A eleição portuguesa de domingo, 10, produziu um cenário cada vez mais comum que aflige os países parlamentaristas: um partido de extrema direita e antissistema que obtém votação suficiente para inviabilizar qualquer formação de governo. Em Portugal, o fenômeno da vez é o Chega!, que quadruplicou sua bancada no Parlamento. Seu líder, André Ventura, exigiu participar do próximo governo.
"Esta é a noite em que acabou o bipartidarismo em Portugal", disse Ventura, em discurso após a eleição. "Há no Parlamento uma maioria clara. Essa maioria é entre o Chega! e o PSD (Partido Social-Democrata, que lidera a coalizão centro-direitista Aliança Democrática)."
A matemática, no entanto, não é tão simples. A vitória da centro-direita foi apertada. A AD obteve 79 cadeiras de um total de 230, apenas 2 a mais que o Partido Socialista (PS). O Chega! elegeu 48 deputados e se tornou a terceira força política de Portugal. Com isso, de acordo com o cientista político André Azevedo Alves, da Universidade Católica de Portugal, há apenas três possibilidades para uma maioria estável.
A mais natural é uma coalizão entre AD e Chega!. O problema é que o líder da AD, Luís Montenegro, disse na campanha que não faria essa aliança – e reiterou a promessa depois da eleição. "Nunca faria comigo, com o meu partido e com Portugal tamanha maldade", disse.
A segunda alternativa seria uma coalizão da centro-direita com os socialistas, mas a possibilidade já foi descartada por Pedro Nuno Santos, líder do PS. A última saída – e a mais improvável – seria uma aliança entre PS e Chega!, o que nenhum dos dois partidos antagônicos sequer cogita.
"A menos que a AD mude de posição e Montenegro aceite um entendimento com o Chega!, o que resta é um governo minoritário", afirmou Alves. No curto prazo, ele poderia assumir, mas seria muito difícil, segundo o cientista político, a conclusão do mandato de quatro anos.
<b>Prazo</b>
A decisão está nas mãos do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que começa hoje uma série de reuniões com líderes partidários para escolher quem terá prioridade para negociar uma coalizão. Se não houver aliança, e Montenegro optar por um governo de minoria, ele pode cair diante do primeiro impasse legislativo. Nesse caso, novas eleições seriam marcadas em seis meses, no mínimo.
O cenário é parecido com o que ocorreu em vários países. A Itália viveu anos de impasse parecido, só resolvido quando o partido extremista de Georgia Meloni venceu as eleições, em 2022, moderou o discurso e formou um governo. Na Espanha, o Vox, também ultraconservador, ampliou a bancada e só não se tornou governo porque o parceiro natural de coalizão, o Partido Popular, de centro-direita, teve uma votação a baixo do esperado. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>