Perseverante e inspirado no desejo do pai, Luzimar Gonzaga, 31 anos, conhecido como Tyson Tigre, fez do boxe a sua história de vida e luta constante. Com um verdadeiro roncar, Tigre alcançou o título mundial da categoria super-médio pela WPC (Comissão Mundial de Pugilismo) e espera conquistar o título do Conselho Mundial de Boxe, denominado por ele de cinturão verde.
A trilha percorrida por Luzimar Gonzaga, o Tyson Tigre, até a conquista do título mundial, já como lutador da AGB (Associação Guarulhense de Boxe), teve inúmeros capítulos distintos e controversos. Aos 10 anos, sofreu a perda do pai, aquele exemplo que lhe serviu de inspiração para a prática do boxe. Aos 12 foi morar nas ruas, mas viu no esporte a alternativa para a própria inclusão social.
"O boxe salvou a minha vida. Não foi nem uma e nem duas vezes, foram várias. Ele foi lá e me resgatou. A minha força vem de Deus e do meu pai, onde quer que ele esteja nunca me deixou cair", disse Tyson Tigre, que ganhou esse apelio por nocautear seus adversários na sua primeira competição disputada, em Salvador, capital da Bahia, quando tinha apenas 14 anos.
Dificuldades apesar das vitórias
Enganam-se aqueles que pensam que as dificuldades na vida de Tyson Tigre acabaram mesmo depois das vitórias. Os rounds da vida estavam apenas começando e exigindo dele ótimo preparo para que pudesse superá-los a cada luta. Porém, um deles começava a ser solucionado. E além de vencer o folclórico lutador pernambucano, Luciano Todo Duro, Tyson teve a oportunidade de conhecer sua mãe aos 21 anos.
"Fiz a minha estreia como lutador profissional aos 21 anos em uma luta contra o Luciano Todo Duro e depois disso procurei a minha mãe para nos reconciliar. A encontrei nas proximidades da Ilha de Itaparica (local de infância) e até hoje nos mantemos em contato", revelou o campeão mundial de Boxe.
Com a vitória sobre Todo Duro não lhe faltaram convites para participar de novos embates. Após retornar de uma luta no Cazaquistão, conheceu o diretor da faculdade de direito de Ribeirão Preto, da USP (Universidade de São Paulo), Antônio Junqueira, que lhe ofereceu melhor estrutura para treinamento.
"Ele montou uma estrutura em sua casa no Morumbi para treinar, além de contratar um treinador. A minha luta estava marcada para acontecer dois dias antes do meu aniversário, mas infelizmente um AVC tirou a vida dele. Naquele momento pensei em desistir e parar de treinar".
Lutador atuou até como segurança de danceteria
Ainda lutando contra os obstáculos impostos pela vida, Tigre foi até segurança de danceterias, para sobreviver. Sem estímulo para competir em alto rendimento, ele resolveu lutar apenas pelo lado financeiro. "Realizei algumas lutas fora do País, mesmo sem treinar, somente pelo dinheiro, já que não conseguia emprego. O risco era muito grande. Buscava vencer por nocaute, mas acabava sendo nocauteado, mas o dinheiro era o suficiente para me manter", disse.
Reencontro com a carreira na AGB
Depois das grandes batalhas da vida, em 26 de agosto de 2011, o acaso lhe colocou de encontro com a Associação Guarulhense de Boxe e com o ex-atleta Arivaldo Silva. E ao aceitar o convite do gestor da entidade para voltar aos treinamentos, Tyson Tigre colecionou inúmeras conquistas em sua carreira.
"Cheguei por acaso na AGB e fui conhecer a academia quando encontrei o senhor Ari. Ele me disse que havia chegado quem ele estava esperando. Ele dizia que eu tinha potencial e que já era um campeão mundial. Por isso precisava voltar aos treinos", explicou.
A primeira luta representando a AGB aconteceu em dezembro daquele ano, em Curitiba, capital do Paraná, contra o boxeador Osmar Animal. "Eu tinha que atingir a marca de 78 quilos para a luta, mas para a minha surpresa a pesagem marcava 77, e no hotel, em Curitiba, coloquei os meus joelhos no chão e fiz uma promessa pra Deus, que se ganhasse aquela luta nunca mais iria parar com o boxe e cortar o cabelo. A luta que estava programada para durar 8 rounds durou apenas 4. No 1º ele já estava com três cortes no rosto e no 4º venci por nocaute técnico".
Para ele a luta mais emblemática de sua carreira não foi nenhuma de suas 31 vitórias, mas sim a única derrota desde que está na AGB, que poderia lhe valer a oportunidade de disputar o principal cinturão do Boxe mundial oferecido pelo Conselho Mundial de Boxe. O algoz foi o colombiano Alexandre Brandin, mas que além dele, Tyson também classifica o árbitro daquela luta como responsável por seu revés.
"No 3º round nocauteei o campeão latino, o colombiano Alexandre Brandin, mas fizeram de tudo para que eu não ficasse com aquela luta, tanto que no 5º round e já recuperado, ele me acertou um direto e desequilibrado o juiz disse que a luta tinha acabado. Até hoje o presidente do Conselho Mundial de Boxe, José Sulaiman, comenta os equívocos daquela luta sempre me encontra".
Em busca do título mundial
A glória de ser considerado campeão mundial estava muito próxima de ser alcançada por ele. Com a desistência de adversários em querer enfrentá-lo na luta pelo título mundial da categoria super-médio, coube ao argentino Lucas Damián, conhecido com "El Príncipe", 3º colocado no ranking latino-americano, desafiá-lo em fevereiro deste ano no Ring da AGB.
"Ganhei a luta por pontos em 12 rounds disputados. Foi uma luta dura e se não tivesse uma boa estratégia seria muito complicado vence-lo, até porque ele nunca havia sido nocauteado. A partir daí a minha vida começou a mudar, tanto que sou convidado constantemente para ministrar palestras e seminários em todo País".
Além do sonho de conquistar o que chama de "Cinturão Verde", em função dos dólares ofertados pelo Conselho Mundial de Boxe ao seu campeão, Tyson Tigre afirmou estar treinando forte para conquistar este propósito e desafiar novamente o colombiano que lhe impôs sua única derrota desde que chegou à AGB. Foram 9 vitórias em 10 lutas.
"Eu quero pegar ele de qualquer jeito. Ele terá que passar por mim, até porque quero o título do Conselho Mundial. Estamos trabalhando para trazer ele ao Brasil para lutar aqui na AGB ou em outro lugar. Caso ele não queira enfrentar, vou disputar o interino e conquistando este título será obrigado a lutar comigo ou me entrega o cinturão dele", encerrou.
Além de campeão mundial de Boxe na categoria super-médio pela Comissão Mundial de Boxe, Tyson Tigre ostenta as conquistas de Campeão Brasileiro, sul-americano, latino-americano e inter-americano.