Fortalecido após a conclusão da investigação do procurador Robert Mueller, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse na terça-feira, 27, que não “se incomodaria” se o relatório completo fosse revelado. Ele aproveitou o bom momento para atacar seus rivais, principalmente a imprensa, acusada por ele de ter feito uma cobertura parcial do caso.
Trump chegou a dizer que “muitas pessoas por aí fizeram coisas muito ruins”, ao se referir aos ataques que sofreu durante a investigação. Por quase dois anos, a campanha eleitoral do republicano passou pelo escrutínio da Justiça e atingiu os assessores mais próximos do presidente. Na última sexta-feira, Mueller entregou suas conclusões ao secretário de Justiça dos EUA, William Barr.
O relatório ainda é mantido sob sigilo, mas em carta ao Congresso, Barr comunicou que não houve conspiração com a Rússia por parte de Trump e de seus aliados nas eleições de 2016. Quanto à investigação sobre obstrução de Justiça, o relatório “não incrimina e nem exonera” o presidente. Com isso, Barr diz que não há indício para acusar Trump.
A conclusão quanto à obstrução de Justiça e o fato de o relatório ainda estar sob sigilo jogaram mais combustível na fogueira. “A decisão de Barr e a indecisão de Mueller sobre a obstrução de Justiça levantaram mais perguntas do que respostas. Não está claro se Barr achou que não há evidências suficientes ou se ele acredita que o presidente não pode ser processado no exercício do cargo”, afirmou Barbara McQuade, professora de direito da Universidade de Michigan.
“O relatório foi ótimo. Não poderia ter sido melhor”, disse ontem Trump. Enquanto ele comemora a “exoneração completa”, os democratas pressionam para ter acesso à íntegra do documento. A preocupação é que Barr, indicado ao cargo por Trump, não tenha sido neutro. Além disso, a oposição quer avaliar se há fatos mencionados no relatório que possam enfraquecer o presidente. Trump garante que “não se incomodaria” com a divulgação do relatório completo.
“Os requisitos para uma acusação por obstrução de Justiça são diferentes daqueles que os deputados podem usar para justificar um impeachment. Os democratas querem ver o relatório completo para decidir se há mais para investigar ou se já existe material suficiente para um impeachment”, afirmou Louis Caldera, professor de direito da American University.
Os democratas não pretendem tomar passos políticos mais duros, como a abertura de um impeachment, sem elementos que vão além da carta redigida por Barr. “É por isso que eles precisam ler o porquê de Mueller não ter exonerado o presidente”, avalia Caldera.
Um funcionário do Departamento de Justiça informou que Barr tornará pública uma versão do relatório de Mueller dentro de “semanas”. A Casa Branca não deve receber uma cópia do relatório antes que o material seja divulgado.
Para Gary Nordlinger, especialista da Universidade George Washington, as notícias foram boas para Trump. “As conclusões são a melhor notícia para Trump desde que ele foi eleito”, afirma. “Se procuradores que viram o material decidiram que não há evidências para processar Trump, quem fará diferente?”, questiona.
No Twitter, Trump atacou ontem a imprensa por ter insistido que ele era culpado. “A mídia queimada em todo o mundo”, disse. A estratégia é voltada para a sua base eleitoral, avalia Nordlinger. “Trump coloca os democratas em uma posição difícil. Se continuarem indo atrás desse assunto, os eleitores mais independentes se cansarão. Se deixarem passar, desapontam a base formada por eleitores que detestam Trump”, afirma Nordlinger, que cita o fato de não ter havido vazamento do relatório como sinal de que a equipe de Mueller está de acordo com as conclusões.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.