Estadão

Tunísia abre investigações de corrupção contra principal partido islâmico

Promotores tunisianos abriram uma investigação sobre suposto financiamento estrangeiro de campanha e doações anônimas ao movimento islâmico Ennahdha e dois outros partidos políticos, segundo a mídia local.

O Ennahdha é o maior partido no Parlamento tunisiano, cujas atividades foram suspensas nesta semana pelo presidente Kais Saied. Além de suspender o Parlamento, Saied também demitiu o primeiro-ministro e membros-chave do gabinete, dizendo que era necessário estabilizar um país em crise econômica e de saúde. Mas o Ennahdha e outros críticos o acusam-no de ultrapassar os limites constitucionais e promover um golpe de Estado, ameaçando a jovem democracia da Tunísia.

O porta-voz da promotoria, Mohsen Daly, disse na quarta-feira, 28, na rádio Mosaique FM que as investigações foram abertas em meados de julho. Ele também detalhou que as apurações correm na agência nacional anticorrupção do país – instituição suspeita de corrupção – e na Comissão da Verdade e Dignidade da Tunísia, criada para enfrentar os abusos durante as décadas de governo autocrático da Tunísia.

O líder do Ennahdha, Rachid Ghannouchi, disse na terça-feira que seu partido é um alvo perfeito para culpar pela crise no país. À Associated Press, Ghannouchi declarou que seu partido está trabalhando para formar uma "frente nacional" para conter a decisão de Saied de suspender a legislatura, para pressionar o presidente e "exigir o retorno a um sistema democrático".

Ele admitiu que o Ennahdha, que foi acusado de se concentrar em suas preocupações internas em vez de controlar o coronavírus, "precisa se revisar, assim como as outras partes".

A Tunísia, berço da Primavera Árabe há uma década, quando protestos levaram à derrubada de seu líder autocrático de longa data, é frequentemente considerada a única história de sucesso dessas revoltas. Mas a democracia não trouxe prosperidade.

As reações às decisões de Saied foram diversas, com alguns esperando que tragam estabilidade e outros temendo que ele tenha concentrado muito poder.

Omar Oudherni, brigadeiro do Exército aposentado e especialista em segurança, disse que as ações do presidente, após um dia de protestos em todo o país, "puseram fim ao desenvolvimento da raiva … Esta decisão acalmou a situação e protegeu o Estado e os cidadãos, e até os partidos políticos governantes, da ira do povo."

Ele minimizou as preocupações de um retorno ao autoritarismo.

"O povo tunisino não silenciará sobre nenhum tirano" e resistirá se o presidente for longe demais, afirmou. "Fazendo o bem vai receber apoio, e se ele quiser a ditadura, o povo vai varrer como varreu os outros". (FONTE: ASSOCIATED PRESS)

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