Variedades

Tsunami dos trópicos

Shakira, Juanes e Maluma estão entre os mais ricos, mais vistosos e com mais altos índices de popularidade dentre os nomes que saíram da Colômbia para ganhar o mundo cantando. O maior deles, Shakira, vendeu, aos 40 anos de idade, algo entre 50 e 60 milhões de discos. Nenhum outro colombiano da história chegou a tanto. Na outra ponta, Juan Luis Londoño Arias, o Maluma, 23 anos, acaba de fazer um show em São Paulo como o último fenômeno de seu país. Fecha parcerias com artistas brasileiros com velocidade e seu reggaeton já se ouve à distância, algo que provoca tanto orgulho quanto pânico em frentes distintas de seus conterrâneos.

O buraco para se ouvir o que tem sido chamado de “a nova música colombiana” está mais embaixo. Ao mesmo tempo em que o país de Gabriel García Márquez passa a exportar potências pop para o mundo com maior frequência, emerge das terras colombianas uma riqueza sonora de misturas jamais vistas pelos próprios nativos. J.Balvin, um ídolo pop feito do mesmo material genético de Maluma, lança na próxima segunda, 20, uma nova música com Anitta, Downtown. Já o Ondatrópica, supergrupo formado em Bogotá pelo músico Mario Galeano para pesquisar sonoridades latinas, se apresenta na quinta-feira, 16, no Sesc Pompeia, em São Paulo. Ouvir os dois é uma experiência interessante para se entender como se comportam as duas Colômbias.

Galeano fala ao Estado do Rio de Janeiro, onde esteve na semana passada para participar da edição carioca do festival Mimo. Ele segue, no próximo final de semana, para ser uma das atrações também do mesmo evento, em Olinda. Entre um e outro, passa em São Paulo para o show do Sesc. Sobre Maluma, sua opinião é objetiva: “Não, eles não representam a Colômbia, são fabricados nos Estados Unidos, não se comunicam com a cultura do país e tocam com músicos norte-americanos”. Quando perguntado sobre o avanço da música de seu país, Maluma prefere não ir para o combate. “Fico muito feliz quando vejo essa expansão da música colombiana, tenho muito orgulho.”

O Ondatrópica está em meio a grupos que floresceram na última década, trazendo uma mistura que os colombianos não tinham experimentado ainda. “Nascemos de uma paixão que temos pelo vinil, como pesquisadores sobretudo da música feita em nosso país nas décadas de 1950 e 1960, consideradas nossa época de ouro”, diz Galeano.

Ele formou o coletivo em 2011, quando se juntou ao produtor e DJ inglês Will Holland, mais conhecido como Quantic, que se apaixonou pelos sons colombianos a ponto de se fixar em Cali e não voltar mais para seu país. Galeano selecionou então seus escudeiros, algo em torno de 50 nomes de idades e regiões das mais diferentes e, com as conexões de Quantic, foi representar seu país nos Jogos Olímpicos de Londres de 2012. O projeto decolou e o grupo lançou dois álbuns, Ondatrópica, de 2012, e Baile Bucareno, de 2017.

Baile Bucareno reflete as vantagens de um povo que nasceu em um país banhado por dois oceanos distintos, cada um inspirando uma musicalidade diferente. O álbum de sonoridade arrebatadora foi gravado em Bogotá e Ilha da Providência Antiga, a Isla de Providencia, com ligações fortes com as origens do país e o outro pé nos modernos dancehall eletrônicos.

Galeano explica sua teoria para a riqueza sonora percebida agora pelo mundo em trabalhos de grupos como, além do Ondatrópica, Puerto Candelária, Frente Cumbiero, Los Pirañas e Sistema Solar. “A razão é primeiro geográfica. Pense que estamos falando de um país entre dois mares, o Pacífico e o Atlântico, com uma Cordilheira dos Andes e uma parte amazônica. Essa variedade cria muitas Colômbias. Somos cinco países em um só.” E o que faria da Colômbia algo distinto de vizinhos latinos, como Cuba ou Argentina? “Tivemos sorte, nossa miscigenação se deu com as três raças, indígenas, negros e europeus.” Ele fala com base nos próprios estudos. “Os cubanos criaram sua musicalidade praticamente sem a interferência dos indígenas, apenas com os negros e os europeus. Os argentinos excluíram os negros, fazendo sua história musical com o resultado das influências dos indígenas e dos europeus. A Colômbia, como o Brasil, faz o melhor balanço dos três povos.”

A percepção da música colombiana pelo mundo começa a ganhar terreno. A fase de entender qualquer musicalidade latina como salsa, para Galeano, já é passado. “As pessoas já começam a reconhecer que a cúmbia saiu daqui, por exemplo, apesar de haver variações do México e no Peru. As coisas começam a mudar.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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