O presidente Donald Trump afirmou, nesta segunda-feira, 9, que vai decidir “provavelmente até o final do dia” sobre a resposta dos Estados Unidos ao suposto ataque químico que vitimou civis sírios. Ele insinuou que a Rússia, principal aliada militar da Síria, irá “pagar o preço” e chamou a ação de “ataque hediondo”. A agressão aconteceu no sábado, 7, e matou pelo menos 40 pessoas, incluindo crianças. O presidente americano foi questionado se o presidente Vladimir Putin tem responsabilidade pelo ato e respondeu que “ele pode ter sim, ele pode” e destacou que “Todos vão pagar um preço. Ele vai, todos vão”.
Enquanto as conversas na Casa Branca acontecem, militares americanos parecem prontos para obedecerem a qualquer ordem de ataque. Um destroier da marinha, o USS Donald Cook, estava em curso no leste do Mar Mediterrâneo nesta segunda-feira, depois de completar uma parada em Lamarca, no Chipre. O navio está armado com mísseis de cruzeiro Tomahawk, a arma escolhida pelos EUA no ataque contra a base de Shayrat há um ano, em resposta ao suposto ataque com gás sarin contra civis em Khan Sheikoun. Segundo o governo americano, o ataque tinha o objetivo de impedir o uso de armas químicas na Síria.
Trump tinha uma reunião agendada nesta segunda-feira, 9, com assessores de segurança nacional. “Nada está fora da mesa”, afirmou, após condenar o ataque de sábado. “Foi um ataque cruel. Foi horrível”. Ele disse que os EUA ainda estão investigando o possível envolvimento dos governos iraniano e russo. “Se for a Rússia, se for a Síria, se for o Irã, se forem todos juntos, nós vamos descobrir”, ressaltou. Enquanto isso, os EUA instam o Conselho de Segurança da ONU a adotar uma resolução que condene o uso continuado de armas químicas na Síria “em termos mais fortes” e estabeleça um novo grupo para determinar de quem é a responsabilidade pelos ataques químicos.
O presidente americano já planejava duas reuniões com auxiliares de segurança nacional nesta seguda, para além de uma conferência programada no fim da tarde com comandos militares dos EUA em todo o mundo. Esta segunda-feira também marca o primeiro dia de trabalho do novo conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton, que anteriormente defendeu uma ação militar contra a Síria. As deliberações da Casa Branca vieram quando a Rússia e os militares sírios culparam Israel pelo ataque de mísseis contra uma base aérea no centro da Síria no domingo, acusando os aviões de combate israelenses de terem lançado os mísseis do espaço aéreo do Líbano.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) afirmou que os ataques aéreos mataram 14 pessoas, incluindo iranianos ativos na guerra da Síria. Hoje mais cedo, o Secretário de Defesa Jim Mattis apontou a Rússia como culpada para o que sugeriu ser o fracasso na eliminação do arsenal químico na Síria. O chefe do Pentágono disse que não descarta um ataque americano contra o país em resposta ao suspeito ataque químico. No final de semana, Trump ameaçou um “grande preço a pagar” pelo ataque com gás tóxico. O governo do presidente Bashar al-Assad negou o uso da substância.
Provas
Funcionários em Washington estão em busca de relatórios das equipes de resgate e de outros indivíduos locais para provar que o governo Assad é culpado. Os militares russos, que têm presença chave na Síria como aliados de Assad, afirmaram que seus oficiais visitaram o local no subúrbio de Damasco não encontraram evidências para fundamentar os relatórios de que gás tóxico foi utilizado. Durante sessão de fotos no Pentágono nesta segunda-feira, Mattis afirmou que “o primeiro ponto” que deve ser considerado ao responder à ação é por que armas químicas “sequer ainda são utilizadas”. Ele pontuou que a Rússia foi garantidora do acordo de 2013 para eliminar todo o arsenal químico sírio, sugerindo que Moscou tem parte da culpa pelo ataque. “Assim, trabalhando com nossos aliados e nossos parceiros da OTAN ao Catar, vamos abordar essa questão”, disse Mattis durante pronunciamento a repórteres, antes de se reunir com o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani.
Tratado
O ataque de gás tóxico do sábado aconteceu num reduto rebelde, em meio à retomada da ofensiva do governo sírio, depois que a trégua colapsou. Enquanto funcionários americanos ainda consideram se vão responder e como o farão, também analisam qual o tipo de agente químico foi utilizado. Quando Trump ordenou ataques aéreos no ano passado, foi uma resposta ao uso de gás sarin, banido com a Convenção de Armas Químicas, assinada pela Síria. Um ataque com cloro, que pode ser usado com arma, mas não é totalmente banido pelo tratado, poderia levantar questões precedentes, já que houve muitas alegações recentes de ataques com cloro na Síria. No entanto tais alegações não obtiveram resposta da administração americana.
Assessores da Casa Branca disseram, à época do ataque a Shayrat, que as imagens de crianças feridas ajudaram a estimular o presidente a tomar a decisão de lançar o ataque aéreo, e que programas de televisão exibiram imagens semelhantes no domingo, com jovens sírios em sofrimento. O senador republicano John McCain, do Arizona, afirmou que Assad ouviu o sinal de Trump de que queria retirar tropas da síria e lançou o ataque “encorajado pela inação americana”. Em comunicado, McCain disse que Trump “respondeu decisivamente” no ano passado com o ataque aéreo e incitou o presidente a ser enérgico novamente para “demonstrar que Assad vai pagar o preço por seus crimes de guerra”.