Autoridades da Ucrânia iniciaram uma contraofensiva para retomar Kherson, ocupada pelas tropas russas no sul do país, onde militares ucranianos conseguiram expor as forças da Rússia ao destruir uma importante ponte da região. Ao mesmo tempo, Moscou lançou mísseis na área de Kiev pela primeira vez em semanas e também atingiu a região norte de Chernihiv, no que a Ucrânia disse ser uma vingança por sua resistência.
Citando o conselheiro presidencial, Oleksi Arestovich, a imprensa ucraniana disse que a contraofensiva para recuperar Kherson está em andamento, com as forças de Kiev planejando isolar as tropas russas, deixando-as com apenas três opções: "recusar, se possível, render-se ou ser destruídos". Utilizando os lançadores de foguetes de precisão fornecidos pelos Estados Unidos, a Ucrânia conseguiu derrubar na última quarta-feira, 27, uma importante ponte sobre o rio Dnieper.
Autoridades ucranianas e analistas militares ocidentais disseram que os ataques desta semana à ponte no Rio Dnieper e outras estradas e pontes críticas nos últimos dias deixaram as forças russas ao redor da cidade de Kherson particularmente expostas. Um relatório da inteligência britânica mostrou nesta quinta-feira, 28, que a principal força de combate da Rússia no lado oeste do rio "agora parece altamente vulnerável" por causa dos ataques na ponte.
"A cidade de Kherson, o centro populacional politicamente mais significativo ocupado pela Rússia, agora está praticamente isolada dos outros territórios ocupados", disse o relatório. "Sua perda prejudicaria severamente as tentativas da Rússia de pintar a ocupação como um sucesso."
Segundo militares ucranianos, ao menos três vilarejos já foram retomados nas últimas duas semanas. No entanto, segundo Oleksi Danilov, secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, os russos estão concentrando forças máximas na direção de Kherson, alertando: "Um movimento em grande escala de suas tropas começou".
Os russos estão agora enfraquecidos, mas estão fortalecendo e acumulando ativamente suas forças, disse um alto funcionário ucraniano que falou sob condição de anonimato ao New York Times para discutir avaliações militares sensíveis. Assim, disse o funcionário, a Ucrânia espera uma maior intensidade de ação militar por parte da Rússia.
A frente mais promissora para os ucranianos para quaisquer possíveis avanços está na parte ocidental de Kherson, onde são auxiliados pela geografia do país. O rio Dnipro percorre toda a extensão da Ucrânia, dividindo a nação em leste e oeste. A própria região de Kherson é dividida pelo rio, com a capital regional e a cidade portuária crítica de Kherson na margem ocidental.
O alto funcionário ucraniano disse que a Ucrânia tinha a chance de expulsar os russos de Kherson com armas e equipamentos adequados, mas ele se recusou a dizer se os suprimentos atuais eram suficientes para iniciar um esforço em larga escala.
Embora as armas ocidentais continuem a chegar ao país, elas são necessárias em várias frentes e a munição permanece limitada. As autoridades ucranianas estão cada vez mais frustradas com o que acreditam ser uma lenta caminhada de entregas de armas dos países ocidentais.
"Basta dar-lhes armas e deixá-los trabalhar", disse Natalia Gumeniuk, porta-voz do comando militar do sul da Ucrânia, responsável pela ofensiva de Kherson. "Eles nos dão um tapinha no ombro e dizem: Aguente firme. Precisamos de mais do que apenas apoio moral, embora sejamos gratos por isso. Precisamos de apoio real, armas reais, munição real para essas armas."
<b>Rússia ataca próximo a Kiev</b>
Enquanto isso, a Rússia disparou dezenas de mísseis contra alvos em toda a Ucrânia durante a noite de quinta-feira, 28, no horário local, incluindo 25 disparados de Belarus, de acordo com os militares ucranianos.
Moscou também atacou a região de Kiev com seis mísseis lançados do Mar Negro, atingindo uma unidade militar na Vila de Liutizh, nos arredores da capital, de acordo com Oleksii Hromov, um alto funcionário do Estado-Maior da Ucrânia. Segundo ele, o ataque arruinou um prédio e danificou outros dois, e as forças ucranianas derrubaram um dos mísseis na cidade de Bucha.
Quinze pessoas ficaram feridas nos ataques russos, cinco delas civis, disse o governador regional de Kiev, Oleksi Kuleba, que vinculou os ataques ao Dia do Estado, uma comemoração que o presidente Volodmir Zelenski instituiu no ano passado e a Ucrânia celebra nesta quinta-feira.
"A Rússia, com a ajuda de mísseis, está se vingando da ampla resistência popular, que os ucranianos conseguiram organizar precisamente por causa de sua condição de Estado", disse Kuleba à televisão ucraniana. "A Ucrânia já rompeu os planos da Rússia e continuará se defendendo."
Em outras partes do país, 5 pessoas morreram e 25 ficaram feridas em um ataque com foguete russo na cidade de Kropvinitski, cerca de 250 km a sudeste de Kiev, de acordo com o vice-governador da região de Kirovohrad, na Ucrânia, Andri Raikovich. Ele disse que o ataque atingiu hangares em uma academia de aviação, danificando aviões civis.
Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, também foi alvo de bombardeios durante a noite, de acordo com o prefeito. Autoridades disseram que um policial foi morto no bombardeio russo de uma usina de energia na região. A cidade de Mikolaiv, no sul, também foi alvejada, com uma pessoa ferida.
O governador regional de Chernihiv, Viacheslav Chaus, informou que os russos também dispararam mísseis de Belarus na Vila de Honcharivska. A região de Chernihiv não era alvo há semanas.
As tropas russas se retiraram das regiões de Kiev e Chernihiv meses atrás, depois de não terem conseguido capturar nenhuma delas. Os novos ataques ocorrem um dia depois que o líder dos separatistas pró-Kremlin no leste, Denis Pushilin, instou as forças russas a "libertar as cidades russas fundadas pelo povo russo – Kiev, Chernihiv, Poltava, Odessa, Dnieper, Kharkiv, Zaporizhzhia e Lutsk".
Na Província de Donetsk, que junto com Luhansk compõe a região do Donbas, no leste da Ucrânia, as tropas de Moscou continuam avançando perto de Siversk e Bakhmut. E, em Toretsk, um bombardeio russo deixou duas pessoas mortas e três pessoas puderam ser resgatadas dos escombros, disseram serviços de emergência locais.
A região, que a Rússia busca conquistar completamente, é parcialmente controlada por separatistas pró-russos desde 2014. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)