Os passageiros dos 11 navios atracados neste domingo (7) no Píer Mauá, na zona portuária do Rio, enfrentaram demora, desorganização e estrutura improvisada, em uma área ainda cheia de obras. Cerca de 80 mil pessoas, segundo cálculos do governo fluminense, passaram pelo local e tiveram dificuldades no embarque e desembarque, atravessando com malas o canteiro de obras do VLT. A interdição de ruas próximas para desfiles de blocos e para deslocamento de carros alegóricos das escolas de samba aumentou os transtornos aos turistas que chegavam ou partiam da cidade. Até o fim da tarde, a Prefeitura do Rio e o Píer Mauá não tinham se pronunciado sobre os problemas.
Até o sábado (6), havia quatro navios no Píer Mauá. Neste domingo, chegaram outros sete. O número recorde de transatlânticos aumentou a espera para despachar ou receber bagagens e o processo chegou a levar até quatro horas, com filas que logo se transformaram em aglomerados de pessoas. Muitos passageiros reclamaram da falta de informações. Os estrangeiros também se queixaram da ausência de profissionais bilíngues no atendimento.
“A paisagem é linda, e a cidade está em festa, mas não tinha uma pessoa que falasse espanhol para nos ajudar a localizar a bagagem, o local da saída e orientar sobre como conseguir transporte para onde vamos ficar”, afirmou a arquiteta argentina Maria Susana Guerreiro, de 32 anos. Ela viajava acompanhada da irmã, Maria Eloisa Guerreiro, de 28 anos.
Além das dificuldades operacionais, a situação ficou mais complicada com o desfile de blocos de rua, como o Cordão do Boi Tolo, que passou pela Praça Mauá por volta das 9 horas. Com o aumento no volume de passageiros no terminal, o píer liberou a saída de turistas pela praça, que vive o seu primeiro carnaval depois das obras de modernização que incluíram a demolição do viaduto da Perimetral. No entanto, eles não encararam a multidão que festejava nas ruas próximas ao atracadouro. Uma funcionária da concessionária Porto Novo disse que vários tentaram voltar para os navios.
O casal Alexander Jacob, de 28 anos, e Raquel Novaes, de 27 anos, preferiu esperar a dispersão do bloco de carnaval para sair do Píer Mauá. Os dois vieram de Salvador para o Rio e encontraram problemas para conseguir um táxi.
“Está superlotado e não tem informação alguma. Encontrar as malas foi uma dificuldade no meio do tumulto lá dentro”, disse Jacob.
Do outro lado da Praça Mauá, a bancária Thais Manhães Chartuni, de 26 anos, também aguardou o fim do cortejo do Boi Tolo. “Era impossível ir para o embarque com essas malas no meio do carnaval”, afirmou.
O empresário Antônio Gaudio, de 60 anos, que é do Rio, esperou três horas para deixar o navio e mais uma hora para conseguir um táxi. “Nenhum veículo consegue chegar aqui porque a Avenida Venezuela está interditada para a passagem dos carros alegóricos, que saem da Cidade do Samba e seguem para a Avenida Presidente Vargas. Eu sei que estamos no carnaval e o hoje é o dia das escolas de samba, mas tinham que ter planejado melhor”, criticou.
Impedidos de chegar ao Píer Mauá pela Avenida Venezuela durante a manhã, vários taxistas deixaram os passageiros na Rodoviária Novo Rio, distante 2,7 quilômetros do local de embarque. “Fomos obrigados a caminhar pelo trajeto do VLT, carregando as malas sobre os trilhos e pisando nos materiais usados nas obras. E ainda passamos medo de sermos assaltados”, reclamou a carioca Marisa Alexandre Freitas, de 27 anos.
Os comandantes dos navios responsabilizaram a operação do píer pelos problemas. “Informavam a todo o momento que a demora era por problemas portuários, pois estava tudo certo com o navio. É um absurdo isso aqui. Não podem receber essa quantidade de embarcações se não têm capacidade. A previsão era atracar o navio às 9h30. Mas só consegui sair ao meio-dia”, disse o empresário Cláudio Rosemberg, de 50 anos. Ele acabara de chegar de um cruzeiro que passou por Buenos Aires, na Argentina, e Montevidéu e Punta del Leste, no Uruguai.
As horas gastas no procedimento de embarque irritaram o corretor de imóveis João Paulo Morais, de 34 anos. Ele pagou R$ 2,5 mil por um cruzeiro de cinco dias, incluindo paradas em Búzios e Santos.
“Já perdi um dia devido a essa confusão. Quero saber quem vai me recompensar por esses problemas”, afirmou. “Fizeram um sistema horrível para receber os passageiros. Eu peguei fila para deixar a bagagem e até tirei os pertences de valor, pois não tinham qualquer cuidado com as malas. Agora eu tenho que pegar uma senha para realizar o check in. Isso vai acabar no fim da tarde”, queixou-se.
A falta de sinalização e de funcionários para dar informações causou transtornos ao holandês Adrian Hubrecht. Seguindo as orientações que recebeu, ele foi até três navios e em todos descobriu que não se tratava daquele que tinha comprado passagem. O policial militar Hugo Freire, de 53 anos, não escondia a irritação com a falta de organização.
“Nota zero em logística. As pessoas chegam para o embarque pela mesma passagem improvisada que as pessoas usam para desembarcar. Fica gente indo e voltando em um espaço estreito, com crianças e idosos”, relatou.
De acordo com a concessionária Píer Mauá, cerca de 130 mil pessoal vão transitar pelo Terminal Internacional de Cruzeiros durante o carnaval, número que representa um aumento de 86% em relação ao evento no ano passado. A alta temporada teve início em novembro de 2015 e vai até abril deste ano. A concessionária prevê uma movimentação de 565 mil pessoas e uma injeção de US$ 169 milhões neste período.
Questionadas pelos transtornos para os passageiros, a Prefeitura do Rio e a administração do píer não retornaram aos contatos.