Ebrahim Raisi, um juiz linha-dura chefe do principal tribunal do Irã, obteve uma vitória esmagadora nas eleições presidenciais do país. O resultado foi anunciado ontem e gerou protestos internacionais – ele é acusado de envolvimento na execução de milhares de prisioneiros em 1988.
O ultraconservador Raisi teve 61,95% dos votos no primeiro turno, de acordo com os resultados oficiais. A participação foi de 48,8%, a menor registrada para uma eleição presidencial desde a instauração da República Islâmica em 1979.
Parte da ausência das urnas ocorreu depois que os adversários mais fortes de Raisi foram impedidos de concorrer. Lideranças políticas de oposição pregaram boicote à disputa. Dos mais de 59 milhões de eleitores elegíveis, apenas 28,9 milhões votaram. Desses, cerca de 3,7 milhões anularam acidentalmente ou intencionalmente suas cédulas, muito além da quantidade vista em eleições anteriores e sugerindo que alguns não quiseram optar por nenhum dos quatro candidatos.
"O boicote dos eleitores provou ao mundo que o único voto das pessoas do Irã tinha a intenção de derrubar este governo medieval", disse em um comunicado a líder do Conselho Nacional de Resistência do Irã (NCRI), Maryam Rajavi.
Raisi tinha o apoio do guia supremo iraniano, o aiatolá Alí Khamenei, que celebrou a vitória do aliado. "A nação iraniana é a grande vencedor das eleições, porque se levantou outra vez contra a propaganda da imprensa mercenária do inimigo", disse.
A televisão estatal do país culpou a pandemia pela grande abstenção e as sanções impostas pelos EUA – o governo americano já havia sancionado Raisi pelo episódio de 1988. Ontem, logo após o anúncio do resultado oficial foi a vez da Anistia Internacional criticar o eleito.
"O fato de Ebrahim Raisi ter chegado à presidência em vez de ser investigado pelos crimes contra a humanidade de assassinato, desaparecimento forçado e tortura é um lembrete sombrio de que a impunidade reina suprema no Irã", disse a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnes Callamard.
O Irã nunca reconheceu as execuções em massa e o próprio Raisi nunca abordou publicamente as acusações sobre seu papel no episódio.
Pelos resultados oficiais, Raisi obteve 17,9 milhões de votos. O ex-comandante da Guarda Revolucionária de linha dura, Mohsen Rezaei, ficou em segundo lugar, com 3,4 milhões de votos. O ex-chefe do Banco Central, Abdolnasser Hemmati, um moderado visto como substituto do presidente Hassan Rouhani na eleição, ficou em terceiro, com 2,4 milhões. Amirhossein Ghazizadeh Hashemi foi o último com pouco menos de 1 milhão.
A quantidade de votos nulos, foi maior que a do segundo colocado, mas o ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, que anunciou os resultados, não explicou o alto número. As eleições em 2017 e 2012 tiveram cerca de 1,2 milhão de votos anulados cada. O Irã não permite que observadores eleitorais internacionais monitorem suas eleições. No país, o voto não é obrigatório, mas quem vota recebe selos em suas certidões de nascimento mostrando que compareceram à votação.
Hemmati, como os outros três candidatos, parabenizou raisi antes mesmo da divulgação oficial dos resultados. "Espero que seu governo forneça motivos de orgulho para a República Islâmica do Irã, melhore a economia e a vida com conforto e bem-estar para a grande nação", escreveu no Instagram.
"Espero poder responder bem à confiança, ao voto e à gentileza do povo durante meu mandato", disse Raisi em um breve comunicado.
<b>Eleição</b>
Desde que a Revolução Islâmica de 1979 derrubou o xá, a teocracia do Irã argumenta que suas sucessivas eleições são sinal da legitimidade dos governantes. Iranianos já tiveram até de participar de um referendo que termino com um resultado de 98,2% de apoio à República Islâmica.
A eleição de Raisi coloca os políticos linha-dura no controle do governo ao mesmo tempo que parte do Ocidente tenta salvar um acordo nuclear já esfarrapado que visa limitar o programa do Irã, em um momento em que Teerã enriquece urânio em seus níveis mais altos.
Raisi se tornou o primeiro presidente iraniano sancionado pelo governo dos EUA antes mesmo de assumir o cargo. O Departamento de Estado dos EUA não respondeu a um pedido de comentário.
"A ambivalência de Raisi sobre a interação estrangeira só vai piorar as chances de Washington persuadir Teerã a aceitar limites adicionais em seu programa nuclear, influência regional ou programa de mísseis, pelo menos no primeiro mandato de Joe Biden", escreveu Henry Rome, analista da o Grupo Eurasia que estuda o Irã.
Quase todos os presidentes iranianos cumpriram dois mandatos de quatro anos. Isso significa que Raisi pode estar no comando daquele que pode ser um dos momentos mais cruciais para o país em décadas. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>