Cidades

Tumultos marcam reintegração de posse no Jardim Primavera

Na manhã desta terça-feira (10), a Polícia Militar cumpriu uma ordem de desintegração de posse na comunidade Vila Unida, no bairro Jardim Primavera. Os moradores iniciaram uma manifestação na madrugada que se estendeu por toda a manhã e não tem horário definido para acabar.
 
A área de 250 mil metros quadrados seria de uma empresa no segmento de papel e celulose. Segundo José Mario, um dos líderes comunitários, há alguns dias o dono do terreno teria pedido a comunidade o valor de R$ 70 milhões para venda do local. Ainda segundo o líder, nesta segunda-feira (9) o valor foi reduzido para R$ 35 milhões, porém a comunidade teria oferecido cerca de R$ 6 milhões.Ele não informou de onde sairia esse dinheiro. 
 
Como a negociação não teria se concretizado, o proprietário teria pedido a reintegração de posse que foi expedida para a manhã desta terça-feira (10).
 
 
Cerca de 150 moradores que ficaram sabendo da reintegração foram até o terminal 1 no Aeroporto de Guarulhos e fizeram uma manifestação pacífica no local ainda durante a madrugada. Perto das 5h desta terça-feira, os manifestantes teriam voltado para a comunidade e montado barricadas para que a polícia não conseguisse chegar até as casas.
 
 
O inicio da manhã foi de muito tumulto. A Polícia usou bombas de efeito moral e balas de borracha para conter os manifestantes. Em meio ao caos, uma menina de 14 anos foi atingida no rosto por uma bala de borracha.  “Eu estava saindo de casa, quando eu virei um polícial atirou em mim”, explicou a menina. Ela foi atendida no Hospital Paraíso e passa bem.
 
 
Com o fim do tumulto, moradores e voluntários começaram a retirada dos pertences de dentro das casas. Devido a forte chuva do dia anterior o local estava com difícil acesso e muitos moradores escorregavam e tinham dificuldade para fazer a mudança.
 
 
A maior parte das pessoas estavam indo para casa de familiares, porém grande parte não sabia para onde ir. “Eu tenho 2 filhos, e não tenho família aqui em Guarulhos, estou pensando o que vou fazer com eles esta noite pelo menos”, explicou Priscila Carla, de 26 anos.
 
No local, também vivia uma grande quantidade de bolivianos, muitos em situação irregular no país.. Uma senhora que não quis se identificar contou que está desesperada. Além de não ter para onde ir, seus filhos conseguiram uma vaga na escola próxima ao local e podem perder o ano letivo se ela não encontrar um local perto para morar.
 
Uma senhora, que se identificou apenas como Maria, disse que mora de aluguel na praça Oito e conseguiu um terreno no local para começar a construir uma casa. “Todas as famílias que estavam ali, estavam felizes, porque tinham um teto para morar. Eu pensava que conseguiria sair do aluguel, mas eu estava errada, minha luta começa novamente”, lamentou.
 
 
O terreno de cerca de 250 mil metros quadrados foi invadido em abril do ano passado. De acordo com a prefeitura de Guarulhos, a área era ocupada por cerca de 1,5 mil famílias, em 300 barracos de madeira. A maior parte delas era de estrangeiros, em especial de outros países da América Latina, como Bolívia, Argentina e Chile. "A área é de preservação permanente e sofreu degradação ambiental por causa da construção de barracos de madeira e parcelamento do solo", afirmou, em nota, a Secretaria da Segurança Pública.
 
Em nota, a prefeitura de Guarulhos informou que assistentes sociais acompanharam as famílias do local desde novembro e cadastrou 330 delas para programas sociais. "Muitas famílias têm moradia própria em bairros vizinhos e já deixaram o local, por isso há barracos vazios. Outras ganham mais de R$ 2 mil por mês, o que impede de serem inseridas", afirmou.
 
De acordo com a prefeitura, a reintegração aconteceu em uma área particular. "Nesses casos, a responsabilidade de encaminhamento das famílias é do proprietário do terreno. Entretanto, a prefeitura se colocou à disposição para acompanhar e orientar as famílias por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social", disse a nota.