De olho no eleitorado jovem e no voto de Estados do Meio-Oeste, Donald Trump anunciou nesta segunda-feira, 15, o senador J.D. Vance, de Ohio, como seu vice-presidente na eleição de novembro. Vance, um antigo crítico de Trump que chegou a dizer em rede nacional que "não suportava" o ex-presidente, tem uma curta carreira política e é o primeiro millennial a compor a chapa presidencial de um grande partido dos EUA.
Trump anunciou sua escolha em um post em sua plataforma de mídia social Truth Social, pouco antes do início da Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee. "Vance é a pessoa mais adequada para ser vice-presidente", escreveu. "Ele é um defensor das pessoas que trabalham duro, especialmente dos trabalhadores e fazendeiros de vários Estados-chave."
Aos 39 anos, Vance ganhou fama com a publicação de seu livro de memórias, Hillbilly Elegy, em 2016. "Eu não suporto Trump", disse o escritor à emissora NPR, na ocasião do lançamento do livro. "Nunca gostei dele."
No entanto, em 2022, Vance foi eleito para o Senado e mudou de opinião, tornando-se um dos mais ferrenhos defensores da agenda de Trump, particularmente nas áreas de comércio, política externa e imigração. Em uma espécie de <i>mea culpa</i>, ele disse que estava errado ao criticar Trump, que teria sido "um grande presidente".
Durante seu mandato, o republicano de Ohio criticou veementemente a ajuda dos EUA à Ucrânia e se tornou um dos principais defensores do ex-presidente e de sua agenda legislativa. No fim de semana, quando Trump foi alvo de uma tentativa de assassinato na Pensilvânia, Vance atacou o presidente Joe Biden no X, responsabilizando-o pela violência política.
Após romper com seu vice-presidente anterior, Mike Pence, que não aceitou a tentativa de reverter os resultados das eleições de 2020, Trump preferiu um nome jovem e com alta fidelidade.
Segundo analistas, Vance também pode também ajudá-lo a ter votos em Estados industriais do chamado Cinturão da Ferrugem, que devem ser cruciais no colégio eleitoral, como Pensilvânia, Michigan e Wisconsin.
<b>Credenciais</b>
Vance serviu no Iraque como fuzileiro naval dos EUA, de 2003 a 2007, antes de estudar ciências políticas e filosofia na Universidade Estadual de Ohio e frequentar a Faculdade de Direito de Yale. Ele trabalhou em um grande escritório de advocacia corporativa e como principal executivo na empresa de investimentos do bilionário Peter Thiel, em San Francisco, na Califórnia.
Em seu livro de memórias, ele relata sua infância em uma região de siderúrgicas em Ohio, em uma família assolada pelo vício em drogas e pela pobreza. Na obra, ele detalha a vida nas comunidades dos Apalaches que se afastaram de um Partido Democrata que muitos na região achavam desconectado de suas dificuldades cotidianas.
Muitos exaltaram Vance como um porta-voz emergente das lutas dos trabalhadores brancos, e seu livro foi adaptado em um filme da Netflix, de 2020, dirigido por Ron Howard. Embora o livro tenha sido um best-seller, ele também foi criticado por simplificar demais a vida rural e ignorar o papel do racismo na política moderna.
<b>Política</b>
Em 2019, após o sucesso de seu livro, ele voltou para Ohio e fundou uma empresa de capital de risco. Vance ajudou em arrecadações de fundos para Trump, incluindo uma em junho, organizada pelo empresário do Vale do Silício, David Sacks.
Sua aproximação em relação a Trump talvez não fosse totalmente imprevisível. Mesmo em suas entrevistas, postagens nas redes sociais e escritos de 2016, que criticavam Trump, Vance frequentemente seguia suas declarações dizendo que entendia por que os trabalhadores brancos apoiavam o republicano.
Em 2016, em entrevista, Vance disse que sentia que as "elites" tinham uma atitude de "nós avisamos" com os apoiadores de Trump da classe trabalhadora branca.
"O problema é que, se você adotar essa atitude esnobe, você está jogando com a mesma coisa que deu origem a Trump, que é a sensação de que as elites pensam que são mais inteligentes que você e acham que você pertence a um bando de idiotas", disse na época.
Em uma edição de 2018 de Hillbilly Elegy, Vance revelou que votou em um candidato de um terceiro partido em 2016. Mas, embora ainda tivesse "reservas" sobre Trump, dois anos depois de seu mandato, Vance também escreveu que havia aspectos de sua candidatura que lhe agradavam, incluindo o "desprezo pelas elites" e críticas aos "erros de política externa", no Iraque e no Afeganistão, de governos americanos anteriores.
<b>Alinhamento</b>
Vance também ajudou a disseminar anteriormente as falsas alegações de Trump sobre a suposta fraude generalizada nas eleições de 2020 e indicou que teria seguido um caminho diferente de Pence em 6 de janeiro de 2021.
Em fevereiro, em entrevista à ABC News, ele afirmou que, se fosse vice-presidente, teria permitido que o Congresso aceitasse as listas fraudulentas de eleitores de Trump no colégio eleitoral, o que na prática teria revertido o resultado das urnas.
Vance não se comprometeu a aceitar os resultados das eleições de novembro, dizendo ao programa Meet the Press, da rede NBC, no início deste mês, que o faria "desde que a eleição seja livre e justa". Na mesma conversa, ele prometeu trabalhar com Trump, mesmo que não fosse escolhido como companheiro de chapa. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>