A forma como o ex-presidente Donald Trump lidou com documentos oficiais entrou no centro de múltiplas investigações nos Estados Unidos. O Arquivo Nacional dos EUA encontrou o que acredita ser informação confidencial em documentos que ele levou da Casa Branca quando deixou o cargo, informou o <i>The Washington Post</i>, citando uma fonte.
A descoberta, que ocorreu depois que Trump devolveu 15 caixas de documentos ao governo no mês passado, levou o Arquivo Nacional a pedir uma investigação do Departamento de Justiça, que respondeu que um inspetor-geral examinaria o assunto. Não está claro o que o inspetor-geral já analisou até agora. Em casos assim, um inspetor-geral é obrigado a alertar o Departamento de Justiça sobre a descoberta de quaisquer materiais sigilosos que tenham sido encontrados fora dos canais oficiais.
Outra investigação, feita por um repórter do <i>New York Times</i> que será divulgada em um livro em breve, mostra como a equipe da Casa Branca regularmente descobria maços de papéis entupindo banheiros, suspeitando que o presidente queria descartar documentos.
Ao mesmo tempo, uma comissão do Congresso encarregada de supervisionar as autoridades federais anunciou a abertura de uma investigação sobre os arquivos do ex-inquilino da Casa Branca. Sua presidente, Carolyn Maloney, disse estar "extremamente preocupada" com as práticas do republicano.
A decisão do Arquivo Nacional de pedir orientação ao Departamento de Justiça coloca altos funcionários do governo na posição de ter de decidir se abrem ou não uma investigação oficial, um cenário que empurraria a pasta para um assunto político altamente controverso. Funcionários do Arquivo Nacional não responderam aos pedidos de entrevista.
Em janeiro, após longas idas e vindas entre os advogados de Trump e o Arquivo Nacional, o republicano entregou mais de uma dúzia de caixas de materiais, incluindo documentos, lembranças, presentes e cartas. Entre os documentos estavam as versões originais de uma carta que o ex-presidente Barack Obama deixou para Trump na passagem de cargo, e cartas escritas a Trump pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un.
Nas caixas, também havia um mapa que Trump desenhou com uma caneta preta para demonstrar a trilha do furacão Dorian em direção ao Estado do Alabama em 2019 para apoiar uma declaração que ele fez no Twitter que contradizia as previsões meteorológicas.
As caixas foram originalmente enviadas da Casa Branca para o resort Mar-a-Lago, na Flórida. Com elas, uma série de itens – incluindo roupas – foram empacotados às pressas nos últimos dias de Trump no cargo. Legalmente, Trump era obrigado a deixar os documentos, cartas e presentes sob custódia do governo federal para que o Arquivo Nacional pudesse armazená-los.
<b>Campanha de 2016</b>
Depois que o FBI, durante a campanha presidencial de 2016, investigou o manuseio de material sigiloso por Hillary Clinton enquanto ela era secretária de Estado, Trump a atacou, ajudando a tornar a questão fundamental no resultado daquela corrida presidencial. Na época, o inspetor-geral da comunidade de inteligência fez uma denúncia de segurança nacional ao FBI, levando à uma investigação.
Durante o governo de Trump, altos funcionários da Casa Branca se mostraram profundamente preocupados com a pouca consideração que Trump demonstrava por materiais sensíveis de segurança nacional. John F. Kelly, o chefe de gabinete da Casa Branca, tentou impedir que documentos confidenciais fossem retirados do Salão Oval e levados para a residência porque estava preocupado com o que Trump poderia fazer com eles e como isso poderia comprometer a segurança nacional.
Semelhante ao caso de Hillary, o genro de Trump, Jared Kushner, e a filha do presidente, Ivanka, usaram contas de e-mail pessoais para fins de trabalho. E mesmo depois de ser alertado por assessores, Trump rasgou repetidamente documentos que precisaram ser colados de volta para evitar que ele fosse acusado de destruir propriedade federal.
Como presidente, Trump tinha autoridade para tirar o sigilo de qualquer informação do governo. Não está claro se ele fez isso antes de deixar o cargo com os materiais que o Arquivo Nacional descobriu nas caixas. De acordo com a lei federal, um líder não pode tirar o sigilo de documentos após deixar o cargo.
Ele invocou o poder de tirar o sigilo de informações várias vezes para que o governo divulgasse publicamente materiais que o ajudavam politicamente, principalmente em questões como a investigação sobre os laços de sua campanha com a Rússia.
Em um exemplo proeminente de como ele lidou com material sigiloso, Trump em 2019 pegou uma imagem de satélite espião altamente confidencial de um local de lançamento de mísseis iranianos, tirou seu sigilo e depois divulgou a foto no Twitter.
Se for descoberto que Trump levou consigo materiais que ainda eram confidenciais no momento em que ele deixou a Casa Branca, processá-lo seria extremamente difícil. Isso colocaria o Departamento de Justiça contra Trump em um momento em que o secretário de Justiça, Merrick B. Garland, está tentando despolitizar a pasta.
O departamento e o FBI também ainda têm cicatrizes significativas de sua investigação sobre se Hillary lidou mal com informações confidenciais, já que a agência foi acusada de manchá-la injustamente e interferir nas eleições de 2016. (com agências internacionais)