Ucrânia e EUA deram início, sob protestos da Rússia, a exercícios militares envolvendo mais de 30 países na região do Mar Negro, uma área que Moscou considera como sendo sua região de influência e cenário de atritos recentes envolvendo forças russas e ocidentais. O Brisa Marítima 2021 envolverá cerca de 5 mil militares, 30 embarcações e 40 aeronaves, prosseguindo ao longo de duas semanas. Durante a cerimônia de abertura, na cidade portuária de Odessa, o comandante da Marinha ucraniana, Oleksiy Neizhpapa, afirmou que os exercícios serviriam como uma "mensagem poderosa para manter a estabilidade e a paz em nossa região".
Para o governo de Kiev, esta será uma oportunidade para ganhar experiência em ações multilaterais, mas essa posição não é compartilhada pela Rússia, que vê a presença de militares estrangeiros (e de países rivais) no Mar Negro como uma afronta direta, ainda mais diante dos incidentes de segurança recentes na área.
Na semana passada, a passagem de um navio britânico pela costa da Crimeia provocou reações intensas em Moscou, Kiev e Londres.
De acordo com o relato russo, o contratorpedeiro HMS Defender avançou por três quilômetros em águas territoriais russas na costa da Crimeia, península anexada por Moscou após um referendo não reconhecido por boa parte da comunidade internacional – em resposta, segundo a Rússia, foram feitos disparos de advertência, e o navio mudou de curso. A embaixadora do Reino Unido chegou a ser convocada pela chancelaria russa para ouvir um protesto formal das autoridades locais.
Mas a versão britânica dos fatos foi diferente: segundo as autoridades, o navio passou por águas ucranianas, uma vez que Londres considera que a Crimeia ainda é parte da Ucrânia, e os disparos faziam parte de um exercício militar previamente agendado, ou seja, não foram direcionados à embarcação.
Além da questão marítima, Rússia e seus vizinhos a oeste, boa parte integrantes da Otan, a principal aliança militar do Ocidente, trocam acusações sobre as atividades militares no Mar Negro e nas áreas de fronteira.
No começo do ano, os russos aumentaram sua presença em áreas próximas ao Leste ucraniano, cenário de um conflito entre os militares locais e separatistas pró-Rússia. Em meio a críticas, Moscou afirmou que se tratava de um exercício programado, e, por sua vez, acusou a Otan de também reforçar suas posições em países como a Polônia, as nações bálticas e no próprio Mar Negro.
No caso dos exercícios iniciados nesta segunda-feira, 28, eles foram antecedidos por protestos formais da embaixada da Rússia em Washington, e por declarações do Ministério da Defesa russo afirmando que poderia reagir caso fosse necessário para "proteger sua própria segurança nacional".
Na sexta-feira, o país deu início a seus próprios exercícios, no Leste do Mar Mediterrâneo, onde tem uma base naval na Síria, com o uso de submarinos, navios de guerra, bombardeiros e, em destaque, caças MiG-31 carregando os novos mísseis hipersônicos Khinzal.
<b>Fim de parceria</b>
Em outro cenário de disputas entre a Rússia e o Ocidente, o governo da Bielorrússia suspendeu, nesta segunda-feira, sua participação na Parceria Oriental da União Europeia (UE), uma iniciativa do bloco para se aproximar de ex-repúblicas soviéticas.
Foi uma resposta às novas sanções impostas ao país depois da interceptação de um avião comercial, em maio, e a prisão de um jornalista dissidente, Roman Protasevich, e da namorada dele, a cidadã russa Sofiya Sapega, que estavam a bordo.
Os dois estão em prisão domiciliar desde a semana passada, e já apareceram na imprensa em algumas ocasiões "confessando" crimes contra o Estado, em declarações vistas como forçadas.
"Não podemos cumprir nossas obrigações correspondentes a este acordo no contexto de sanções e restrições impostas pela UE", indicou o chanceler bielorrusso, Vladimir Makei, afirmando ainda que o procedimento de suspensão da iniciativa já começou.
O representante da UE no país também foi "convidado" a retornar a Bruxelas e "transmitir aos seus dirigentes o caráter inaceitável das pressões e sanções".
Em resposta, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que a decisão era "um retrocesso" que iria aumentar as tensões entre Minsk e Bruxelas, além de ter um "impacto negativo no povo de Belarus, ao excluí-lo das oportunidades que nossa cooperação proporciona".
Vale lembrar que o regime comandado por Alexander Lukashenko desde 1994 já estava sob sanções por conta da repressão aos protestos contra os resultados da eleição de agosto do ano passado, que deu ao presidente o sexto mandato consecutivo, e sua permanência no cargo se deve muito ao apoio de Moscou. (Com agências internacionais).