Os fenômenos ajudam que haja uma maior compreensão sobre terceirizar ou assumir riscos. O mercado gaúcho pode estar dando um passo para trás, mas pode dar dois ou três à frente."