Uma reportagem do jornal <i>The New York Times</i> publicada nesta terça-feira, 27, traça as semelhanças entre o presidente Jair Bolsonaro e o americano Donald Trump na condução da crise causada pelo NOVO coronavírus, destacando que ambos têm um "desprezo compartilhado pelo vírus" e construíram "uma campanha ideológica que minou a capacidade da América Latina de responder à covid-19".
A América Latina tem um terço das mortes no mundo e sofreu mais com a covid-19 do que qualquer outra região no planeta. Os EUA são o país mais afetado em número de mortes, com 225.739, seguidos pelo Brasil, com 157.397, até agora.
O "NYT" destaca que sistemas de saúde pouco estruturados e cidades superlotadas tornaram a América Latina mais vulnerável à pandemia, mas "ao expulsar médicos, bloquear a assistência e promover falsas curas, Trump e Bolsonaro pioraram a situação, desmantelando as defesas".
A reportagem afirma que os dois líderes são nacionalistas que desafiam a ciência e colocaram o crescimento econômico e as políticas de curto prazo à frente das advertências de saúde pública. Também lembra que ambos fizeram com que 10 mil médicos e enfermeiras cubanos de áreas pobres de nações como Brasil, Equador, Bolívia e El Salvador fossem mandados de volta para Cuba. Muitos partiram sem serem substituídos meses antes da chegada da pandemia, o que fragilizou a já deficiente estrutura de saúde.
"Em seguida, os dois líderes atacaram a agência internacional mais capaz de combater o vírus – a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) – citando seu envolvimento com o programa médico cubano. Com a ajuda de Bolsonaro, Trump quase levou a agência à falência ao reter o financiamento prometido no auge do surto", afirma trecho da matéria.
O texto ainda lembra que Trump e Bolsonaro tentaram fazer da hidroxicloroquina a peça central da resposta à pandemia, apesar do consenso médico de que o remédio é ineficaz e pode até ser perigoso. A agência americana Food and Drug Administration desencorajou, em abril, o uso da hidroxicloroquina para tratar a covid-19. "Um mês depois, Trump anunciou que os EUA enviariam ao Brasil dois milhões de doses".
"Em seu zelo para se livrar dos médicos cubanos, o governo Trump puniu todos os países do hemisfério e, sem dúvida, isso significou mais casos de covid e mais mortes", disse Mark L. Schneider, ex-chefe de estratégia planejamento para a Organização Pan-Americana da Saúde, que foi funcionário do Departamento de Estado no governo Clinton.
"Ninguém da Organização Pan-Americana da Saúde estava aqui e sentimos sua ausência", lamentou Washington Alemán, especialista sênior em doenças infecciosas e ex-vice-ministro da saúde do Equador, que diagnosticou o primeiro caso confirmado de covid no país. "O suporte não foi como nos anos anteriores".
"A OPAS não tinha as ferramentas e não tinha o dinheiro", disse Henrique Mandetta, o ex-ministro da saúde brasileiro. "A OPAS não pôde expandir da maneira que precisava, e no Equador, na Bolívia, havia pessoas morrendo em suas casas e corpos deixados nas ruas por falta de assistência."